"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 13 de maio de 2013

MISSÃO IMPOSSÍVEL E AS TRAQUINAGENS DO GRILO FALANTE

O depoimento do Cel. Brilhante Ustra na Comissão da Verdade no dia 10 do corrente mês poderia estar no enredo de dois filmes, Missão Impossível e as Traquinagens do Grilo Falante.
É impossível a missão que o cel. Ustra se auto atribuiu de demonstrar, junto aos membros da Comissão da Verdade, que os Órgãos de Informações do Exército combateram organizações criminosas que pretendiam tomar o poder no Brasil e implantar um regime ditatorial de inspiração marxista leninista nas décadas de 60 e 70.
Para os mesmos, os integrantes das organizações revolucionárias eram jovens idealistas, democratas, que buscavam derrubar um Estado de exceção e restabelecer o regime democrático. 
O fato de usarem armas e praticarem atentados contra quarteis e locais públicos, desapropriarem dinheiro de bancos, realizarem sequestros de diplomatas e justiçarem pessoas que se contrapunham aos seus objetivos é perfeitamente aceitável em razão de ser a única forma de agirem contra um regime ditatorial. Os fins justificavam os meios e era um grupo de idealistas que lutavam contra o que pior poderia ter na política brasileira.
Os “usurpadores do poder” tentavam impedir que, em um quadro da Guerra Fria, o Brasil se tornasse uma nova pátria dos trabalhadores como a URSS, Cuba, China, Albânia e tantos outros países que somente conseguiram se libertar do paraíso na década de 80, depois que milhões de pessoas foram mortas, torturadas, presas sem julgamento, desterradas e impedidas de viverem como cidadãos livres. Lutaram para colocar em prática os ideais do gen. Goes Monteiro de transformar o Brasil em uma potencia para, em consequência, haver um Exército forte. A história e os dados econômicos do período dos governos militares são incontestáveis, para verificá-los é só saber ler.
A atitude tendenciosa dos integrantes da Comissão da Verdade ficou evidenciada com o comportamento do grilo falante Claudio Fonteles. É impossível ver o ex-Procurador Geral da República falando sem que nos venha à cabeça a imagem do grilo falante do Pinóquio.
Ao final da inquirição o dito inseto leu um relatório do DOI-CODI chefiado pelo coronel Ustra, com a classificação sigilosa Confidencial, em que é apresentado o movimento de pessoas presas em um período. No relatório há um item Mortos que, no espaço de tempo considerado, foi registrado o número de 47 pessoas.
Salta aos olhos que, conforme explicou o cel. Ustra, o número citado se referia a terroristas mortos durante as operações do DOI. Para o patético grilo falante o número seria de pessoas mortas nas dependências do Destacamento. Assim, o chefe do DOI estaria enviando em um documento confidencial que, no mínimo dezenas de pessoas teriam acesso, a confissão de ter assassinado presos sob sua custódia.
Estamos tratando de Fonteles, que foi Procurador Geral da República, tem experiência na área jurídica e não seria tolo de julgar que alguma autoridade militar, em qualquer país do mundo, teria o comportamento de auto incriminar-se dessa forma. Restou o que? Um comportamento idiota, retrógrado, preconceituoso, para dizer o mínimo, de buscar uma forma de atribuir ao DOI algo que ele sabe não ser verdadeiro.
Finalmente o coronel Ustra disse que o Exército é quem deveria estar no seu lugar porque somente tinha cumprido ordens e nunca foi punido pelo seu comportamento profissional. Na verdade o Exército, como instituição, não pode estar sendo inquirido. 
Porém, os atuais dirigentes poderiam demonstrar publicamente o que pensam do assunto, todavia é mais fácil uma cobra fumar que algo assim acontecer. Parece que não se está tratando de ações que foram desencadeadas pela estrutura organizacional do Exército. Aos que não viveram o momento histórico fica a impressão que os profissionais do DOI-CODI agiam como os atuais milicianos, por motivação própria.
O comportamento e a coragem do coronel Ustra servem de exemplo para todos os que um dia se comprometeram a dedicar-se inteiramente ao serviço da pátria. Apesar de travar uma luta de Davi contra Golias a sua vitória é certa porque no final o bem prevalece sobre o mal, pelo menos é o que a ética cristã estabelece.

13 de maio de 2013
Weslei Antonio Maretti  é coronel  do Exército (já reformado), sociólogo, professor universitário, cientista político e consultor de polícia comunitária.

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