Dilma cobra explicações de Lupi e PDT já procura substituto
BRASÍLIA – A presidente Dilma Rousseff já recebeu na manhã desta quarta-feira o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e pediu explicações convincentes e documentadas sobre a viagem feita por ele ao Maranhão, em que utilizou o avião do presidente de uma das ONGs com convênios firmados com a pasta. Lupi deve voltar ainda nesta quarta para um segundo encontro no Palácio do Planalto com a presidente. A situação dele é extremamente delicada, segundo interlocutores da Presidência da República. A avaliação que se faz é que os fatos e imagens desmentem a versão apresentada por Lupi até momento. A Comissão de Assuntos Sociais, do Senado, aprovou o convite para que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, participe de uma audiência quinta-feira no Congresso para esclarecer as acusações.
No encontro que teve com Dilma pouco antes do almoço, Lupi alegou que nada tem a ver com irregularidades em sua pasta. Na reunião, que durou cerca de meia hora, Lupi prometeu apresentar nota fiscal mostrando que teria sido o partido o responsável pelo pagamento da aeronave. O diretório regional do PDT no Maranhão, porém, disse que não tinha comprovante de pagamento porque a legenda não tinha dinheiro para alugar um avião. Dilma vai aguardar a apresentação das provas de Lupi para, depois, decidir o que faz com o ministro.
Certos de que a situação é insustentável e pode ter um desfecho ainda nesta quarta, a ala do PDT lupista corre contra o tempo para tentar emplacar na vaga do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, dois deputados de seu grupo: André Figueiredo (CE), seu interino na presidência do partido, ou João Dado (SP). Lupi deve se encontrar com a presidente Dilma ainda hoje, mas dificilmente conseguirá mais tempo depois do agravamento de seu caso no fim de semana.
Mas segundo parlamentares da ala contrária a Lupi no PDT, ele dificilmente emplacará André Figueiredo, alvo também de denúncias de irregularidades com o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem), do Ministério do Trabalho. Segundo matéria do Jornal Correio Braziliense, o programa passou a ser utilizado para turbinar filiados ao PDT em nível nacional e para atender os interesses eleitorais dos principais aliados de Carlos Lupi, dois deles ex-assessores diretos na pasta e hoje deputados federais: André Figueiredo e Weverton Rocha (PDT-MA). Rocha, que também é acusado de cobrar propina quando era assessor especial de Lupi, foi beneficiado com vagas do Projovem em seu estado.
Segundo a reportagem do Correio, na gestão de Lupi foram distribuídas vagas e recursos do Projovem aos estados conforme a influência dos aliados e o potencial de votos e crescimento do PDT.
- Se o André Figueiredo for nomeado, no dia seguinte tem rolo – disse nesta quarta um deputado pedetista que acompanha a mobilização dos lupistas para emplacar Figueiredo
PDT não precisa de um lugar no governo, diz Miro Teixeira
Já o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), apontado como um nome capaz de agradar ao Planalto para substituir o ministro do Trabalho,defende que o partido continue apoiando os projetos de interesse da população independente de ter ou não um ministério. Miro diz que o PDT não precisa de um lugar no governo para apoiar projetos do governo de interesse da população.
- Se a cúpula do PDT disser que para isso precisa de cargos, não estará falando pela totalidade do partido. Há parlamentares que pensam assim e só não se manifestaram nesse sentido até agora para não parecer que estava jogando uma pá de cal em Lupi. Quem disser que o PDT precisa de cargos para apoiar o governo, está mentindo – disse Miro Teixeira.
Outros nomes que teriam aval do Planalto estão sendo lembrados, como o do ex-senador Osmar Dias (PR), que se sacrificou na campanha de Dilma, lançando-se candidato ao governo, para lhe dar um palanque no Paraná. O nome do gaúcho Vieira da Cunha também é colocado nessa lista. Ministro deve dar explicações no Senado
De acordo com a Agência Senado, o ministro já confirmou que vai comparecer ao Senado nesta quinta-feira.
O requerimento foi apresentado pelo líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), e pela senadora Ana Amélia, do PP-RS. Vários integrantes da base governista, incluindo petistas apoiaram a iniciativa, como os senadores Eduardo Suplicy (SP) e Ana Rita (ES).
A permanência de Lupi no governo se tornou insustentável após a divulgação de fotos que comprovam que o ministro viajou em avião King Air, prefixo PT-ONJ, fretado pelo empresário Adair Meira, dono de três ONGs financiadas pelo Ministério do Trabalho. No fim de semana, o Ministério do Trabalho divulgou nota negando que Lupi tivesse usado o avião e sustentou que o ministro havia usado em seus deslocamentos no interior do Maranhão, uma outra aeronave. Para piorar a situação, o site da revista “Veja” divulgou um vídeo com as mesma imagens de Lupi, desembarcando na cidade maranhense de Grajaú.
A Controladoria Geral da União investiga supostas irregularidades das ONGs de Meira com recursos do Trabalho. Em um dos casos, aponta falta de comprovação de despesas de R$ 5 milhões.
Nas palavras de um interlocutor direto da presidente Dilma Rousseff, a sobrevida dada a Lupi até a reforma ministerial em janeiro já não existe. Avaliação feita nesta terça-feira por integrantes do núcleo do governo foi a de que Lupi deve uma explicação pública convincente. E, se isso não ocorrer, o Planalto espera que o PDT conduza o processo de substituição do ministro o mais rápido possível.
Segundo um ministro, Lupi está extremamente fragilizado e só piorou sua situação com declarações polêmicas nos últimos dias. No Planalto, Lupi é chamado de “fanfarrão”. Já há avaliação interna de que sua permanência começa a contaminar a agenda do governo.
O constrangimento com Lupi nesse episódio não é só no Planalto, mas na base aliada e até no PDT. Apesar das negativas oficiais, integrantes da cúpula do PDT afirmaram na terça-feira ao GLOBO que Lupi não se sustenta mais.
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"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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