A inflação de 2012 ultrapassou as expectativas mais pessimistas. Foi de 5,84%, nível acima das projeções do Banco Central ─ organismo encarregado de empurrar a inflação para dentro da meta de 4,5%, com mais dois pontos porcentuais de tolerância.
Os números de dezembro também decepcionaram: inflação de 0,79%. Mais preocupante do que o tamanho da estocada é a maneira como a alta se espalha. Nada menos que 70,7% dos itens que compõem a cesta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acusaram aumento de preços em dezembro.
É uma situação clara de demanda mais forte do que a oferta de bens e serviços na economia. Nessas condições, o ajuste se dá por meio da aceleração de preços.
Ao longo de todo o ano passado, o Banco Central prometeu inflação mais baixa: 4,4%, em março; 4,7%, em junho; 5,2%, em setembro; e 5,7%, em dezembro. Contava com mais empenho do governo na administração das contas públicas.
Também durante todo o ano de 2012, o Banco Central avisou que um dos principais pressupostos para o controle dos preços num cenário de juros básicos (Selic) bem mais baixos seria o cumprimento da meta de austeridade orçamentária, de superávit primário (de 3,1% do PIB).
No entanto, agora se sabe, provavelmente o governo não terá observado nem um superávit de 2,5% do PIB. (Superávit primário é o pedaço da arrecadação separado para pagar a dívida.)
Tudo se passou como se a presidente Dilma Rousseff tivesse convocado o Banco Central para a derrubada dos juros: “Pode saltar daí de cima que garanto a rede de proteção fiscal aqui embaixo”. O Banco Central cumpriu a sua parte. Mas, depois do mergulho, não encontrou o equipamento combinado… e sofreu importantes escoriações.
Não foram convincentes as declarações feitas ontem, logo após a divulgação dos números oficiais, pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Em vez de reconhecer que o governo (e não só o Banco Central) falhou na entrega dos resultados a que se comprometera, preferiu dizer que, afinal, a inflação do último ano ficou abaixo do teto da meta e foi inferior à de 2011.
Tombini insistiu, ainda, em que a inflação manterá sua trajetória declinante em 2013 ─ mesmo sabendo que, desta vez, o governo não garante o cumprimento do superávit primário (cheio) de 3,1% do PIB; e que terá de enfrentar o custo crescente da mão de obra, a redução das renúncias tributárias (queda de impostos sobre veículos e aparelhos domésticos, por exemplo) e nova deterioração das expectativas.
Independentemente de tudo isso, três coisas estão claras: (1) quem, em última análise, comanda a política monetária (política de juros) é a presidente Dilma, não o Banco Central; (2) a atual prioridade do governo é garantir mais crescimento econômico e não o bom comportamento da inflação: e (3) apenas um descarrilamento dos preços levará o governo a puxar pelos juros.
Ficam duas dúvidas. A primeira é até que ponto o governo acionará as tais medidas macroprudenciais (maiores exigências na área do crédito, por exemplo) para compensar as deficiências das duas políticas de controle dos preços ─ monetária e fiscal. A segunda dúvida está em saber qual será o reajuste dos combustíveis que o governo está disposto a autorizar em 2013.
13 de janeiro de 2013
CELSO MING, Estadão
Os números de dezembro também decepcionaram: inflação de 0,79%. Mais preocupante do que o tamanho da estocada é a maneira como a alta se espalha. Nada menos que 70,7% dos itens que compõem a cesta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acusaram aumento de preços em dezembro.
É uma situação clara de demanda mais forte do que a oferta de bens e serviços na economia. Nessas condições, o ajuste se dá por meio da aceleração de preços.
Ao longo de todo o ano passado, o Banco Central prometeu inflação mais baixa: 4,4%, em março; 4,7%, em junho; 5,2%, em setembro; e 5,7%, em dezembro. Contava com mais empenho do governo na administração das contas públicas.
Também durante todo o ano de 2012, o Banco Central avisou que um dos principais pressupostos para o controle dos preços num cenário de juros básicos (Selic) bem mais baixos seria o cumprimento da meta de austeridade orçamentária, de superávit primário (de 3,1% do PIB).
No entanto, agora se sabe, provavelmente o governo não terá observado nem um superávit de 2,5% do PIB. (Superávit primário é o pedaço da arrecadação separado para pagar a dívida.)
Tudo se passou como se a presidente Dilma Rousseff tivesse convocado o Banco Central para a derrubada dos juros: “Pode saltar daí de cima que garanto a rede de proteção fiscal aqui embaixo”. O Banco Central cumpriu a sua parte. Mas, depois do mergulho, não encontrou o equipamento combinado… e sofreu importantes escoriações.
Não foram convincentes as declarações feitas ontem, logo após a divulgação dos números oficiais, pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Em vez de reconhecer que o governo (e não só o Banco Central) falhou na entrega dos resultados a que se comprometera, preferiu dizer que, afinal, a inflação do último ano ficou abaixo do teto da meta e foi inferior à de 2011.
Tombini insistiu, ainda, em que a inflação manterá sua trajetória declinante em 2013 ─ mesmo sabendo que, desta vez, o governo não garante o cumprimento do superávit primário (cheio) de 3,1% do PIB; e que terá de enfrentar o custo crescente da mão de obra, a redução das renúncias tributárias (queda de impostos sobre veículos e aparelhos domésticos, por exemplo) e nova deterioração das expectativas.
Independentemente de tudo isso, três coisas estão claras: (1) quem, em última análise, comanda a política monetária (política de juros) é a presidente Dilma, não o Banco Central; (2) a atual prioridade do governo é garantir mais crescimento econômico e não o bom comportamento da inflação: e (3) apenas um descarrilamento dos preços levará o governo a puxar pelos juros.
Ficam duas dúvidas. A primeira é até que ponto o governo acionará as tais medidas macroprudenciais (maiores exigências na área do crédito, por exemplo) para compensar as deficiências das duas políticas de controle dos preços ─ monetária e fiscal. A segunda dúvida está em saber qual será o reajuste dos combustíveis que o governo está disposto a autorizar em 2013.
13 de janeiro de 2013
CELSO MING, Estadão
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