"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 1 de junho de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

O VALENTÃO DE AGILDO

O querido e saudoso Agildo Barata, herói dos tenentes de 1930, dos capitães de 35 e dos comunistas de 45 e pai do brilhante ator Agildo Ribeiro, era o menor e o mais valente dos prisioneiros de Fernando de Noronha, entre 1935 e 1945, na ditadura de Getúlio Vargas.

Um guarda enorme, bruto e violento, sempre armado, estava espancando presos, que se reuniram e encarregaram Agildo de falar com ele para dar um basta. Na hora da chamada matinal, todos no patio, Agildo, baixinho, mãozinha miúda, deu dois passos à frente, ficou algum tempo parado diante do brutamontes, enfiou o dedo no nariz dele e disse que, na primeira vez em que ele batesse em um preso, iria matá-lo em público.

O guarda ficou parado, imóvel, arregalou os olhos e caiu duro. Começou o corre-corre. Chamaram o médico do presídio.

###

FERNANDO DE NORONHA

Antes do médico, chegou a mulher, debruçou-se sobre ele, gritando:
- Meu amor, não morra! Voce não pode morrer! Não me deixe!
Punha a mão nos olhos, no coração, pegava o pulso, conferindo. Chegou o médico. Não adiantou. O guarda estava morto. A mulher gritava:
- Doutor, me diga. Morreu mesmo? Será que não é só um desmaio?
- Não, minha senhora. Morreu. Acalme-se, não há mais o que fazer.
A mulher ajoelhou-se, enfiou os dedos nos olhos dele, convenceu-se de que estava morto mesmo, levantou-se, sorrindo histérica:
- Graças a Deus, doutor! Ele está morto mesmo! Morreu tarde! Isso era um bandido, um canalha. Me batia, quase me matava todo dia. Morreu tarde. Todo poderoso, todo valentão um dia se acaba!

###

LULA

O pais passou a semana estupefacto, mas sobretudo solidário com o ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Gilmar Mendes, na indignação contra o ex-presidente Lula, que o chantageou, ameaçando pôr seu nome na “CPI do Cachoeira”, que diz controlar, se ele não ajudar a “melar” o julgamento do Mensalão. A resposta do ministro foi devastadora:

- “Isto é gangsterismo, molecagem. Vamos deixar claro : estamos lidando com bandidos, um grupo de bandidos, chantagistas, desrespeitosos. É uma ação sórdida, orquestrada”, (GLOBO).

- “É uma lógica burra, irresponsável, imbecil” (FOLHA)

Como o guarda valentão de Fernando de Noronha, Lula desmontou. Mandou o PT dizer que estava “indignado” e ficou mudo. Vivo, mas mudo.

###

PETROBRAS

Não conheço dona Graça Foster, nova presidente da Petrobras. Meus amigos de lá me dizem que é séria, preparada, competente. Acredito, torço e confio. Mas o que sei é que a situação da Petrobras está feia. Hélio Duque, doutor em economia, professor, décadas na Petrobras, me diz:

1 – Há seis anos o preço do litro de gasolina produzido pela Petrobrás não é reajustado. Os derivados de petróleo vendidos na porta da refinaria estão 20% mais baratos do que no exterior. A defasagem dos preços, motivada pela interferência política na administração da empresa, vem sendo responsável direta pela sua desvalorização, afetando as suas ações no mercado de capitais e vitimando milhares de acionistas.

2 – Em dezembro de 2011, o valor de mercado da Petrobrás era de US$ 155,4 bilhões. Em maio de 2012, reduzido para US$123,9 bilhões. Perda de US$ 31,6 bilhões, o valor do Banco do Brasil: US$ 29,4 bilhões.

3 – O Centro Brasileiro de Infra-Estrutura comparou os preços praticados no golfo do México no primeiro trimestre de 2012. A perda de receita no período, pela Petrobras, foi de R$ 4,1 bilhões, refletido nos précos menores de óleo diesel (23,5%) e gasolina (20,1%).

4 – Em 2009, a importação de gasolina era de 9 mil barris diários. Agora em 2012 já chegamos a 80 mil barris por dia. Enquanto a Petrobras tem o seu preço de venda de derivados fixado em média em R$ 176,72 o barril, nos Estados Unidos o preço médio é R$ 211,65.

5 – Na origem dessas distorções está a captura da Petrobrás pelo governo. O atual presidente de seu Conselho de Administração é o ministro Guido Mantega. Nunca antes na história da Petrobrás, em qualquer tempo, mesmo em plena ditadura militar, o ministro da Fazenda integrou o Conselho de Administração da empresa e muito menos foi seu presidente.

Quem há mais de meio século foi preso lutando pela criação da Petrobras tem no mínimo o direito e o dever de avisar, advertir, reclamar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário