"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O CASO PINHEIRINHO

Só para recordar: primeiro, os “ativistas” dos movimentos que defendiam a permanência na área invadida no Pinheirinho, em São José dos Campos, posaram para os fotógrafos com escudos e cassetetes improvisados e os rostos cobertos por capacetes de motoqueiros ou por capuzes.

O advogado do grupo acampado no local dizia que, se a Polícia Militar “invadisse”, poderia ocorrer uma tragédia como a de Eldorado dos Carajás – onde manifestantes morreram em confronto com a polícia.

O grupo é ligado a um certo MTST (Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Teto) e o advogado que fez a ameaça chama-se Antônio Donizete Ferreira. Segundo esse mesmo advogado, as “pessoas” estavam até “estocando gasolina” para enfrentar a polícia.

Tudo isso porque a Justiça havia expedido, no fim do ano passado, um mandado de reintegração de posse e, no dia 11 deste mês, negado o pedido de adiamento da execução da ordem. Em casos como esses, a PM tem por obrigação agir para que a determinação do magistrado seja cumprida.

É o que diz a lei. Pois bem: no domingo passado, depois que os ânimos estavam mais serenados e a milícia fantasiada para a guerra havia sido desmobilizada, a PM agiu. A princípio, não houve resistência dos moradores.

Na segunda-feira, os ativistas voltaram ao trabalho, partiram para o confronto e passaram a culpar o governo de São Paulo por uso de truculência.

Se esse tal MTST estivesse mesmo preocupado em encontrar uma solução para as pessoas sem moradia, poderia perfeitamente ter tentado algum tipo de acordo antes que a situação chegasse à fase final.

Tempo para buscar um acordo não faltou. A invasão do Pinheirinho começou em 2004 e, desde então, o processo que pede a reintegração de posse tramita na Justiça. São oito anos.

Nesse meio-tempo, o governo federal, o governo estadual e a prefeitura poderiam ter sido acionados para encontrar uma solução. Brasília poderia ter proposto algum entendimento em torno do programa “Minha Casa, Minha Vida”.

O governo do estado poderia ter buscado algo no âmbito da CDHU – assim como a prefeitura poderia ter tomado suas providências. Só há um problema: o caso estava entregue à Justiça e qualquer ação do Poder Executivo nesse meio-tempo poderia ser tomada como uma interferência indevida.

O problema da moradia no Brasil é grave e os governos têm demonstrado intenção em resolvê-lo. Mas o que houve no Pinheirinho nada tem a ver com a questão da moradia.

Ali, há um jogo político torpe, numa cidade e numa região que, nos últimos anos, têm demonstrado mais simpatia pelo partido que está no governo estadual do que pelo partido que está no governo federal.

Se houve truculência da polícia, ela deve ser tratada de acordo com a lei. Uma lei que vale para a PM, também vale (ou deveria valer) para o MTST. Fora disso, qual quer comentário que se faça a respeito da ação policial empreendida por ordem judicial não passa de proselitismo eleitoral.

Infelizmente, sempre se utilizam como massa de manobra, em momentos como esse, pessoas que realmente precisam de moradia e que, quando mostrados na TV ou nos jornais, estão sempre com os rostos à mostra – e não em atitude ameaçadora, atrás de um capacete de motoqueiro.
27 de January de 2012
Ricardo Galuppo - Convidado
Fonte: Brasil Econômico, 26/01/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário