É a guerra, que a conferência de paz de terça-feira, no Senado, não resolveu. A presidente Dilma recebeu todas as homenagens, mas depois de abater dois líderes de seu governo, e os respectivos padrinhos, deixou o Congresso disposta a não aceitar mais pressões dos partidos de sua base parlamentar. Mais ainda, decidida a mudar a correlação de forças entre Executivo e Legislativo, porque, se tem maioria, como ficar enfrentando problemas a cada votação?
Fica evidente que a chefe do governo optou pelo confronto, no caso, contra o PMDB e até o PT, sem falar nos penduricalhos. Aguarda-se a primeira batalha, com ela de um lado e, de outro, Michel Temer, José Sarney, Renan Calheiros, Henrique Eduardo Alves compondo o estado-maior adversário. Mas sem esquecer Carlos Lupi e parte da bancada do PDT, mais Alfredo Nascimento e o Partido da República. E outros.
Esses batalhões mantém a estratégia de criar dificuldades para a votação de projetos de interesse do palácio do Planalto caso não se vejam atendidos em suas exigências de ocupar ministérios, nomear dirigentes de empresas estatais e ter liberadas verbas para suas emendas ao orçamento.
O Lula poderia servir de árbitro no conflito, mas o risco é de que esteja repetindo a performance do papa Pio XII durante a Segunda Guerra Mundial, se ficar encolhido, observando escaramuças e invasões sem pender para uma das partes em luta. Adiantam pouco as declarações de unidade e confiança de uns nos outros, se seus exércitos já se engajaram e continuam arregimentando forças.
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CONTRATOS QUE NÃO PODEM SER HONRADOS
Os dois novos líderes do governo no Congresso, Arlindo Chinaglia e Eduardo Braga, assumiram ontem com promessas de cumprir acordos celebrados faz tempo, aliás, não escritos. Para o biênio 2013-14, PT cederia a presidência da Câmara ao PMDB, sendo verdadeira a recíproca no Senado, onde os companheiros assumiriam a presidência.
Nada mais precário e ilusório do que essa projeção. Porque só por milagre o PT admitirá perder a Câmara e não conquistar o Senado. Para Henrique Eduardo Alves suceder Marco Maia, seria necessário que Jorge Viana, Martha Suplicy ou outro petista ocupasse a cadeira de José Sarney.
O problema é que a relação de forças, no Senado, surge diferente do que na Câmara. Entre os deputados, a bancada do PT é majoritária, com 81 contra 76 do PMDB. Entre os senadores, o PMDB bate o PT por 20 a 14. Mesmo divididos, os senadores do PMDB não se dispõem ao troca-troca. Assim, os deputados do PT não tem porque abrir mão de sua prevalência.
Apesar de inexistir nos regimentos internos das duas casas a obrigação de o maior partido indicar o presidente, esta tem sido a praxe. O diabo são as divisões internas em cada legenda, mais o grande número de partidos menores capazes de desequilibrar contas lineares.
Em suma, os novos líderes começaram com fantasias. Arlindo Chinaglia prometendo que Henrique Eduardo Alves, do PMDB, será o novo presidente da Câmara. E Eduardo Braga jurando que as bancadas do PT e do PMDB atuarão unidas no Senado.
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ESTAR BEM E IR BEM
Por conta da confusão que atinge o relacionamento do governo com os partidos da base, passou despercebida importante intervenção do senador Cristóvan Buarque, do PDT, durante a exposição feita pelo ministro Guido Mantega e, depois, em discurso no plenário.
Disse o ex-governador de Brasília que uma coisa é a economia nacional estar bem, mas outra bem diferente será ir bem. Em outras palavras, no presente as contas podem estar fechando, mas se não estivermos preparando o futuro, o risco será de amplo malogro.
O Brasil perde para inúmeros países do mundo a corrida pelo aumento da produtividade. Na Coréia, um trabalhador que produzia 100, poucos anos atrás, está produzindo 140. Na China, mais ainda, pois a produtividade saltou de 100 para 160. Entre nós, continuamos no 100, perdendo a competitividade.
Para o senador, o governo deveria estar olhando longe e revolucionando a educação, muito mais do que destinar dinheiro ao setor.
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DÁ PARA CONCORRER?
Vale insistir no vazio que vai se abrindo em termos de crescimento econômico do Brasil, pífio no ano que passou, de 2.7%. O tema vem sendo dissecado por economistas, parlamentares e diletantes, todos concordando sobre as dificuldades de concorrência com a China. A verdade é que os chineses colocam, no Brasil, quaisquer de seus produtos industriais pelo preço de um terço daqueles que são produzidos entre nós, desde escavadeiras, locomotivas e até brinquedos e badulaques.
Já se identificou a razão principal desse desnível: os salários recebidos pelos trabalhadores de lá e de cá. Claro, também o aumento da produtividade e, em especial, os investimentos com que o mundo rico inundou aquele país, na busca de lucros maiores.
A saída não parece fácil, mas seria bom prevenir desde já, porque certas elites retrógradas já começam a apregoar que a solução está na compressão salarial, além da redução da carga fiscal exigida das empresas nacionais.
15 de março de 2012
Carlos Chagas
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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