O título inspirado no livro de Sérgio Augusto, editora Casa da Palavra, e também no filme de Frederico Fellini, é a síntese a que chego depois de ler as reportagens de Fábio Vasconcelos, O Globo, Cláudia Antunes, Folha de São Paulo, Alfredo Junqueira, O Estado de São Paulo, edições de sábado, sobre a viagem e estada em Paris do governador Sérgio Cabral e do empresário Fernando Cavendish. E também da múltipla comitiva do chefe do Executivo do Rio de Janeiro, formada por vários secretários e até por um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.
Um escândalo. No conteúdo e na forma. Falta de ética no primeiro caso. Falta de compostura no segundo. Basta examinar as fotos que acompanham as matérias, todas originárias do blog que o deputado Anthony Garotinho mantém na internet.
Como o ex-governador as obteve constitui um mistério. Mas as imagens foram exibidas. Registro de um desabamento político administrativo.
Fernando Cavendish, dono da Delta, era a pessoa indicada para integrar o grupo, já que sua empresa possuia contatos com a administração pública estadual, entre eles a modernização do Maracanã, Estádio Mário Filho, a rodovia Transcarioca, o novo edifício do Tribunal de Justiça. Falei possuia, mas não tenho certeza se, depois da tempestade, ainda possui.
Isso porque a empreiteira já foi substituída no Maracanã e na Transcarioca.
No título destaquei o livro do jornalista Sérgio Augusto, exatamente a frase que lá está. Citei a Dolce Vita de Fellini. Mas poderia citar também, se o espaço comportasse, O Último Tango em Paris, de Bertolucci.
Pois a meu ver a Delta, com seu nome atual, depois das reportagens que saíram, está se despedindo das empreitadas com o poder público.
As irregularidades são demais.
O envolvimento com Carlos Ramos Cachoeira a cada dia se torna mais evidente.
Cavendish e Cachoeira erraram na dose. Foi um exagero em matéria de cooptação. Não contavam, em deslumbramento assim, que existe sempre um porém. A reação das outras empresas excluídas ou prejudicadas diretamente pelos mais que causados lances da dupla fatal. Omitiram que não existe ação sem reação. E subestimaram a capacidade de ataque de suas rivais ou de seus rivais.
O governo Sérgio Cabral deixou-se enredar no episódio. Falei em deslumbramento. Pois é. O governador deslumbrou com o fascínio do poder. A política, ciência e arte ao mesmo tempo, opera no espaço do possível.
Quando este limite é ultrapassado, como acontece nas estradas, a crise é inevitável. Não adianta tentar freia-la. É sempre assim.
A extensão do quadro de envolvimento se ampliou ainda mais com a exibição pelo JN da Globo e da Band, noite de sábado, de filme focalizando um jantar na capital da França, reunindo Sérgio Cabral e Fernando Cavendish. A situação da rede de influência tecida por Cavendish, Carlos Cachoeira e Demóstenes Torres complicou-se.
Constata-se isso numa outra reportagem, esta de Alana Rizzo e Fábio Fabrini, O Estado de São Paulo, também de sábado reproduzindo gravação da Polícia Federal em que Demóstenes anuncia ofensiva contra o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel. Por quê? Para que ele não investigasse os negócios de ambos. Impressionante. Foto de André Dusek.
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