Empresas petrolíferas valem mais pelas reservas de óleo e gás - provadas e prováveis - que serão exploradas e assegurarão as receitas futuras do que pela capacidade de refino, que pode fortalecer suas receitas presentes, mas é pouco lucrativa. O que se constata no Brasil é que os investimentos em abastecimento, que inclui o refino, foram mal-sucedidos. Não acompanharam as projeções de demanda e ajudam a explicar o vultoso déficit decorrente da importação de derivados de petróleo, previsto para toda a década.
Entre 2006 e 2011, os investimentos da Petrobrás em abastecimento aumentaram cerca de 750%, de US$ 1,9 bilhão por ano para US$ 16,1 bilhões, enquanto os investimentos em exploração e produção cresceram menos de 200%, de US$ 7 bilhões para US$ 20,4 bilhões, segundo dados da estatal. Em 2011, a área de abastecimento da Petrobrás teve prejuízo operacional de US$ 14,5 bilhões. Entre 2011 e 2012, mais que dobrou o prejuízo líquido consolidado da área: de US$ 5,718 bilhões passou para US$ 11,718 bilhões, conforme os dados distribuídos pela empresa.
A capacidade de refino da Petrobrás é, hoje, da ordem de 2 milhões de barris/dia de petróleo, inferior ao consumo. "Estamos sempre correndo atrás do mercado", disse ao jornal Valor o diretor de Abastecimento da Petrobrás, José Carlos Cosenza. O déficit é estimado em 250 mil a 300 mil barris/dia e só tende a crescer. O aumento da eficiência das refinarias, da ordem de 5%, entre 2011 e 2012, só diminuiu a gravidade do problema.
Para eliminar o déficit entre produção e consumo, o Brasil depende da conclusão de refinarias em fase de construção. A Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, com capacidade de processar 230 mil barris/dia, só entrará em operação entre novembro de 2014 e maio de 2015; e o Comperj, com 165 mil barris/dia, em abril de 2015. Mas elas estão atrasadas, bem como os projetos de construção das Refinarias Premium I (600 mil barris/dia, no Maranhão), Premium II (300 mil barris/dia, no Ceará) e a segunda etapa do Comperj (300 mil barris/dia). O equilíbrio entre oferta e procura, estimadas em 3,6 milhões de barris/dia, foi transferido para 2022.
Com lucros em declínio, a Petrobrás está incumbida pelo governo de fazer mais do que pode. Seria mais fácil se a opção fosse atrair capitais para a exploração e a produção, com as regras antigas e mais flexíveis, que foram abolidas nas áreas do pré-sal.
O setor de petróleo depende de planejamento rigoroso para trabalhar com segurança. A situação do refino indica que isso não ocorreu.
18 de fevereiro de 2013
Editorial do Estadão
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