Dia 21 de abril, cinco horas de uma manhã nebulosa. Olhando o passado, tomamos emprestados trechos da Carta de São João d'El Rey, sentindo o frio do presente e projetando nossos sonhos para o futuro.
"Sob o olhar severo e sereno de Tiradentes, que nos espia através das figuras de pedra e sonho do Aleijadinho, cercados pelo espírito de Vila Rica e pelo ferro do chão de Minas, queremos pensar o Brasil. Vivemos "como escravos acorrentados ao tronco do tempo", caminhando em silêncio por duzentos anos e "arrastando pelas estradas do Brasil o pesadelo" de uma independência frustrada. A senha para a conflagração era "Tal dia é o batizado". Pela traição, não se celebrou o batizado, mas a senha célebre permaneceu no tempo e hoje, mais uma vez, retomamos o sonho de liberdade.
Dos recantos de Minas, "esculpido no espírito e enevoado de ferro", foi lançada a nova senha: "Tal dia é o casamento." O Brasil, pela traição de ontem e de hoje, ficou pagão de liberdade, pela amargura de um batizado que não houve e pela entrega do nosso povo a uma criminosa inquisição estrangeira. Agora precisamos realizar "o casamento essencial do Estado com a Nação, do Povo com a Independência, do Futuro com a Soberania".
Anima-nos o espírito da Inconfidência, que foi o fato maior, a viga-mestra da nossa História, e não haverá corda capaz de "enforcar o sonho de um povo que vislumbrou a grandeza do seu futuro, apontado pela mão pioneira" do nosso Herói maior. Do alto de cada mastro, onde há uma bandeira, ainda pende a cabeça de Tiradentes, gritando para todos nós e nos chamando para a luta, para que este povo acorde dessa letargia após dois séculos de silêncio e passividade. De cada um de nós dependerá o momento em que "Tiradentes vai recuperar sua cabeça!" Enfrentando os "Silvérios de todos os matizes, ostensivos ou encapuzados, a Inconfidência está de volta e veio para vencer".
O Brasil esmagará os Barbacenas e as Marias-Loucas, de dentro e de fora, e participará dos momentos decisivos de uma luta secular: a luta entre os dois Joaquins que marcaram nossa História. Os brasileiros dignos estão com o primeiro, o Xavier, enquanto os traidores e negadores do Brasil estão com quem sempre estiveram, "com o Silvério, que era dos Reis, enquanto o outro era do povo".
Agora, surge diante de nós a nova Inconfidência, amadurecida pelo tempo e forjada na luta da resistência de um povo explorado e sacrificado contra os traidores, os Silvérios de sempre. E o que pretende a nova Inconfidência? "O mesmo que pretendia a outra: a libertação do Brasil". Falhou a Inconfidência original porque a derrama foi suspensa pelo aviso da traição; esta agora não poderá falhar, porque a derrama vem se consumando a cada dia, "e já nosso ouro é levado, aos borbotões, no amaldiçoado "quinto" dos juros sem contenção".
Naquela época "éramos sub-colônia de uma colônia. Hoje somos colônia de um duplo colonialismo: um externo, que nos devora até às vísceras pelo canibalismo monetário; outro, interno, que nos imobiliza na inação, pela cumplicidade das lideranças arcaicas, carcomidas pela incompetência". Este é o lugar e este é o momento "para que seja retomada a inconfidência mineira, agora num patamar mais alto, para que ela se desenrole como a Inconfidência Brasileira". O Brasil ainda é uma Nação enforcada. "Enforcada pela mesma mão e pela mesma corda que enforcaram Tiradentes: a mão e a corda da dominação estrangeira".
Pela nova Inconfidência, "começamos a desapertar este nó: Tiradentes vai recuperar sua cabeça e o Brasil vai encontrar seu destino". Nos caminhos de Minas, "a luz mortiça dos lampiões, iguais aos que guardaram os passos furtivos dos conspiradores da liberdade e choraram a morte atropelada do Herói da Independência", ainda guardam o sonho de liberdade. "Não basta chorar o Mártir: é urgente retomar-lhe os passos". "Por isto e para isto é que estamos aqui", trabalhamos todos os dias, levamos nossa mensagem aos quatro cantos "para dizer ao Brasil que a Inconfidência continua e que Tiradentes não morreu". "Os inconfidentes queriam a liberdade; nós queremos a libertação. Eles contavam com alguns padres; nós temos uma Teologia. Eles sonharam o Brasil; nós vamos construir uma Nação".
A Revolução Brasileira precisa começar e deverá ser feita "em palanques, e não em patíbulos". "Abriremos nosso caminho à força de nossos anseios, porque o futuro é a nossa bússola, o progresso é o nosso barco e a liberdade é o nosso porto". Mas será preciso ter coragem para lutar, esclarecer a consciência e unificar o nosso povo. Será preciso despertar a Nação para a urgência desta missão.
A senha era "Tal dia é o batizado!". Agora será "Tal dia é o casamento!". Mas é preciso não perder tempo e fazer enquanto antes "o casamento do Estado com a Nação, do Povo com a Independência, do Futuro com a Soberania". Precisamos marchar com a responsabilidade que o passado nos legou e que o presente está a nos cobrar todos os dias, antes que o futuro nos seja negado pelos Silvérios que também não morreram e que a cada dia nos entregam à dominação estrangeira. Não podemos assumir duas posições nem podemos deixar de ver a realidade. Ou estamos com Joaquim José da Silva Xavier - o Heróico Tiradentes, ou estamos com o traidor Joaquim Silvério dos Reis e com todos os Silvérios que dominam o panorama político brasileiro.
Que cada um seja digno da nossa nacionalidade e do nosso passado para que possamos cumprir com dignidade o fechamento da missão, como ensina a Carta de São João d'El Rey. Ontem, colônia. Hoje, satélite. Amanhã, BRASIL.
21 de abril de 2013
Carlos José Pedrosa
Artigo escrito, originalmente, no final de agosto de 2000 e reescrito, em abril de 2001, para se adaptar à data de 21 de abril.
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