"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O MERCADO FALA, MAS O CONSUMIDOR NEM SEMPRE OUVE...

Sinais não-verbais, aqueles que não percebemos a primeira vista, podem nos ajudar se os identificarmos.

A relação de demanda e oferta está sempre sujeita a variações. Na primeira aula do primeiro dia do curso de Economia, possivelmente o professor dirá a seus alunos que os preços tendem a baixar quanto maior a oferta de produtos e subirão quando a procura por determinado bem ou serviço for maior do que o mercado tem para vender. Frutas, legumes e verduras, por exemplo, apresentam preços mais altos quando estão fora de época e a oferta diminui.

Os serviços de dedetização trabalham mais no verão – quando as baratas voam. A estação é mais favorável também a sorvetes e bebidas frias. Com o aquecimento do mercado de eletrônicos, por exemplo, e o consequente aumento da oferta de marcas e modelos, alguns itens – como telefones celulares, televisores e computadores – baixaram de preço. Já o bacalhau fica mais caro na Semana Santa e no Natal.

Estes são os sinais verbais que estão estampados nos folhetos, vitrines e anúncios de jornais. Além de identificar os heróis e os vilões do seu bolso e buscar informações sobre a sazonalidade de certos produtos, o consumidor precisa estar aberto a reconhecer certos sinais que feiras e shoppings oferecem – mesmo contra a própria vontade. O que marqueteiros e publicitários guardam a sete chaves – embora deixem escapar de vez em quando – são os sinais não-verbais, aqueles que não percebemos à primeira vista, mas que podem nos ajudar se os identificarmos.

A dona de casa deve estar atenta a estes “sinais”. Eles estão em todos os lugares – nas feiras, mercados e shopping centers. Ao entrar na feira livre, por exemplo, ela deve observar o número de caixotes atrás das bancas. Quanto maior o número de caixas maior será a oferta porque o feirante tem mais estoque. Nas gôndolas mais baixas dos supermercados estão os produtos mais atraentes para as crianças. Deve-se evitar ir ao mercado com elas senão a despesa, certamente, será maior.

Nas feiras livres, as primeiras duas horas são as mais caras enquanto as duas últimas apresentam mais promoções. Na frente de cada barraca cabe a pechincha, negociação que pode levar à maior economia. No supermercado, por sua vez, o açougue fica sempre no fundo para que o cliente percorra corredores e gôndolas e acabe comprando por impulso antes de chegar à carne. Preços de refrigerantes e cervejas costumam baixar no sábado. Isso impulsiona também a venda da carne para o churrascão da família. Nesse tipo de estabelecimento, o consumidor encontrará preços mais caros e menos ofertas nos primeiros dez dias do mês. É neste período que o trabalhador – que acabou de receber salário – tem mais dinheiro no bolso.

A catedral das emboscadas

Autora do livro Shopping Center – a catedral das mercadorias, Valquíria Padilha revela que os shopping centers são templos de consumo e lazer – considerados seguros pois abrigam o consumidor do sol e da chuva. Ela aponta que os shopping centers de média e grande dimensão funcionam como pequenas cidades, com estrutura governamental (administração) e serviços de polícia e bombeiros (segurança), além de limpeza, abastecimento de água, manutenção de infraestruturas etc.

Mas o shopping também fala. Repare que ali não há relógios – para que o consumidor perca a noção do tempo. Pelo mesmo motivo, a iluminação não permite que você perceba que escureceu, por exemplo. O piso é sempre muito liso para que você ande devagar e olhe as vitrines com calma. Como o público masculino é menos afeito a bater perna e olhar vitrines, as lojas para estes consumidores – repare só – ficam sempre perto das entradas ou das escadas rolantes. Isso é estratégia. Já as consumidoras têm um espírito, digamos, mais desbravador e vão mais longe atrás daquele item ou desconto.

Como dizia Sun Tzu em A arte da guerra, um general deverá estar preparado com astúcia e com estratagemas quando penetrar em terreno sujeito a emboscadas.

Por Claudio Carneiro
3/02/2012

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