O "INDESCULPÁVEL" AUÊ DE RITA LEE

NOTA AO PÉ DA CHARGE

Dentre os muitos admiráveis da MPB, tenho particular reverência por Rita Lee. Sua ousadia, irreverência, quando todos precisávamos de voz para quebrar o silencioso sentimento de censura que nos deixava surdos-mudos, que nos oprimia o coração, ela chegava com espalhafato e colocava suas canções e seu pescoço para nos aliviar e nos fazer rir.
Muitas de suas canções interpretaram nossos desejos de liberdade. Com o seu jeito 'riponga' e 'doidinha', com sua beleza de mulher "acima do bem e do mal", semeou muita alegria, e por que não dizer alguma sabedoria do tipo "deixa rolar", antecedendo o Zeca Pagodinho no seu verso "deixa a vida me levar".

Além de criar um espaço novo no rock brasileiro. Há canções muito bonitas.
Se no 'calor da emoção' - como ela explicou sua irritação com a ação policial cumprindo o inevitável papel de vigilância - ou se simplesmente tentou ampliar o seu show com uma platéia pronta para segui-la em vaias e ovações, já não importa mais. Artista é o diferencial, desfaz a sensaboria do cotidiano, inova cores e cortes malucos de cabelo, inova o espalhafato das roupas, dos gestos e trejeitos... A ele tudo se perdoa, porque sua vida é sempre inauguração! Artista é isso: o sal da vida!
E é quase certo, que diante de todo esse AUÊ midiático, ela está cantando aquela canção admirável que diz em seu verso e "TUDO VIRA BOSTA"...

Rita Lee deixa os palcos. Espero que não deixe órfãos os seus admiradores. Que no recolhimento a que se propôs, continue compondo e nos dando a graça e a beleza dos seus versos... E não se esqueça da irreverência!
m.americo