Esta terça pode ser um dia decisivo para Demóstenes Torres (GO). É o prazo anunciado pelo DEM para que ele apresente as suas “explicações”. Tudo indica que o senador manterá seu silêncio, seguindo a estratégia do advogado que o defende. Se não pedir a desfiliação ou renunciar, é praticamente certo que o DEM o expulse. Há posts abaixo que tratam do assunto. Quero aqui me ater a outro aspecto, que chamo de vingança dos imorais, agora desreprimidos…
Por que o senador Demóstenes está prestes a ser expulso do DEM e pode perder o mandato? A resposta é simplíssima: porque o que veio a público de suas relações com Carlinhos Cachoeira sugere que ele não vivia conforme o credo que anunciava. Professava em público valores que, segundo indicam as conversas, não eram seguidos à risca pelo próprio arauto. Já escrevi aqui quão ruim isso é para a política e, obviamente, para a oposição.
Atenção! Não retiro uma linha dos vários elogios que fiz à atuação de Demóstenes no Senado. Ele tinha um desempenho correto e atento. Ou, então, digam por que não! Foi, aliás, o relator da Lei da Ficha Limpa na Casa — com a qual não concordo, mas que goza de grande prestígio. Até parlamentares da base do governo o reconheciam como sério e aplicado, ainda que discordassem dele.
Mas por que os blogueiros que jantam com José Dirceu na casa de Paulo Henrique Amorim estão em festa? Seria só porque um senador da oposição quebrou a cara? É claro que não! A oposição já é raquítica hoje, com Demóstenes e tudo. O governo Dilma sabe que não tem nada a temer a não ser, eventualmente, os grilhões do PMDB e um ou outro partido menor da base aliada. A turma que divide com o Zé bobó de camarão com caipirinha na casa daquele gigante do progressismo está celebrando outra coisa: “Ora, se até o senador Demóstenes caiu, e de maneira tão avassaladora, está provado que moral política não existe mesmo! Fica evidenciado que todos pecam. Mais ainda: os que mais falam em moral e retidão são os piores”.
É a vingança da imoralidade, vivendo seu momento de desrepressão. Eles não querem apenas ver Demóstenes morto politicamente. Isso, convenham, já aconteceu. Querem liquidar com a própria moralidade, como se todos os maus passos dados pelo senador na relação com Carlinhos Cachoeira fossem um desdobramento, uma consequência ou um apanágio da sua pregação e de sua atuação. E A VERDADE ESTÁ JUSTAMENTE NO OPOSTO: tudo o que ficamos sabendo dia após dia só nos diz que havia incongruência entre intenção anunciada e gesto. E é isso o que choca.
Não para a turma do bobó de camarão com caipirinha — aquele gigante não iria servir vinho caro pra “blogueiro progressista”, né? A cada um segundo a sua classe…
Que o senador Demóstenes arque com as consequências de suas relações com Carlinhos Cachoeira, mas atenção:
— isso não torna errada a pregação que o notabilizou; ao contrário: porque ela estava certa, ele está pagando um preço muito alto;
— isso não desculpa ou explica os mensaleiros; ao contrário: isso só nos diz da necessidade de dar andamento rápido àquele processo.
Pensem bem: que boa razão existe para que políticos da oposição flagrados em delito sejam calcinados com tamanha rapidez, e o processo dos 37 do mensalão se arraste JÁ POR SETE ANOS? Se o ministro Ricardo Lewandowski não agir rapidamente, talvez tenhamos outros sete pela frente…
Alguém dirá: “Ah, Reinaldo, são coisas diferentes, com ritos processuais distintos…” Oh, sim, eu sei. Sou razoavelmente aplicado na leitura de coisas da área. O problema é que mensaleiros e aloprados, para a sua sorte e infelicidade do país, nunca contaram com uma Polícia Federal diligente para fazer gravações, não é? Até agora, esse é um método que só foi testado com políticos de oposição.
Contra os fatos
O mais espantoso é ver que o Jornalismo da Esgotosfera Governista (JEG) vende para os trouxas que caem na sua conversa a falácia de que a imprensa estaria pegando leve com Demóstenes ou sendo menos exigente com o senador do que é com petistas, por exemplo. Mentira! Ao contrário: dado o que já vazou, o senador já não tem mais saída política. O país tem a lamentar, sim! A lamentar o quê? A perda do que se conhecia de sua atuação, não do que se ignorava!
As pessoas decentes que querem que Demóstenes pague por sua intimidade com Cachoeira o querem porque consideram que sua ação era incompatível com o seu discurso. Os que celebram com Dirceu o bobó de camarão e proclamam a sua inocência o fazem porque acreditam que suas práticas são compatíveis com seu discurso.
Não vejo ninguém a defender a atuação de Demóstenes — não essa que era desconhecida; uns poucos têm o bom senso de reconhecer que a sua atuação visível era correta, destemida até. Mas se vê a rede organizada que tem a cara de pau — e o bolso de ouro — de defender mensaleiros.
É a velha moral dessa gente: os adversários serão sempre criminosos, até quando são inocentes; já os da turma serão sempre inocentes, mesmo quando são criminosos. Demóstenes não conta com a sorte de ter admiradores assim. Os valores que ele pregava no Senado, que eram os corretos, não justificam o crime, o desvio ético e a promiscuidade política; os que o admiravam são os primeiros a puni-lo. Já os valores da esquerda, que dão ânimo aos mensaleiros, compõem a essência do próprio crime.
O caso Demóstenes, pois, não pode ajudar a livrar a cara dos mensaleiros, não! Tem é de colaborar para a punição exemplar.
03 de abril de 2012
Reinaldo Azevedo
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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