De um leitor, recebo:
Prezado Janer:
O termo "Dekasseguis" foi inspirado na palavra 出稼ぎ ou na tradução livre, sair para juntar dinheiro. Se olharmos para o termo usado pelo ponto de vista dos jornalistas, seriam "Brasileiros que vão trabalhar no Japão".
Aí está o problema. Nem todos os brasileiros que vieram para o Japão sabiam "juntar dinheiro". No início da década de 90, a intenção era trabalhar no arquipélago pois os salários eram maiores. Mas os motivos, na maioria dos casos, não era a busca por algo e sim a escapatória. Pois enfrentávamos dificuldades no Brasil na época.
Sair do país com o objetivo de crescer na carreira, estudar ou enriquecer a cultura é um motivo nobre para a sociedade. Sair para trabalhar em serviços braçais não é. Porém, no mundo capitalista, o dinheiro tem muito "valor" para a sociedade e até o início do ano 2000, muitos "Dekasseguis" conseguiram "juntar dinheiro" e realizar sonhos materiais no Brasil. Compraram carros e casas.
Alguns empreenderam, sem se dedicar ao estudo da mesma forma que trabalharam na terra do sol nascente. E voltaram ao Japão para reiniciar suas vidas. Outros tantos, devido ao "jet lag espiritual" talvez, não perceberam que o Brasil continuou progredindo enquanto o mesmo vivia do outro lado do mundo. A internet ainda não era "moda" entre os "Transnacionais" daqui.
A partir de 2005, depois de um estudo do BID e uma parceria com o SEBRAE, foi criado o projeto "Dekassegui Empreendedor" para preencher a lacuna que existia na parte educacional das pessoas que "juntaram dinheiro" mas não sabiam como gerir seus negócios.
O problema aí é que esse estudo foi baseado no valor das remessas dos "Dekasseguis" ao Brasil e uma pesquisa antiga sobre os motivos do envio. Números e vontades que podem se alterar a qualquer movimento no mercado mundial.
E foi o que começou a acontecer já no início do ano 2000, as variações cambiais e a infra-estrutura da comunidade brasileira no Japão, fizeram com que muitos dos que enviavam dinheiro para sustentar as famílias no Brasil, resolvessem trazê-los para o arquipélago. O que poucos perceberam, pois pesquisadores não são pagos para viver a vida dos pesquisados.
Essa infra-estrutura em partes, foi uma demanda iniciada pelos próprios "transnacionais" que pagavam caro pela "Saudade" do Brasil nos anos 90. Assim, surgiram as "Quitandas" de produtos alimentícios e também importadores de roupas e alimentos. Como a carga horária diária era desgastante, os jovens procuravam diversão nos finais de semana, o que fez surgir baladas somente para brasileiros. E depois dos encontros, a formação de casais.
Como a comunidade de japoneses no Brasil, sempre foi muito rígida em relação aos relacionamentos dos filhos. A "oportunidade" de ser livre no Japão, fez com que muitos desses casais não tivesse mais o "freio" dos pais no Brasil.
Com isso, vieram os filhos.
Devido ao tão falado "Ijime" ou "Bullyng" escolar na sociedade japonesa, surgiram escolas brasileiras para educar os filhos dos "Transnacionais" e a partir desta geração, os psicólogos estão tendo problemas para encontrar soluções.
Se uma pessoa solteira vai para um outro país "juntar dinheiro" e voltar, o ideal é não ter filhos, pois não há como conseguir educar uma criança (incluindo subsídios governamentais) e sustentar um lar "familiar".
Se uma pessoa que enviava dinheiro para sustentar a família no Brasil resolve trazer todos ao Japão, ela não é mais um "Dekassegui", pode se tornar um imigrante, caso decida "fincar raízes" no país. Porém, se ela ainda deseja voltar ao Brasil, essa pessoa é um "transnacional" e seus filhos também.
Pois bem, os "transnacionais" tem esse problema em questão. Não decidiram em qual país pretendem viver. O principal fator é o trabalho, pois desde o início, vieram com essa intenção. Porém, não deram o devido valor ao estudo e o tempo passou. 20 anos, 10 anos, 5 anos, não há como voltar atrás e o mundo mudou.
A "Síndrome do Regresso" talvez seja uma forma de encontrar a reposta para a pergunta de muitos que resolveram buscar o valor do dinheiro ou do trabalho braçal em outros países. Porém, o problema é muito maior. São cerca de 3 milhões de brasileiros no exterior, que experimentaram valores culturais e econômicos e que muitos não aceitam viver sem, na volta ao Brasil.
Se todos olhassem pelo mesmo prisma que Janer Cristaldo, que decidiu abrir mão desses valores para viver fazendo o que gosta, talvez muitos não precisassem de "Gigolôs" para definir o que eles próprios poderiam decidir para suas vidas.
Dino Slender
08 de março de 2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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