"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 13 de janeiro de 2013

"CADEIA VIP"


Na cadeia VIP, sushis e charutos custariam uma fortuna, e parte do dinheiro roubado seria recuperada
A iniciativa privada tem em seus planos construir e gerenciar presídios. Ótimo; assim nossos presidiários poderão ter vida mais digna. É natural que um grande empresário que não agiu de acordo com a lei, cumpra pena em local condizente com sua situação social. As prisões poderão ser de vários tipos, de uma a cinco estrelas, essas para pessoas mais ilustres, mas em todas a hospedagem deverá ser paga. Então aí vai minha pequena colaboração, para que os anos passados longe do convívio dos seus próximos sejam menos dolorosos.

As prisões cinco estrelas teriam suítes de luxo, todas com TV, mas onde só seriam exibidas minisséries, novelas e filmes; proibidos os programas jornalísticos, para que não possam acompanhar o que está se passando no mundo (e se inspirar para novos negócios). Jornais, computadores e celulares seriam proibidos e em matéria de imprensa, só a revista "Caras", para que eles vejam o que estão perdendo.

A diária seria cara, mas isso não seria problema, claro. Haveria muito conforto: sala de ginástica, churrascaria, um bistrot francês e um sushi bar. Eles teriam que passar o dia sós, dentro de seus aposentos - afinal, prisão é prisão-, mas a partir das 7 da noite poderiam se reunir para conversar e até jantar juntos; bebida alcoólica, liberada às visitas, só nos fins de semana. A vida dos detidos não seria ruim; eles teriam direito a quase tudo, menos à liberdade, mas esse quase tudo seria muito caro.

Cada coca-cola, cada sushi, cada camisa lavada e passada, cada charuto cubano, cada roupa de cama trocada custaria uma verdadeira fortuna, e assim parte do dinheiro ganho de maneira desonesta poderia ser recuperada; a única obrigação que teriam seria assistir a uma aula diária de Moral, para aprenderem o mais elementar: que roubar um banco ou o dinheiro do Estado é a mesma coisa, e que "dar uma tacada" ou "fazer um negócio" pode ser tão grave -ou mais- quanto assaltar uma pessoa na rua com um revólver na mão.

Os presidiários deverão trabalhar enquanto estiverem presos, e o estabelecimento seria administrado exatamente como qualquer empresa. O mais inteligente seria o presidente, e escolheria seus colaboradores: quem cuidaria da tesouraria, ou das relações públicas, e haveria sempre alguém para descolar um iPad ou uma garrafa de whisky; tudo pago em dinheiro, cash, e sem recibo, porque são essas manias de assinar cheques e dar recibos que acabam na Justiça.

As empresas ganhariam muito dinheiro administrando essas prisões; tanto, que não precisariam mais de contratos com o governo para construir pontes, estradas, estádios de futebol, trem-bala e aeroportos.

E assim, quem sabe, teríamos um país mais decente.
-
Paris 1 - Os parisienses antenados não vão mais ao Café de Flore -são turistas demais. Seus encontros agora são marcados no Café Bonaparte, bem pertinho, na praça da igreja de St. Germain, e se você quer parecer que sabe das coisas, já sabe: encontros, só no Bonaparte.

Paris 2 - Se você fizer uma comprinha na Cartier, seja uma pulseira de 300.000 euros ou algo mais importante, não pense que vai sair exibindo a sacolinha vermelha com o nome Cartier em dourado. É assim: a jóia é colocada na sacolinha vermelha, que por sua vez é colocada dentro de uma sacola branca, para que ninguém tenha a tentação de roubá-la. Chique, não?

Paris 3 - Para jantar na Maison du Caviar -950 euros as 100 gramas do beluga gros grains- é preciso reservar, pois a casa está sempre cheia, sobretudo de armênios e russos.

Paris 4 - Mas para quem não liga para caviar, Paris é o lugar. O preço dos restaurantes é quase ridículo, perto dos do Rio e de SP, e da qualidade, nem falemos.

13 de janeiro de 2013
Danuza Leão, Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário