"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 28 de março de 2012

"SÓ SE MORRE UMA VEZ. MAS É PARA SEMPRE".

“Um dia, mais dia menos dia, acaba o dia-a-dia.” A Morte segundo Millôr Fernandes (1924-2012).
Extraído de “ A bíblia do caos”, de Millôr Fernandes.

Morrer é o que você nunca conta com, porque sempre acha que não vai já.

Morrer não tem perdão.

A maior causa da mortalidade são os nascimentos.

A maior causa de mortalidade no mundo inteiro é esse mal terrível chamado diagnóstico.

Pensamento final de todo mundo: “Mas já? E por que eu? Por que tão cedo? Por que assim? Por que pra sempre?

A morte mata. É a sua função e ela a exerce. Ao contrário da vida. Não existe a expressão: a vida vive. A morte me apavora. Não só a morte final. Também, e sempre, a morte diária, o resgate, o tento a tento, do tempo que me deram de vida. A hora que passa. O instante que flui. Ah, já falei tanto sobre isso. “Morro mas morre o mundo comigo”. Que compensação!

A morte é hereditária.

A morte, amaior parte do tempo é um sentimento desfocado, apenas um frio na espinha que dá de vez em quando e se repele. Mas se a maior parte dos temores não se realiza, este se realizará, fiquem tranquilos.

A vantagem de morrer moço é que se economiza muitos anos de velhice.

Não estar aqui e não estar em parte alguma eu não mereço. Não há nada mais terrível que a morte, não me minta, mais verdadeiro, menos compartilhado.

O mal da vida é que todo mundo tem onde cair morto.

A morte é compulsória. A vida não.

A morte se alimenta do ato de viver.

Estou jurado de morte, mas continuo cheio de vida.

Lendo história verifico que tem gente que já morreu há mais de 100.000 anos. E me vem uma certeza: a morte pode não ser definitiva, mas é por muito tempo.

Nem todos morrem. Os que morrem depois de nós são imortais.

O cadáver, esse sim, é um homem realizado.

Um dia, mais dia menos dia, acaba o dia-a-dia.

Quando eu morrer só acreditarei na sinceridade de uma homenagem – o agente funerário não me cobrar o enterro.

Só se morre uma vez. Mas é para sempre.

Todos falam em mortes prematuras, ninguém fala em mortes procrastinadas.

A morte é dramática, o enterro é cômico, e os parentes, ridículos.

Não tenha medo de morrer. Talvez não haja o desconhecido, haja um velho amigo.

Se a morte é fatal, por que todo mundo deixa o enterro pra última hora.

Tali o velho, sentadão no parque, com a morte já aparecendo.

Todo dia leio os anúncios fúnebres dos jornais: às vezes a gente tem surpresas agradabilíssimas.

Morte súbita é aquela em que a pessoa morre sem o auxílio dos médicos.

27 de março de 2012
Ricardo Froes

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