DUAS HISTÓRIAS DE FUTEBOL
José Lins do Rego, romancista e torcedor fanático, fez em João Pessoa um Campeonato Nacional de Futebol Amador, para homenagear José Américo, governador. O campeonato foi indo, a Paraíba fazendo figura. A torcida explodia de feliz.
Chegou a partida final: Bahia x Paraíba. O filho do governador, José Américo Filho, chamou o juiz, Tenente Lira, da Polícia Militar do Estado:
- Lira, pai não pode perder. Este campeonato é homenagem a ele e temos que ganhar de qualquer jeito. Se a Paraíba ganhar, você vai a capitão. Se perder, adeus farda.
Começou o jogo, a Bahia apertando, encurralando a Paraíba. As arquibancadas urravam: Paraíba!!! Paraíba!!!. Mas o gol paraibano não saía.
Lira olhava para a tribuna da honra, onde estavam José Américo, o filho e as autoridades, levantava a mão, pedia calma. Inventava faltas, perseguia os baianos, protegia os paraibanos, mas o gol não saía. O negro goleiro baiano pegava todas.
O jogo irritantemente zero a zero. Lira perdeu a paciência, marcou um pênalti contra a Bahia. Não havia pênalti nenhum, mas marcou. O campo inteiro berrou enlouquecido. Bitota, artilheiro da Paraíba, chutou. O goleiro da Bahia pegou. Lira gritou:
- Nulo! Chuta de novo! O goleiro se moveu no gol!
O goleiro baiano protestou:
- Não me movi não, seu juiz!
Lira deu três passos, chegou bem junto do goleiro e rosnou no ouvido dele:
- Fica calado aí, negro, senão eu mando te arrebentar. Já viu goleiro pegar pênalti?
Lira virou capitão.
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O PÊNALTI DO CORONEL
Dia de festa em Limoeiro, Pernambuco. O time da cidade ia jogar com o escrete de Garanhuns, disputando a final do Campeonato Intermunicipal. O coronel Chico Heraclio, senhor da terra, do fogo e do ar na região, chegou todo de branco, sentou na cadeira de vime, a partida começou.
Primeiro tempo, segundo tempo, nada. Zero a zero. Cinco minutos para acabar o jogo, o juiz, que tinha ido do Recife, marcou um pênalti contra Limoeiro. A torcida endoidou, invadiu o campo, o juiz correu para junto do coronel, com medo de ser linchado.
O coronel levantou a bengala, todo mundo parou e voltou para a arquibancada.
- O que é que houve, seu juiz?
- Um pênalti que eu marquei, coronel. É quando um jogador comete uma falta dentro de sua área.
- E o que é que acontece, seu juiz?
- Aí, coronel, a bola fica ali naquela marca branca, em frente à trave, e um jogador adversário chuta. Só ele é o goleiro.
- E faz o gol, seu juiz?
- Geralmente faz, coronel. É muito difícil goleiro pegar pênalti.
- Muito bem, seu juiz. Eu não vou tirar sua autoridade. Já que houve o tal do pênalti, faça como a regra do futebol manda. Só que o senhor, em vez de botar a bola em frente da trave de Limoeiro, faça ao favor de botar do outro lado, diante da trave de Garanhuns, e mande um jogador daqui da cidade chutar.
- Mas, coronel, isto é contra a lei.
- Pois já ficou a favor, seu juiz. Aqui em Limoeiro a lei sou eu.
Limoeiro ganhou.
José Lins do Rego, romancista e torcedor fanático, fez em João Pessoa um Campeonato Nacional de Futebol Amador, para homenagear José Américo, governador. O campeonato foi indo, a Paraíba fazendo figura. A torcida explodia de feliz.
Chegou a partida final: Bahia x Paraíba. O filho do governador, José Américo Filho, chamou o juiz, Tenente Lira, da Polícia Militar do Estado:
- Lira, pai não pode perder. Este campeonato é homenagem a ele e temos que ganhar de qualquer jeito. Se a Paraíba ganhar, você vai a capitão. Se perder, adeus farda.
Começou o jogo, a Bahia apertando, encurralando a Paraíba. As arquibancadas urravam: Paraíba!!! Paraíba!!!. Mas o gol paraibano não saía.
Lira olhava para a tribuna da honra, onde estavam José Américo, o filho e as autoridades, levantava a mão, pedia calma. Inventava faltas, perseguia os baianos, protegia os paraibanos, mas o gol não saía. O negro goleiro baiano pegava todas.
O jogo irritantemente zero a zero. Lira perdeu a paciência, marcou um pênalti contra a Bahia. Não havia pênalti nenhum, mas marcou. O campo inteiro berrou enlouquecido. Bitota, artilheiro da Paraíba, chutou. O goleiro da Bahia pegou. Lira gritou:
- Nulo! Chuta de novo! O goleiro se moveu no gol!
O goleiro baiano protestou:
- Não me movi não, seu juiz!
Lira deu três passos, chegou bem junto do goleiro e rosnou no ouvido dele:
- Fica calado aí, negro, senão eu mando te arrebentar. Já viu goleiro pegar pênalti?
Lira virou capitão.
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O PÊNALTI DO CORONEL
Dia de festa em Limoeiro, Pernambuco. O time da cidade ia jogar com o escrete de Garanhuns, disputando a final do Campeonato Intermunicipal. O coronel Chico Heraclio, senhor da terra, do fogo e do ar na região, chegou todo de branco, sentou na cadeira de vime, a partida começou.
Primeiro tempo, segundo tempo, nada. Zero a zero. Cinco minutos para acabar o jogo, o juiz, que tinha ido do Recife, marcou um pênalti contra Limoeiro. A torcida endoidou, invadiu o campo, o juiz correu para junto do coronel, com medo de ser linchado.
O coronel levantou a bengala, todo mundo parou e voltou para a arquibancada.
- O que é que houve, seu juiz?
- Um pênalti que eu marquei, coronel. É quando um jogador comete uma falta dentro de sua área.
- E o que é que acontece, seu juiz?
- Aí, coronel, a bola fica ali naquela marca branca, em frente à trave, e um jogador adversário chuta. Só ele é o goleiro.
- E faz o gol, seu juiz?
- Geralmente faz, coronel. É muito difícil goleiro pegar pênalti.
- Muito bem, seu juiz. Eu não vou tirar sua autoridade. Já que houve o tal do pênalti, faça como a regra do futebol manda. Só que o senhor, em vez de botar a bola em frente da trave de Limoeiro, faça ao favor de botar do outro lado, diante da trave de Garanhuns, e mande um jogador daqui da cidade chutar.
- Mas, coronel, isto é contra a lei.
- Pois já ficou a favor, seu juiz. Aqui em Limoeiro a lei sou eu.
Limoeiro ganhou.
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