"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 3 de abril de 2012

HISTÓRIAS DO FOLCLORE POLÍTICO BRASILEIRO

Folclore político

JK
exilado em Paris pela violência gratuita do golpe de 64, Juscelino saiu uma tarde dirigindo seu carro e curtindo saudades do Brasil, numa conversa com seu velho amigo Olavo Drummond. Chegaram à Place Vendômme, estacionou em um lugar proibido. O guarda logo aparece, alto e posudo, com seu bonezinho à De Gaulle. Pediu a carteira de motorista, conferiu :

- Oh, senhor Kubitschek? Parente do grande presidente Kubitschek do Brasil?

- Sou eu.

- O senhor, o próprio presidente Kubitschek? Por favor, dê-me a chave do carro. Eu mesmo vou estaciona-lo. Aqui, apesar de exilado, o senhor continua presidente, como sei que continua lá.

JK entregou a chave, pôs a mão no ombro de Olavo e chorou.

ALKMIN

José Maria Alkmin, ministro da Fazenda, e Augusto Frederico Schmidt, assessor de inteligência de Juscelino, foram jantar com o embaixador do Egito. A conversa corria sobre as influencias árabes no Brasil. Schmidt provocou :

- Nosso Alkmin, por exemplo, é um árabe puro, a partir do nome. O que é que significa mesmo Alkmin?

O embaixador sorriu, ficou sem jeito, respondeu:

- “Al” é o artigo “O”. “Kmin” é “mentira”. Alquime é o ouro falso. Alquimia eram conhecimentos quiméricos da Idade Media.

- O senhor está dizendo então que eu sou “o mentiroso”?

Despediram-se às gargalhadas. Schmidt foi contar a JK.

- Alkmin já esteve aqui. Disse que “Alkmin” é “o valente”.

SANTIAGO

Santiago Dantas foi à Polônia receber o titulo de doutor Honoris Causa da multisecular Universidade de Cracóvia (terra de João Paulo II). Na hora da solenidade, deu-se conta de que esqueceu o texto do discurso de agradecimento que tinha preparado para ser lido, como manda a tradição.

Mas era preciso não ser indelicado. Chamou Marcilio Marques Moreira, diplomata e assessor, pediu algumas folhas em branco, levantou-se com elas nas mãos, e, fitando-as com firmeza, pronunciou longo discurso em francês, como se estivesse lendo.

Só Marcilio sabia.

JOSÉ BONIFACIO


Em maio de 76, na viagem do presidente Geisel a Londres, grupos de brasileiros que moravam lá levaram faixas e manifestos para a frente da embaixada do Brasil, protestando contra a visita do “ditador”. Um jornalista encontrou, tranqüilo e distante, o deputado José Bonifácio, líder da Arena :

- Deputado, o que o senhor está achando das faixas e manifestos?

- Não estou achando nada, meu caro. Não sei inglês.

AUGUSTO DE LIMA

Em 40, Getulio nomeou o historiador e brilhante intelectual mineiro Augusto de Lima Junior, filho do poeta e da avenida do poeta, ministro plenipotenciário do Brasil durante as solenidades de mais um centenário da independencia de Portugal.

Liminha chegou lá de discurso no bolso, feliz com a história e com a retórica. Mas no dia seguinte também chegou o ministro do Exterior João Neves da Fontoura, orador pomposo, acompanhado de ilustre comitiva, e comunicou que ia falar em nome do Brasil.

Lima Junior enlouqueceu. Pouco antes da solenidade, telefonou para o hotel e disse ao ministro que havia chegado do Brasil um telegrama do Presidente para ele. João Neves correu para lá, trancou-se para ler o telegrama, não havia telegrama nenhum.

03 de abril de 2012
sebastião nery

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