Os índices de inflação vêm se mantendo acima do centro da meta estabelecida pelo governo (4,5%) nos últimos anos e, por diversos motivos, as autoridades econômicas deram demonstrações de que seria possível viver nesse ambiente, com a promessa de que tudo poderia ser resolvido mais à frente.
Na prática, não foi o que se viu. Em 2012 a inflação fechou o ano encostando no teto da meta (6,5%), e agora, considerando-se a variação acumulada em doze meses, o IPCA, índice de preços calculado pelo IBGE, ultrapassou esse limite em março.
Com um mercado de trabalho ainda aquecido — o desemprego em seis grandes regiões metropolitanas foi o mais baixo para o mês de março desde 2002 —, os salários continuam subindo mais que a inflação, o que, aparentemente, neutraliza o impacto negativo da alta de preços sobre a renda média da maioria da população.
No entanto, a persistência da inflação em um patamar acima do razoável acabou disseminando-a para a maioria dos produtos e serviços. Cerca de 70% dos itens que compõem o índice oficial apresentaram, no mês passado, alta de preços.
A alta em 2012 e início de 2013 foi mais acentuada nos alimentos e nos serviços mais procurados pelo maior parte dos consumidores. Se, por razões políticas, a questão da inflação deixou de ser prioritária no governo, sob a justificativa que a retomada do crescimento deveria concentrar os esforços do setor público, agora, pelos mesmos motivos, não dá mais para conviver com tal situação.
É que, no caso dos alimentos e dos serviços, a percepção dos consumidores sobre a inflação acaba sendo mais forte. A sensação de perda de poder aquisitivo pode gerar um descontentamento capaz de afetar as próximas eleições.
Sem precisar enfrentar mais os obstáculos de ordem política e partidária, o Banco Central pode se ater à análise técnica do comportamento da inflação. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi tomada a decisão de se iniciar um ciclo de aperto, com elevação moderada nas taxas básicas de juros. Diante da resistência da inflação, é o que precisa ser feito.
Para que se concretizem os investimentos necessários, a política econômica tem de recuperar credibilidade. Se, por um lado, têm sido adotadas medidas que podem contribuir para dar mais competitividade às cadeias produtivas (como, por exemplo, a troca da folha de pagamentos pelo faturamento na base de cálculo das contribuições previdenciárias das empresas, além de outras reduções de impostos e da tentativa de simplificação do ICMS), por outro, pelo aspecto macro, a política econômica parece voltada a desmontar os fundamentos que protegeram o país contra a grave crise que se abateu sobre os mercados financeiros internacionais a partir de 2008.
27 de abril de 2013
Editorial d'O Globo
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