"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 19 de julho de 2013

"UMA REFORMA PARA DILMA"

 
Em mais um lance da partida de passa anel'' entre Executivo e Legislativo, com um empurrando para o outro a batata quente de responder às ruas, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB), sugeriu que Dilma Rousseff corte de 39 para 25 o número de ministérios.
 
É uma conta feita para gerar um factoide e um número redondo, e não uma proposta para valer. Se fosse, o PMDB teria de dizer que abriria mão de 36% de seu espaço na Esplanada. Mas Alves não chegou até aí.
 
Ainda que involuntariamente, no entanto, ele apresenta um número realista caso Dilma quisesse mesmo enxugar o governo --e não criar cargos ridículos como o de diretor do Departamento de Racionalização das Exigências Estatais da Secretaria de Racionalização e Simplificação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República.
 
Para chegar ao número mágico, há uma engenharia simples:
 
1. Tirar o status de ministério de dez secretarias, reduzindo as estruturas e vinculando-as a outras pastas;
 
2. Tirar o caráter ministerial de órgãos de assessoria da Presidência, como Advocacia-Geral e Controladoria-Geral da União, Gabinete de Segurança Institucional e Secretaria de Comunicação de Governo;
 
3. Devolver os portos e aeroportos ao Ministério dos Transportes;
 
4. Extinguir o folclórico Ministério da Pesca e repassar suas atribuições à Agricultura (se nem a pecuária tem sua própria pasta, por que a pesca?);
 
5. Rever a gambiarra que tornou ministro o presidente do Banco Central, uma jabuticaba lulista;
 
6. Extinguir a desacreditada pasta das Relações Institucionais e devolver a articulação política à Casa Civil.
 
A conta é simples e a lógica cristalina, mas tal reforma não sairá porque partidos como o PMDB e caciques como Henrique Alves não permitirão --o risco é romperem com Dilma e implodirem sua reeleição.
 
Como o plebiscito, a reforma ministerial do PMDB é conversa mole para tentar fazer o gigante dormir.

19 de julho de 2013
Vera Magalhães, Folha de São Paulo

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