A encenação na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira
para tentar convencer o cidadão de que a investigação é séria parece mesmo coisa
de profissional.
Os parlamentares se apresentam como atores dispostos a desempenhar bem seus papéis e, ainda, alimentam a possibilidade de os depoentes se colocarem como grandes protagonistas. Tudo muito bem-ensaiado e, principalmente, combinado com o adversário.
As negativas do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que, aparentemente, irritaram alguns parlamentares durante o depoimento de terça-feira, foram só o começo de uma historinha que termina, por agora, com uma conclusão tão óbvia quanto o desfecho de uma novela: os governadores Perillo e Agnelo Queiroz (PT-DF) não estão diretamente ligados ao esquema Cachoeira.
Todos os passos foram cuidadosamente pensados para que o roteiro da CPI tivesse força de convencimento – provocasse aquela sensação de veracidade que somente as boas tramas são capazes de despertar. Primeiro, Perillo nega tudo, se coloca na postura de vítima e não deixa seus sigilos à disposição dos parlamentares.
O PSDB se diz ofendido, aproveita para alfinetar o relator da CPI, o deputado petista mineiro Odair Cunha, que realmente não demonstra bom desempenho.
Os tucanos alegam que o relator não sabe distinguir os tratamentos que devem ser dados a uma testemunha e a um investigado. O depoimento termina sem nenhuma conclusão. E o PSDB mantém aquela postura de partido intocável, como deve ser uma sigla de oposição.
No dia seguinte, na vez do depoimento de Agnelo Queiroz, o palco muda. Agora, é o momento de o PT mostrar que é transparente. Agnelo diz que seus sigilos podem ser quebrados, porque se sente muito incomodado na condição de suspeito.
Os companheiros dele – os governistas – entram em êxtase e aplaudem a iniciativa de forma efusiva. Alguns momentos depois, aliados de Perillo anunciam que ele também aceita a quebra de seus sigilos. E, para confirmar tudo, em Goiânia, durante uma coletiva, o próprio Perillo confirma a informação.
Como não poderia deixar de ser, após cada um – tucano e petista – cumprir o seu papel, os parlamentares começam a sinalizar que a quebra dos sigilos não é necessária. Eles deixam a entender que as ligações dos dois governadores com o bicheiro Cachoeira já estavam explicadas. Mas, ainda assim, decidem pela quebra dos sigilos.
Todos começam a demonstrar uma certa satisfação, como se tivessem a certeza de que o espetáculo foi bem-recebido pelo público. Obviamente, não esperavam os gritos de “bravo” e de “mais um”, mas, certamente, avaliaram que o circo ganhou mais público do que a realidade.
17 de junho de 2012
Carla Kreefft (O Tempo)
Os parlamentares se apresentam como atores dispostos a desempenhar bem seus papéis e, ainda, alimentam a possibilidade de os depoentes se colocarem como grandes protagonistas. Tudo muito bem-ensaiado e, principalmente, combinado com o adversário.
As negativas do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que, aparentemente, irritaram alguns parlamentares durante o depoimento de terça-feira, foram só o começo de uma historinha que termina, por agora, com uma conclusão tão óbvia quanto o desfecho de uma novela: os governadores Perillo e Agnelo Queiroz (PT-DF) não estão diretamente ligados ao esquema Cachoeira.
Todos os passos foram cuidadosamente pensados para que o roteiro da CPI tivesse força de convencimento – provocasse aquela sensação de veracidade que somente as boas tramas são capazes de despertar. Primeiro, Perillo nega tudo, se coloca na postura de vítima e não deixa seus sigilos à disposição dos parlamentares.
O PSDB se diz ofendido, aproveita para alfinetar o relator da CPI, o deputado petista mineiro Odair Cunha, que realmente não demonstra bom desempenho.
Os tucanos alegam que o relator não sabe distinguir os tratamentos que devem ser dados a uma testemunha e a um investigado. O depoimento termina sem nenhuma conclusão. E o PSDB mantém aquela postura de partido intocável, como deve ser uma sigla de oposição.
No dia seguinte, na vez do depoimento de Agnelo Queiroz, o palco muda. Agora, é o momento de o PT mostrar que é transparente. Agnelo diz que seus sigilos podem ser quebrados, porque se sente muito incomodado na condição de suspeito.
Os companheiros dele – os governistas – entram em êxtase e aplaudem a iniciativa de forma efusiva. Alguns momentos depois, aliados de Perillo anunciam que ele também aceita a quebra de seus sigilos. E, para confirmar tudo, em Goiânia, durante uma coletiva, o próprio Perillo confirma a informação.
Como não poderia deixar de ser, após cada um – tucano e petista – cumprir o seu papel, os parlamentares começam a sinalizar que a quebra dos sigilos não é necessária. Eles deixam a entender que as ligações dos dois governadores com o bicheiro Cachoeira já estavam explicadas. Mas, ainda assim, decidem pela quebra dos sigilos.
Todos começam a demonstrar uma certa satisfação, como se tivessem a certeza de que o espetáculo foi bem-recebido pelo público. Obviamente, não esperavam os gritos de “bravo” e de “mais um”, mas, certamente, avaliaram que o circo ganhou mais público do que a realidade.
17 de junho de 2012
Carla Kreefft (O Tempo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário