"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 21 de abril de 2013

O RESGATE DA FIGURA DO EX-PRESIDENTE


Dizem que ninguém considera o ex como alguém importante. E, para resgatar o papel social dessa figura, foi criado o dia do ex-namorado – aliás, comemorado ontem. Como exatamente foi a comemoração, é difícil de dizer, mas as mensagens pelo Twitter não foram poucas. Ou seja, homenagem tal como merece todo ex-namorado: respeitosa e à distância.



Mas, se nas relações afetivas, o ex está cada vez mais desvalorizado, na política brasileira, ex é quase tudo. Não se trata do retorno dos próprios, mas da volta dos discursos deles. Coisa de ventríloquo. Um personagem aparece, mas é outro quem fala.

Os dois partidos que devem polarizar a eleição de 2014 – PT e PSDB – vivem situações muito semelhantes. Ambos avaliam que resgatar os tons dos discursos de seus ex-presidentes, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, respectivamente, é uma boa estratégia eleitoral.

O PSDB tem se mostrado muito preocupado com a herança deixada por Fernando Henrique Cardoso. O partido quer mostrar que tudo o que Lula fez somente foi possível porque o tucano deixou bases sólidas. E, para o PSDB, a estabilidade da moeda é o principal legado.
Os tucanos avaliam que, após a derrota para Lula, eles próprios esqueceram o legado de Fernando Henrique Cardoso, que teria sido apropriado pelos petistas.
E, depois de mais duas derrotas consecutivas diante do PT, agora, o partido quer mostrar que foi na gestão do sociólogo que tudo começou. O tudo se refere ao desenvolvimento econômico e social.

BANDEIRAS DE AÉCIO

Certamente, o futuro candidato tucano à Presidência, que deve ser o senador mineiro Aécio Neves, vai incluir em sua campanha algumas bandeiras, como a privatização, a redução do papel do Estado na economia, a diminuição da máquina administrativa – marcas da gestão de Fernando Henrique Cardoso.

Pelo lado petista, nenhuma novidade. A presidente Dilma Rousseff vai tentar a reeleição com aquele mesmo discurso de seu padrinho político. Prioridade para as questões sociais, manutenção de baixa taxa de juros e combate à inflação com criação de empregos por meio de ampliação dos investimentos públicos e privados.
As propostas estiveram na ponta da língua de Lula nas suas duas eleições e também na última, quando Dilma foi eleita.

A grande dúvida é como o eleitorado vai reagir ao retorno do discurso tucano e à manutenção da plataforma petista. O fato é que nenhum dos dois lados deve apresentar grandes novidades.

Considerando a máxima popular que diz que “figurinha repetida não completa álbum”, é possível que haja rejeição às duas propostas e, consequentemente, as imagens dos ex-presidentes já não consigam provocar o eleitorado como nas eleições anteriores. Afinal, ex é ex, mesmo quando se trata de presidente.

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