"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 3 de abril de 2012

AS LANCHAS SUPERFATURADAS DA IDELI

Ministro diz que isso nunca deveria ter sido feito.

O ministro da Pesca, Marcelo Crivella, criticou ontem o pedido de doação eleitoral que um empresário que tem contrato milionário com a pasta disse ter recebido de um funcionário do ministério nas eleições de 2010.
"Minha opinião é a opinião de todo o Brasil. Isso não deveria nunca ter ocorrido", disse Crivella, depois de uma reunião com o setor pesqueiro, em Florianópolis. Ele disse que vai "tentar saber quem fez isso" e que distribuirá memorando interno "deplorando tal prática".

Dono da empresa Intech Boating, José Antonio Galízio afirmou ter doado R$ 150 mil ao comitê financeiro do PT-SC em 2010. À época, a candidata a governadora pelo partido era Ideli Salvatti. Derrotada, ela virou ministra da Pesca e hoje chefia as Relações Institucionais.

O PT catarinense comandou a Pesca desde a criação da pasta, em 2003, até a saída de Ideli, ano passado. Depois dela, assumiu Luiz Sérgio (PT-RJ), que classificou o pedido de doação como "malfeito". Desde o início de março, Crivella, senador pelo PRB-RJ, é o primeiro não petista ministro da Pesca.

Apesar de ter criticado o pedido de dinheiro, Crivella afirmou ter encontrado na pasta "muitas coisas boas" feitas pelo petista Altemir Gregolin, que era ministro quando teria sido pedido o dinheiro à Intech Boating.
O Tribunal de Contas da União apontou superfaturamento e direcionamento da licitação para fornecer 28 lanchas no valor de R$ 31 milhões ao Ministério da Pesca.
A empresa e Gregolin negam. À Folha, Gregolin afirmou que nunca pediu doação quando ministro. "Também nunca autorizei nem tomei conhecimento de pedido dentro do ministério", afirmou.

Crivella disse que o petista tem "todo o direito de defesa" no caso. E acrescentou que a compra de barcos "nada tem a ver" com a arrecadação de fundos.

"Acredito que seus argumentos [de Gregolin] vão esclarecer tudo", afirmou o novo ministro ontem. Primeiro ministro da Pesca, o presidente do PT-SC, José Fritsch, também negou saber de pedidos de doações. No sábado, o empresário Galízio disse que foi procurado por um funcionário do ministério, cujo nome diz não lembrar, que teria afirmado: "Você, como parceiro, como fornecedor, poderia fazer doação". Só depois alguém do PT-SC teria insistido.

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), afirmou que vai encaminhar representação à Comissão de Ética Pública da Presidência da República para pedir a investigação da compra das lanchas.
"O fato novo é a doação para campanha eleitoral com o superfaturamento das lanchas. Isso já foi admitido pelo ex-ministro Luiz Sérgio [Pesca]. O governo tem que instaurar os procedimentos para investigar os fatos desde o início", disse o senador.

03 de abril de 2012
(Folha de São Paulo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário