Apesar do agravamento da tensão na terra indígena ianomâmi, na Amazônia, o rei Harald 5º da Noruega ignorou apelos de autoridades brasileiras e foi visitar a área.
Na semana passada, quatro índios foram mortos e sete ficaram feridos à bala em um conflito entre tribos, que estão sendo armadas por garimpeiros em troca de autorizações para lavra ilegal.
Ainda que não tenha caráter de missão oficial, a visita do rei, de 76 anos, demandou atenção da Polícia Federal, da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Itamaraty.
Primeiro houve um pedido para que ele desistisse da empreitada. Diante da negativa, PF e Funai deslocaram servidores para acompanhar a estada, que começou na segunda-feira passada e terminou na madrugada de hoje.
O rei, segundo a Funai, ficou na aldeia Demini, no Amazonas, a cerca de 150 km do local dos conflitos mais recentes em Roraima.
Foi conhecer projetos financiados pela Noruega - um deles é para instalar rede de comunicação via rádio nas aldeias.
Situada na fronteira entre Brasil e Venezuela e com 96 mil quilômetros quadrados, área maior que Portugal, a terra indígena tem 279 aldeias e 21,5 mil ianomâmis, que vivem em tensão com garimpeiros e fazendeiros.
Cerca de 1.600 garimpeiros estariam dentro da reserva em busca de ouro. A PF retirou cerca de 600 deles em 2012, mas muitos voltaram devido à falta de fiscalização, segundo a Hutukara Associação Yanomami (HAY).
A entidade informou que o rei foi recebido na aldeia Demini pelo líder ianomâmi Davi Kopenawa, mas não deu mais detalhes sobre a visita.
"O grande líder [Davi] convidou o rei para visitar nossa terra, conversar e trocar ideias. A terra ianomâmi tem vários problemas com garimpeiros e fazendeiros. Mas o povo ianomâmi é respeitoso", disse, de Boa Vista, o índio Dário Kopenawa, filho de Davi e integrante da HAY.
A associação fechou acordo com a Noruega em 2008 para recebimento de R$ 300 mil para ações em saúde e educação na terra indígena.
A Embaixada da Noruega em Brasília informou que o rei sempre sonhara em viajar para a Amazônia. "Agora, aos 76 anos, ele conseguiu realizar este sonho", disse Elisabeth Forseth, encarregada de negócios.
A reportagem apurou que a viagem pode fazer parte dos preparativos da Embaixada da Noruega para a celebração dos 30 anos do Programa de Apoio aos Povos Indígenas no Brasil, completados neste ano.
Nenhum órgão federal nem a associação souberam dizer quantas pessoas acompanham o rei na visita.
A Funai disse que autorizou a entrada da comitiva real na reserva atendendo a um pedido dos índios.
O órgão informou que a comitiva cumpriu exigências como apresentação de atestados individuais de vacina contra doenças endêmicas.
A PF confirmou que fez a segurança do rei, mas não informou o número de policiais envolvidos na operação.
O índio Dário Kopenawa, disse que a viagem foi boa para o "espírito" de Harald 5º. "O rei já foi embora. Ele realizou o sonho dele, foi bom para seu espírito."
Fonte:Folha de São Paulo
COMENTO: o valor de R$ 300 mil (uma merreca em termos governamentais) não permite dizer que o rei veio verificar o seu "investimento".
Mas é estranhável a persistência no interesse do visitante em ir conhecer o local.
E mais estranho, ainda, o fato da Polícia Federal, que acompanhou o visitante proporcionando-lhe segurança, não saber dizer quantas pessoas acompanharam o visitante, nem os assuntos tratados com o "grande líder" dos botocudos, sendo que as únicas informações a respeito do fato, foram divulgadas pelo filho do "grande líder", membro de uma Associação Ianomami.
27 de abril de 2013
por Kátia Brasil de Manaus
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