"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 3 de abril de 2012

NOVA PALAVRA MÁGICA

A violência no futebol é a mesma que ocorre em toda a sociedade, em suas várias formas.

Dois anos atrás, depois de viver 11 anos mais próximo da natureza e de pequenos animais, voltei a morar na cidade. Estou impressionado com tanto barulho e desrespeito aos cidadãos e às leis. O ser humano involuiu.

Infrações frequentes, presentes nas classes pobres e ricas, como jogar papel na rua, estacionar em fila dupla, dificultar a passagem de pedestres pelas calçadas e tantas outras, são o começo para graves infrações, violências e maracutaias.

Escuto, desde a infância, que o brasileiro é dócil, de paz. Ele é agressivo, como os outros. A sociedade, cada vez mais individualista, narcisista e consumista, favorece o crescimento da violência.

Em grupo, como nas torcidas organizadas, o ser humano sente-se mais poderoso, onipotente, corajoso e seguro. É também facilmente sugestionado. Faz o que nunca faria sozinho. Segue o grupo, como se houvesse uma única mente coletiva. Fica mais violento.

A violência está também dentro de campo. O jogo, no Brasil, costuma ser tumultuado, com muitas faltas, reclamações, simulações, ofensas e desrespeito aos companheiros, adversários, árbitros e auxiliares.

Anos atrás, estava pior. A palavra que mais se ouvia, entre jogadores, técnicos e na imprensa era pegada. Um time ganhava ou perdia por causa da pegada. Durante a partida, alguns técnicos gritavam: “Pega, pega”. E explicavam que pegada era marcar de perto e ter garra. Na emoção da partida, os jogadores pegavam a canela do adversário.

Lembra da propaganda de uma cerveja, antes da Copa de 2010? O ambiente era de batalha. Dunga, raivoso, fazia um discurso patriota. Se o Brasil tivesse vencido, ele seria condecorado como um herói de guerra.

Havia também violência no passado, mas era isolada, individual. O jogo não era tão tumultuado. Isso é uma das causas da queda de qualidade do futebol brasileiro.

As coisas começam a mudar, para melhor. Após a partida entre Santos e Barcelona, na final do Mundial de Clubes, a palavra pegada foi substituída por troca de passes e posse de bola. Só se fala nisso. Em qualquer pelada, há uma grande preocupação em medir a posse de bola.

Como no Brasil é oito ou 80, posse de bola se tornou a palavra mágica, solução para tudo, para a falta de talento e até para consolo. “O time perdeu, mas teve mais posse de bola”. Melhor que dizer: “Perdeu, apesar da pegada”.

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CENTENÁRIO


No dia 30 de abril deste ano, o América completa 100 anos. Atuei no clube, como juvenil, por duas temporadas: 1962 e 1963. Na época, não havia tantas divisões nas categorias de base. Antes dos profissionais, eram apenas aspirante, formado por jogadores reservas, e juvenil, com idade abaixo dos 20 anos. O América tinha a melhor estrutura e a melhor equipe juvenil de Minas Gerais.

Hoje, o América, apesar de estar na Série B, possui uma estrutura melhor que a de muitos clubes da Série A. É bem administrado. Por isso, tenho esperança de que o América, mesmo com pouca torcida, cresça, aos poucos, e se torne, definitivamente, um time da Série A. Seria um terceiro grande de Minas. Espero que não demore.

03 de abril de 2012
Tostão
(Transcrito do jornal O Tempo)

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