"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 17 de junho de 2012

JUROS: BANCOS PRIVADOS NÃO CUMPREM DETERMINAÇÃO DO GOVERNO

Reportagem de Gabriel Baldocchi, Folha de São Paulo do dia 14, excelente pela clareza do texto e colocação comparativa dos números, revela diretamente que os bancos não cumpriram, até agora, as determinações do governo Dilma Rousseff no sentido de reduzir, de fato, os juros que cobram mensalmente. Fizeram pouquíssimo.

Nos cartões de crédito, inclusive, não ocorreu recuo algum de novembro de 2011 a maio de 2012: 10,7% ao mês para uma inflação de 5 pontos ao ano encontrada pelo IBGE. As reduções que houve foram mínimas. Os cheques especiais, por exemplo, desceram de 8,4% para 8,2%. Os empréstimos pessoais de 4,4% para 3,6%. O crédito consignado em folha (aposentados e pensionistas do Serviço Público e INSS) passou de 2,2% para 1,85%.

O crediário oferecido pelas lojas comerciais, em média, passou de 5,4% para 4,7%. A média geral de todas estas modalidades – acrescenta Gabriel – recebeu ligeira redução: de 6,7% para 6,2%. Quase nada.

No Brasil, as taxas relativas a 30 dias são superiores à inflação anual. Impressionante. Nenhum povo no mundo, seguramente, paga tantos juros reais quanto o brasileiro. Os dados focalizados na reportagem publicada pela FSP são da Associação Nacional dos Executivos Financeiros. Insuspeitos, portanto. Eles trabalham para os banqueiros.

Não, é claro, para os assalariados. É natural que assim seja. Porém este aspecto não substitui a injustiça social contida no ballet exibido no palco do jornal, um dos maiores do país.milhões de cartões de crédito.
No primeiro trimestre deste ano, através deles, foram movimentados 103 bilhões de reais. Mesmo sem considerar o aumento normal das compras no período de Natal, o resultado dos primeiros três meses do ano significa, feita a projeção, um movimento de pelo menos 412 bilhões até
Vale acentuar dois outros aspectos: há 179 dezembro.A aceleração das compras por intermédio dos cartões é fantástica.

Há dois ou três nãos, o faturamento dos cartões era de 250 bilhões de reais por ano. Não estou querendo dizer que todo este volume seja objeto de refinanciamento. Não é isso. Porém não creio ser exagero considerar que tal operação abranja um quarto do movimento. Ou seja: mais de 100 bilhões a 10,6% ao mês. Por aí se constata o peso das taxas cobradas no mercado consumidor. A inadimplência está batendo, segundo li outro dia, a escala de 7,2 pontos. Não é alta.

Os preços e os juros em vigor em nosso país são incrivelmente elevados. E deve-se considerar que eles incidem sobre um total de compras que se eleva a 1 trilhão e 400 bilhões. Importante este número. Porque ele é superior a massa salarial do país paga a cada exercício, aos preços do IBGE de hoje.
A massa de salários, incluindo os servidores públicos, fica contida em torno de 1 trilhão e 100 bilhões, no máximo. Pode-se calcular pela arrecadação do FGTS em2010: 61 bilhões de reais, Diário Oficial de 20 de julho de 2011, página 106. Como o Fundo de Garantia é resultado do pagamento de 8% ao mês sobre a folha salarial, basta multiplicar 61 bilhões por 12,5.

Mas os funcionários não têm FGTS, porém recebem vencimentos. Somando-se as parcelas, incluindo os que trabalham sem vínculo trabalhista algum, vamos chegar à cifra de 1 trilhão e 100 bilhões calculada por mim.
Mas este é outro assunto. O essencial da contradição global está na velocidade dos juros. Incontrolável, para os consumidores.

A siderúrgica dos tucanos


Antônio Claret era a infantaria financeira da troupe de Fernando Henrique, José Serra e Sérgio Motta no governo de Franco Montoro (83 a 87). Puseram-no na presidência do metrô paulista. Fez misérias cabeludas.
Quando Sarney assumiu a presidência da República, Fernando Henrique, Serra e Serjão tiraram Claret do metrô e o puseram presidindo a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), onde o saco de dinheiro era ainda maior. Enfiaram a mão. Fizeram pior do que no metrô.
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PERSICO E A PARTBANK

Na época, ficou famoso o escândalo da “Persico Pisamiglio”, tradicional empresa paulista que trabalhava com produtos siderúrgicos. A Persico devia para a Cosipa. O bando chamou o parceiro Mendonça de Barros (ele mesmo, o da Telegangue). Através da corretora “Partbank”, Serjão e Mendonção montaram no BNDES um lançamento de debêntures para a Persico pagar à Cosipa.
E deram o golpe da correção monetária. Não puseram a correção monetária no contrato. Naquela época de inflação galopante, com o impoluto febrabânico Mailson da Nóbrega ministro da Fazenda, comeram a correção.
E a Partbank de Serjão e Mendonção ainda virou sócia da Persico. O Tribunal de Contas da União apurou um prejuízo de US$ 14 milhões de dólares que o sindicato fernandino deu à Cosipa.

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ROBERTÃO INVESTIGOU

A Cosipa ficou com o pepino pré-tucano e a Persico faliu. Sarney, presidente, mandou Roberto Cardoso Alves, ministro da Indústria e Comércio, investigar tudo. Apuraram tudo. Sarney sabia de tudo.
Quando Fernando Henrique assumiu o Ministério da Fazenda, no governo Itamar Franco, providenciou logo a queima de arquivo. Pôs André Franco Montoro Filho como presidente da Comissão Nacional de Desestatização, no BNDES, e trataram logo de privatizar a Cosipa.
Não era uma privatização, era uma queima de arquivo. Um dos grandes medos do palácio do Planalto na era FHC era que Sarney desembrulhasse a história do Claret, do metrô, da Cosipa. Iria abrir o caixa 2 do tucanato no nascedouro.

17 de junho de 2012
Sebastião Nery

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