"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 27 de abril de 2013

JOAQUIM BARBOSA: DE TIRAR O CHAPÉU



Os incomodados que me perdoem, por insistir em batucar na mesma tecla, mas nestes últimos sete dias de outono no Brasil – falsamente esquentados pelo simulacro de crise entre Legislativo e Judiciário - deu Joaquim Barbosa na cabeça mais uma vez.

Assim como na semana passada, o presidente do Supremo confirmou, dentro e fora do País, um desempenho invejável em múltiplas situações: no segundo e revelador episódio da conversa, na televisão, com o ator e apresentador Lázaro Ramos, no programa “Espelho”(Canal Brasil); na palestra jurídica na Universidade de Princeton (Nova Jersey) e no ato social e político do jantar de gala da revista Time, em Nova Iorque, no qual recebeu o diploma de uma das 100 mais influentes personalidade do mundo.

Uma performance de dar inveja (e muitos ciúmes) em tarimbados nomes da justiça e da política. Ou até mesmo no cada dia mais vasto, volúvel e mutante cenário das “celebridades” nacionais e internacionais em outras esferas, que pululam aqui dentro e lá fora, à procura de holofotes.

Tivemos Lewandowisk também, é verdade. Não o nosso jurista do Mensalão, de atuação sofrível, para dizer o mínimo. Refiro-me ao craque de bola polonês que brilha ultimamente no futebol da Alemanha. Quarta-feira (24) ele espantou o mundo ao enfiar quatro gols na lavagem que o time do Borússia Dortmund aplicou no Real Madri, pela Taça dos Campeões da Europa.

Nesse caso, prefiro esperar um pouco mais e verificar se o novo fenômeno confirma a performance no jogo de volta, na próxima semana, no estádio Bernabeu, em Madri.

Assim, não vejo como nem quero fugir do tema de abertura deste texto de opinião. O reconhecimento da atuação do ministro Joaquim Barbosa e da sua relevância sob múltiplos aspectos, a começar pelo jornalístico.


O chef Alex Atala e o ministro Joaquim Barbosa em festa da revista Time.
Foto: Getty Images
Fugir disso só seria possível, estou convencido, através da omissão, tapeação ou escamoteando a verdade com uso de tantos disfarces quantos os utilizados pelo ator LonChaney, o incrível homem das mil e uma faces, no tempo do cinema mudo.

O ministro Joaquim Barbosa, repito sem temor de estar cometendo uma injustiça, é de novo grande personagem da justiça e da política do País nos últimos sete dias. Com ecos internacionais retumbantes, talvez e injustificadamente, mais até que em seu próprio país.

Afinal, diante de seus atos e palavras ao transitar entre o Brasil e os Estados estes dias, ele ocupou até os principais espaços da campanha antecipada para a sucessão da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014.

Fato é fato. “Sua Excelência a quem se deve tirar o chapéu”, já recomendava Ulysses Guimarães, um mestre imortal da arte de fazer política. No jornalismo, então, o fato é o soberano supremo e, quando “Sua Excelência” se apresenta, nítido e transparente como neste caso, não adianta tergiversar ou escamotear diante dele. Quem o fizer, ou simplesmente tentar, corre sério perigo de se esborrachar e perder credibilidade - a maior das desonras e vergonhas na profissão.

Sob o ponto de vista factual, a semana foi quase completa para o “Chefe da Justiça do Brasil”, como definiu a qualificada Universidade de Princeton no convite aos seus estudantes, professores e convidados para a palestra do presidente do STF na terça-feira, 23.

Horas mais tarde, no mesmo dia em que começou a correr o prazo para que as defesas dos condenados no processo do Mensalão apresentem seus recursos, o presidente do STF brilharia sob luzes ainda mais intensas do outro lado do oceano Atlântico.

Em Nova York, transitou sobre tapete vermelho para receber o seu diploma na cerimônia de gala que marca, há uma década, a edição da revista “Time” com a aguardada lista das 100 pessoas mais influentes do planeta. Na honrosa relação deste ano, o nome do chefe do Judiciário brasileiro aparece ao lado de figuras como o papa Francisco, a jovem ativista paquistanesa Malala Yousafzai e o cineasta Steven Spielberg.

“É uma honra extraordinária para mim, para o órgão ao qual eu pertenço e para o meu país”, disse sinteticamente o ministro, que ontem desembarcou de volta ao Brasil. No meio do ruidoso bafafá verbal Congresso x Judiciário, artificialmente provocado sabe-se lá por quem e com quais submersos interesses.

A propósito, vale lembrar o que disse o ministro no segundo episódio do “Espelho” do Canal Brasil, quando o baiano Lázaro Ramos quis saber da “fama de objetividade” do ministro no meio jurídico.
“Acho isso muito importante, mais ainda no Direito, onde você pode resolver grandes problemas em um parágrafo. Uma frase muito bem feita. Mas esta não é a cultura brasileira. A cultura brasileira é a do palavrório. Falar, falar e não dizer nada. Eu tenho horror a tudo isso'."
De tirar o chapéu, ministro Joaquim!

27 de abril de 2013
Vitor Hugo Soares é jornalista

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