Artigos - Movimento Revolucionário
Atribuir a criminalidade à pobreza é ofender todos os pobres. Ser criminoso é a escolha pessoal e deliberada de uma minoria infame e minúscula. Quem escolhe a “vida loka” (com “k”, mesmo; é assim que eles se identificam) quer lucro rápido, prazer imediato e poder de vida e morte sobre suas vítimas, assumindo o risco – cada vez menor devido à proteção atualmente dada aos criminosos – de ser preso ou de tombar em confronto com concorrentes ou com as forças da lei.
O criminoso é fundamentalmente um predador; como todo predador, sua vítima preferencial é quem é mais fraco que ele. Ora, quem é mais frágil que o pobre, mormente a mulher pobre?
A vítima-padrão do crime é uma mulher honesta, de pele escura, que trabalha em troca de pequeno salário e vive sozinha ou com filhos pequenos. A dissolução das estruturas de família estendida faz com que sua casa, por não ter uma presença masculina, seja percebida pelo jovem predador como um alvo fácil. Ao policial, para ela, cabe cumprir o papel social dos ausentes homens da família. Quando os grupos de “direitos humanos” confundem o predador com a presa e tratam o policial como se fosse ele o criminoso, reiteram e reforçam a vitimização dessa mulher pobre.
A classe média, que – ao contrário da mulher pobre – se faz ouvir pela sociedade, é raramente vitimada pelo crime, em termos proporcionais. São alvos difíceis: têm muros, grades e cercas elétricas, fecham-se nos carros. É ela, no entanto, que repete o discurso que atribui a criminalidade – ops, a “violência” – à pobreza, numa mistura de sentimento de culpa marxista, demonização do outro e busca do bom selvagem. O pobre, para ela, é um desconhecido cuja vida é um mistério. É o porteiro do prédio – tão bonzinho! – ou a empregada, cuja casa ela nunca visitou. A criminalidade é uma ameaça no ar, não a crueldade cotidiana dos pequenos predadores que vitimam os mais pobres.
É essa classe média, ignorante da realidade das periferias, que repete na mídia as inanidades de um discurso político de extrema-esquerda disfarçado de defesa dos direitos humanos. As baixas nos confrontos entre predadores – traficantes ou assaltantes – tornam-se, nesse discurso vil, um “genocídio de jovens pobres”. Ora, quem provoca esse suposto genocídio é quem garante que os criminosos estejam livres, nas ruas, matando um ao outro e vitimando em comum os mais fracos que eles. É quem faz com que a “vida loka” pareça uma escolha audaz e viril, ao demonizar a ação da polícia e romantizar a ação do criminoso.
06 de junho de 2013
Carlos Ramalhete é professor.
Publicado no jornal Gazeta do Povo.
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