A "ECONOMISTA" 1,99 promove festa Trash na economia
A Trash 80's é uma
popular festa paulistana cujo objetivo é reviver o ambiente dos anos
1980.
A similar no Rio de
Janeiro é a Festa Ploc - em referência a um antigo chiclete. Com dancinhas
nostálgicas e até mesmo fantasias de personagens da época, o público relembra,
com espírito escrachado, uma década tida como "cafona" ou "trash" (palavra
inglesa para designar aquilo que é ruim, mas tem graça).
Curiosamente, em
Brasília está em curso outro revival daqueles tempos de excessos. Se as festas
musicais são inofensivas, a presidente Dilma Rousseff e sua equipe econômica
parecem interessados em recuperar o lado perigoso dos anos 1980: o da falta de
rigor no controle da inflação, das políticas econômicas de curto prazo e
emergenciais, do protecionismo e do
intervencionismo.
O Brasil mudou - e
muitas das antigas doenças econômicas foram sanadas.
Mas o risco de repor
em prática velhos conceitos da chamada escola desenvolvimentista, na vã
esperança de que agora eles possam render frutos, continua alto.
Em 1989, o economista
Roberto Campos deu uma entrevista a VEJA
tratando, com a lucidez que lhe era
peculiar, dos problemas que travavam o avanço do Brasil à época. Dizia
Campos:
“o estado se infiltra
em toda a vida produtiva para atrapalhar. Criam-se obstáculos inimagináveis à
importação, exigindo-se licença prévia para a compra no exterior (...) quando
essa licença é uma coisa em desaparecimento no mundo”.
O economista criticou
o intervencionismo e o protecionismo, além de ironizar os entraves em vigor para
a entrada de capital estrangeiro. “No Brasil, inventam-se ainda dificuldades
enormes para a entrada do capital estrangeiro, como se estivéssemos nadando em
dinheiro.
Protegem-se certos
setores, como a informática, da concorrência externa - e o que resulta disso é
que o consumidor tem de engolir produtos de qualidade inferior e preço superior
aos do mercado internacional”, disse. Apesar de ter ocorrido há mais de 20 anos,
a entrevista poderia ser publicada nos dias de hoje sem que as análises de
Campos soassem anacrônicas.
Nos anos 1980, quando
o "dragão inflacionário" assolava a economia brasileira – em 1989, a inflação
alcançou 1.764% ao ano – a presidente Dilma Rousseff, graduada em economia, se
exercitava na política do Rio Grande do Sul. Em 1986, Dilma foi nomeada
secretária da Fazenda de Porto Alegre, o que significa que ela tinha de lidar
com as implicações da crise que flagelava o país. Mas essa experiência parece
não a ter convencido de que os remédios então testados são ineficazes.
Desenvolvimentismo em
xeque - Ao intervir no setor produtivo por meio de Medidas Provisórias e
recorrer a artifícios protecionistas como as barreiras à importação, o governo
Dilma reergue bandeiras do pensamento desenvolvimentista que nasceu na era
Vargas e se manteve em voga até o final dos anos 80.
“A orientação que
está sendo passada agora pelo governo é muito alinhada com o que tinha a
ditadura, que se estendeu até 1985. Naquela época, o capitalismo de estado era
forte, com participação direta das estatais, que serviam como veículos do
governo para movimentar a economia”, diz Sérgio Lazzarini, professor do Insper e
autor do livro Capitalismo de Laços (Campus Elsevier).
Outra praga dos anos
80 foram os planos ou "pacotes" que mexiam com variáveis da economia em busca de
soluções mágicas - e se enfileiram, em retrospecto, num rosário de fracassos. Em
2012, o governo interveio abertamente no câmbio, na indústria e na taxa de
juros, na intenção de insuflar o crescimento no país. Em dezembro, a Selic
fechou o ano na mínima histórica de 7,25%, enquanto o dólar subiu a 2,10
reais.
Desenvolvimentistas
acreditam que juros baixos e câmbio desvalorizado sejam a base para um Produto
Interno Bruto (PIB) invejável. Mas o resultado não veio como esperado - e
o PIB não deve crescer mais do que
1%. "A maior lição dos anos
1980 é de que o governo deve buscar políticas de estímulo à produtividade, e não
medidas de curto prazo", afirma Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e
sócio da Tendências Consultoria.
"Elas acabam multiplicando as distorções e os obstáculos ao crescimento."
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13 de janeiro de 2013
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