De: Ucho Haddad
Para: Lula
Assunto: imbecilidade, canalhice boçalidade
Lula, finalmente você reapareceu, apesar de continuar fugindo da imprensa. A sua estratégia de marketing foi interessante, pois um histriônico confesso quando desaparece o faz porque a necessidade de estar em evidência, mesmo que na condição de fugitivo, é muito maior do que se imagina.
Esse tipo de comportamento muitos psicólogos são capazes de resolver, mas às vezes é caso de psiquiatra, com direito a medicamento “tarja preta”.
Ainda bem que não existe remédio para mitomania, pois do contrário você seria ainda mais insuportável. Pense, Lula, num lobista mentiroso e estabanado que acredita ser deus imaginando que fala a verdade. Por certo Messias, o original, já estaria desempregado.
Depois de suas incursões pela África, para onde seguiu a bordo de um refinado jatinho de empreiteira – afinal ninguém é de ferro –, você ressurge do nada e barra a imprensa falada e escrita em uma das suas ufanistas palestras.
Compreendo essa atitude, pois se registram tudo o que você fala a sua fama de parente de Aladim vai pelos ares. Na verdade, quem acredita nessa sua genialidade só pode ser tão boçal quanto você.
Sabe, Lula, depois de quase 55 anos uso pela primeira vez a palavra boçal. E também pela primeira vez não me sinto incomodado, apesar de não ser dado às deselegâncias. Não que jamais tenha encontrado nas estradas da vida pessoas parecidas com você, mas é que aprendi a respeitar o próximo.
Como tudo na vida um dia muda, você me mostrou nos últimos dez anos que não merece respeito. Se enquanto você estava presidente eu o tolerava por imposição da visão míope de parte do eleitorado, imagine agora que é nada.
Na sua mais recente palestra, que somente jovens incautos e pouco experimentados foram capazes de assistir, em Santo André, você chamou de canalhas e imbecis os que inventaram notícias a respeito da sua saúde. Meu finado pai, Lula, me ensinou que antes de mandar é preciso saber fazer, pois se não a ordem perde sua força e essência.
E meu pai foi ainda mais longe. Disse-me que também é necessário saber a fundo sobre determinado fato antes de qualquer afirmação. Sendo assim, creio que você tem conhecimento sobre o que é canalhice e imbecilidade.
Lula, quando começou a circular a notícia de que você estava frequentando o Sírio-Libanês de madrugada para se submeter a um escondido e misterioso tratamento quimioterápico, de chofre afirmei que se tratava de mentira, de armação barata.
E fui além, Lula. Disse que todo ser humano deve torcer pelo bem do próximo, inclusive do inimigo, do adversário. Sou obrigado a concordar com você que mentira é uma imbecilidade. Dependendo da extensão e da gravidade, é uma canalhice.
Eu torço por você, Lula, pois sem a sua presença a palhaçada em que se transformou a política nacional perde a graça. Pense numa enorme lona cobrindo um picadeiro sem palhaço. Que coisa sonsa!
Apesar de não lhe tirar a razão nesse caso específico, você precisa saber os motivos que levam as pessoas a essas notícias esculpidas com o cinzel da inverdade. Você é uma pessoa tão espetacular e adorada, Lula, que as pessoas querem vê-lo morto.
E desejam que a morte ocorra da pior forma possível, como merece todo político que engana o povo. Não fosse você esse salvador da pátria amada e idolatrada chamada Brasil, o boato sobre a recidiva do câncer não teria o Sírio-Libanês como destino das suas escapadas noturnas e secretas, mas, sim, aquele hospital de Havana em que seu concorrente, agora finado, Hugo Chávez escafedeu-se.
Na mesma Cuba de onde a sua companheira Dilma, a “gerentona inoperante”, quer importar seis mil agentes da ditadura castrista disfarçados de médicos.
Compreendo perfeitamente esse desapontamento com os que inventaram a boataria sobre a sua saúde. Até, porque Lula, no caso foi o câncer que lutou para se livrar de você. Sem fugir do assunto, explico as razões que me permitem compreender a sua decepção.
Certa vez, Lula, ainda jovem, ouvi falar de um comunista de boteco, desses que ficam dependurados à porta das fábricas ou à beira da linha do trem. Do nada esse especialista em água que passarinho não bebe começou a ganhar espaço na mídia – afinal a imprensa canhestra sempre precisa de um fato novo, mesmo que seja uma farsa – e a ser incensado como se fosse a versão sindicalista de Sassá Mutema.
Tão boçal quanto você, Lula, esse sujeito, sempre abusado, passou a acreditar que era a derradeira solução do planeta. Diante de uma vastíssima plateia de ignaros, esse imbecil logo foi aclamado como líder dos trabalhadores e dos pobres. Trabalho que é bom o sujeito nunca soube o que é e pobreza ele já não lembra o que significa. Até porque, Lula, uma pessoa que compra um relógio Cartier, em Nova York, com o dinheiro do povo não sabe o que é pobreza. No máximo sabe o que é banditismo consentido.
Voltando ao assunto… O tal comunista de botequim, cachaceiro convicto e conhecido, um dia resolve ser presidente. Chega ao poder e começa a rasgar o discurso de décadas e a mentir continuadamente para o povo.
Pois bem, Lula, você há de concordar comigo que esse sujeito abusado é um canalha, um imbecil. Fosse pouco o fato de encarnar um Messias de araque, o tal comunista de boteco começou a patrocinar a corrupção. Quando o escândalo vinha à tona, o malandro dizia que de nada sabia. Paciência, porque dizem por aí que cada povo tem o governante que merece.
Para cair nas graças do povo, o tal cachaceiro-presidente começou a distribuir esmolas oficiais. Como se não bastasse tamanho absurdo, o comunista de camelô arremessou 40 milhões de desavisados cidadãos na vala do consumismo. Constatada a tragédia, o espertalhão surgiu com um discurso novo, apesar de ter espetado um pesado carnê nas costas de cada um.
Disse o malandro que os endividados integravam a nova classe média. Pense, Lula, na ousadia e na irresponsabilidade desse alarife com mandato. O sujeito é ou não um canalha? Mas Lula, veja como existem imbecis no planeta. O comuna do boteco que virou presidente conseguiu enganar uma legião de gente letrada e arrebatou mais de uma dúzia de títulos de “doutor honoris causa”, apenas porque enganou o povo e destruiu o próprio país.
Deixemos esse imbecil de lado, Lula, e retomemos a sua insana verborragia. A extensa maioria da imprensa brasileira, para a sua sorte, tem dificuldades para pensar ou passa com frequência pelo caixa do desgoverno que se instalou no Palácio do Planalto.
Você dedicou adjetivos ácidos aos que criaram o boato sobre a sua saúde, mas os jornalistas não tiveram a capacidade de interpretar o seu discurso nas entrelinhas. Se diante de uma mentira você esperneou, o seu silêncio em relação a determinadas polêmicas as transformam em verdade.
Veja só, Lula! A Rosemary Noronha, que você deve conhecer, disse que era – não sei se ainda é – sua namorada. E fez essa afirmação enquanto protagonista de um escândalo de corrupção. A polícia desmontou o esquema comandado pela Marquesa de Garanhuns e você se viu obrigado a sair de circulação.
Tudo absolutamente natural em se tratando de um covarde. Mas em nenhum momento você disse que a Rose é mentirosa, canalha, imbecil. Possivelmente porque as declarações dela não são boatos.
Esse caso sobre o seu namoro com a Rose é assunto para resolver em casa, com a esposa, os filhos, os netos. Vocês são vermelhos e que se entendam. Apenas dê uma explicação ao povo brasileiro sobre o esquema criminoso que surgiu no vácuo de uma traição conjugal.
E cá pra nós, Lula, você tem um péssimo gosto para mulher ou é um azarado no assunto. Mas gosto e preferências não são passiveis de discussões. De tal modo, sejam todos felizes.
Agora pinço mais uma das aberrações que levam a sua digital. Lula, sou adepto da teoria longínqua de que sabe escrever aquele que lê com frequência. Como você mesmo disse ser avesso à leitura, escrever por certo não faz parte das suas maiores predileções.
Mesmo assim, a reboque de um escriba qualquer de aluguel, que como sempre rascunha as bobagens do contratante, você se transforma em colunista do “The New York Times”. Se isso tivesse acontecido com aquele comunista do boteco, diria que ele é um imbecil canalha.
Mas não é o seu caso, porque você é um homem justo, verdadeiro, cumpridor da palavra dada, um verdadeiro Don Quixote a lutar contra a corrupção e que jamais traiu a confiança da população.
Mas Lula, pense bem no teor da sua primeira coluna no NYT. Se o seu escriba de aluguel não lhe aplicou uma troça, você deveria estar transtornado quando afirmou que os recentes protestos que tomaram as ruas de várias cidades brasileiras representam a satisfação do povo, que depois das conquistas alcançadas durante o seu desgoverno querem mais.
Lula, em qualquer país minimamente sério você já teria sido apedrejado. Então, Lula, quer dizer que as últimas pesquisas de opinião que apontam o calvário político de Dilma refletem a satisfação do povo? Veja só, mestre (sic) Lula, pensava eu, no topo da minha ingenuidade, que fosse o contrário, que aquelas pessoas gritando nas ruas estavam enfurecidas com o seu magnífico legado e a competência do governo da “companheira” Dilma. Não sei o que seria de mim e dessas pessoas ingratas que protestam se você não existisse, Lula.
Apesar de você ser essa pessoa magnânima e celestial, sinto-me na obrigação de lhe passar uma carraspana. Você disse, ao criticar os criadores do boato sobre sua saúde: “Graças a Deus não tenho mais câncer, e não é correto que algum canalha, imbecil fique pela internet contando mentiras”. Se é que compreendi de fato sua declaração, Lula, canalha e imbecil é aquele que conta mentira na internet. Fora da rede mundial de computadores o mentiroso é divindade. É isso ou estou enganado?
Não contente, você abusou em seu discurso eivado pela ira. “Não tenho câncer, não quero ter câncer, não vou ter câncer e não gosto de quem tem câncer”. Lula, fico feliz por você ter se livrado do câncer. Sei o quanto é difícil essa batalha, mas a alta médica não significa que você está curado. Isso só será possível afirmar dentro de mais alguns anos. E garanto que torço para que esse dia chegue o quanto antes, pois o quero vivo e com energia para ser criticado como merece.
Sei da sua vocação para divindade, mas não querer ter câncer ou afirmar que não terá câncer não é assunto da sua competência. Quem decide isso é o Criador, que já deve ter reservado a lição que lhe cabe. Se em algum momento você tem lapsos de consciência, certamente deve imaginar o que vem pela frente.
O pior foi você ter afirmado que “não gosta de quem tem câncer”. Lula, você é metido a deus e deveria saber que pensamentos desse naipe não coadunam com divindades. Mas é preciso reconhecer que o céu também tem seus embusteiros de plantão. Eu gosto do ser humano incondicionalmente, com ou sem câncer, e torço pelo bem do próximo. Atitude pequena para alguém da sua grandeza.
Lula, para finalizar e não tomar o seu precioso tempo, pois sei que agenda de lobista e palestrante é muito concorrida, preciso revelar a conclusão a que cheguei depois de uma década convivendo com os seus desvarios.
Você é, pelo menos por enquanto, o tumor maior do Brasil, que pela peçonha da própria existência colocou no comando do País a sua metástase.
Para mim, Lula, você é apenas um boçal que acredita ser gênio, mas se na sua opinião aquele que mente é canalha e imbecil, o problema é seu.
19 de julho de 2013
Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e cometarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.
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