"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 15 de março de 2012

POLÍTICA CHINESA...

China: moderados vencem 1º round da sucessão
by fernaslm

A ala moderada do Partido Comunista Chinês (PCC) ganhou a primeira batalha da sucessão de vários membros do Politburo marcada para acontecer este ano.

Bo Xilai (foto), secretário do PCC da província de Chongqing, que despontava como o mais radical dos pretendentes ao mais alto cargo de poder na China foi defenestrado ontem assim que a seção anual de 10 dias do Parlamento chinês foi encerrada.

O expurgo decidido pelo Comitê Central do PCC foi anunciado em uma nota de uma única linha pela agência de notícias do governo, Xinhua, que não deixou claro se ele está preso ou não.

Poucas horas antes o primeiro ministro Wen Jiaobao, que, junto com o presidente Hu Jintao e outros cinco membros do Politburo de nove cadeiras, deve deixar esta que é a mais alta instância de poder na China no final deste ano, tinha feito criticas diretas a Bo Xilai em uma inusitada conferência de imprensa televisionada com a presença de jornalistas chineses e estrangeiros.

O caso é emblemático da barra pesada que é a política nesta China que todo o Ocidente trata de igual ($$) para igual ($$) e o governo Lula considera "uma plena economia de mercado".

Bo Xilai é filho de Bo Yibo, ex-vice-primeiro-ministro e veterano da Longa Marcha de Mao Tsetung, que iniciou a revolução comunista chinesa e, desde 2009, vinha acenando com o "Modelo de Chongking", uma versão nostálgica e brutalmente violenta da Revolução Cultural maoísta temperada com novos molhos populistas de grande sucesso entre as massas mais pobres daquela província.

Acusando-os de "atividade mafiosa", ele prendia os empreendedores privados de Chongqing, submetia-os a tortura e cobrava pesadas "multas" para libertar os mais ricos entre eles, usando o dinheiro para financiar políticas assistencialistas.
Parentes e amigos que se dispusessem a testemunhar a favor dos prisioneiros também eram presos e torturados.

Chongqing reeditou, de 2009 até ontem, os tempos do terror maoísta com milhares de pessoas enfiadas em "prisões secretas", seções de tortura, sentenças de morte, execração pública dos "chefes das máfias" e o mais do costume.

Mas o principal alvo dessa "cruzada contra os ricos" era Wang Yang, o antecessor de Bo no comando da seção de Chongqing do PCC e seu principal rival na disputa por um assento no Politburo. Todos os "empresários" atingidos tinham feito sua fortuna no governo do rival, cujo chefe de polícia Bo mandou executar em julho de 2010.

Seu grande erro foi voltar-se contra o seu próprio chefe de polícia, Wang Lijun, conhecido como "Robocop" ou "Crazy Wang", um homem sanguinário que tinha mania com armas pesadas e carros esportivos e que, "nas horas vagas, dedicava-se a fazer autópsias" e gabava-se de "ter inventado um método super eficiente de retirar órgãos de prisioneiros executados para transplantes".

Não se sabe exatamente por que - "tsu si gou peng" ("quando o cachorro não serve mais para caçar coelhos é ele que vai para a panela"), dizem os chineses - Bo e "Crazy Wang" se desentenderam e o chefe achou por bem queimar aquele arquivo vivo das barbaridades que tinha perpetrado em Chongqing.

Wang porem fugiu a tempo para o consulado americano da cidade vizinha e pediu asilo no mês passado. 24 horas depois saiu do consulado e foi preso por autoridades ligadas ao governo central "para investigação".

"A China está numa encruzilhada", dizia ha poucas semanas Jiang Weiping, veterano jornalista chinês exilado em Toronto. "Ou bem ela parte para uma reforma política e se moderniza, ou cai numa nova revolução cultural como quer Bo Xilai. Se ele vencer será um desastre para o país e para o mundo".

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