"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 14 de junho de 2012

PROMOTORES DE SP ESCARNECEM DA POPULAÇÃO QUE LHES PAGA O SALÁRIO. E MARILENA CHAUI, A PENSADORAI DOS MENSALEIROS, VOLTA A DAR RASANTES COM SUA VASSOURA FILOSÓFICA.

Eles querem é que a Cracolância seja considerada uma USP e que a USP vire uma Cracolândia!

Já deveria ter escrito a respeito, mas, como sabem, a agenda anda um tanto carregada. Quatro promotores do Ministério Público de São Paulo, capitaneados por Maurício Ribeiro Lopes, promotor da Habitação, entraram com uma ação civil pública contra o governo do estado cobrando uma indenização de R$ 40 milhões por “danos morais coletivos”. E o que o governo fez de tão grave? A operação na Cracolândia! Segundo o inquérito conduzido por Lopes, ela foi desastrosa e não cumpriu seus objetivos. Os preclaros pedem ainda uma liminar que impeça a Polícia Militar de dispersar os usuários de droga da região.

Desde que a operação começou, e a Secretaria de Justiça tem esses dados documentados, houve a internação voluntária de 660 dependentes. Foram enviadas para abrigos 11 mil pessoas, 121 presos foragidos foram recapturados, e 462 traficantes foram presos.
Mas Lopes e seus colegas não estão contentes, não. Acusam agressão aos direitos humanos e dizem que a operação não cumpriu seus objetivos: “Começou de modo desastrado pela sua desarticulação, desenvolveu-se de modo violento e, se chegou ao final, chegou com resultado desastroso”, define o valente.

Sabem o que é pior? Essa gente pretende falar em nome do povo. Segundo pesquisa feita pelo Datafolha, 82% dos paulistanos apoiam a ação do governo e da prefeitura na cracolândia. Nem poderia ser diferente. Aquela era uma região da cidade que estava sitiada.
O primeiro passo em casos assim é recuperar o território. Se estivesse no Rio, Lopes iria querer impedir a instalação das UPPs alegando que elas não conseguiram acabar com o tráfico. Eu sou crítico daquele programa, sim, mas por uma razão em particular: por não prender os traficantes.

É evidente que a operação na Cracolândia não fez com que viciados desaparecessem. Não existe com esse objetivo. Então vejamos: a internação compulsória é proibida por lei, e ninguém é preso por portar drogas apenas para consumo. Se a polícia estiver impedida de dispersar os consumidores, que tendem a tomar conta do espaço público e a criar um mundo particular, o resultado é um só: agressão aos direitos da população comum, que trabalha, que estuda, que trabalha e estuda, que gera, em suma, os impostos que pagam os salários de Lopes e de seus amigos.

Lembram-se dele?

Ah, Lopes é um velho conhecido de vocês. É aquele cinquentão que usa um brincão na orelha esquerda, talvez para ficar mais parecido com o filho… É claro que o que lhe dita o pensamento é o que tem entre as orelhas.
E não é coisa boa. Fiz referência ao brinco, que lhe confere um ar, assim, de tiozão chacoalhando a pança em balada adolescente, porque me lembrei de São Paulo — no caso, o apóstolo que dá nome à cidade. “Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino.
Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino.” Lopes vive, certamente, a meninice da ideologia. Daria a outra orelha ao furo, estou certo, para invadir a reitoria da USP — já chego à Madame Mim da vassoura…

Mas é possível que vocês não tenham se lembrado do tiozão pelo brinco. Então eu lhes refresco a memória com outra ação detestável desse senhor. Em outubro do ano passado, a prefeitura decidiu transferir um albergue de uma área de Pinheiros (referência para quem não mora em Sampa: é um bairro de classe média, com alguns bolsões de pobreza) para outra mais residencial, na rua Cardeal Arcoverde.
Um grupo de moradores resolveu se mobilizar contra a decisão e entregou ao Ministério Público Estadual um abaixo-assinado com 1,2 mil assinaturas. Mal sabiam que estavam caindo numa armadilha! Sabem o que fez Lopes? Não só indeferiu o pedido (até aí, tudo bem!) como associou os manifestantes a “higienistas do Terceiro Reich”.
Foi explícito: “É de causar inveja a qualquer higienista social do Terceiro Reich a demonstração de tal insensibilidade”. Suas palavras já eram absurdas e persecutórias o bastante. Mas ele não se deu por satisfeito: encaminhou o nome de seis síndicos que assinaram a petição para a Delegacia de Polícia Especializada em Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

É coisa de fascista! É coisa de comunista da antiga Alemanha Oriental! Um dos direitos fundamentais de qualquer cidadão num estado democrático é encaminhar petições ao estado. Ninguém pode ser molestado por uma autoridade ou punido por isso.
Ocorre que o nosso promotor “da habitação” não está nem aí para quem paga impostos. Ele é um justiceiro social — e, como se vê, faz justiça à custa do homem comum. Ao molestar os moradores de Pinheiros, quer impedir o cidadão de ser cidadão; ao tentar impedir a ação na Cracolândia, quer impedir o governo de ser governo.

Agora ela…

Marilena Chaui voltou a dar rasantes na USP com sua vassoura filosófica. Não é estranho que ressurja no noticiário neste momento. Eu a chamo de “a pensadora dos mensaleiros” porque ela foi a autora original — sim, foi ela! — da mentira estúpida de que a denúncia do mensalão foi só uma tentativa de dar um golpe em Lula.
Num ato em favor da criação de uma Comissão da Verdade na USP (só para a USP…), a Madame Mim da filosofia ligou o reitor João Grandino Rodas à ditadura, o que é uma tolice, atacou indiretamente o governo do estado — “há uma hegemonia no Estado de São Paulo de um pensamento privatista e neoliberal, a USP está sendo regida por esses princípios por este reitor” — e MENTIU: afirmou que a Reitoria pôs a polícia no campus “para espancar estudantes”. As autoridades tendem a ser frouxas com gente assim.
Não deveriam. No lugar do governo e da PM, eu processaria essa senhora para que ela mostrasse onde estão os estudantes espancados. Como pode mentir de forma tão miserável quem está num ato em favor de uma “Comissão da Verdade”?
Exagero ao associá-la a uma bruxa? Não deixa de ser um elogio. Quem recorre a um engodo, a uma farsa — como a história do suposto “golpe” — para tentar livrar a cara de mensaleiros ou minimizar seus crimes merece é epíteto pior.
Há muito tempo essa funcionária pública paga para pensar com independência não passa de mero esbirro de um partido político. Atenção! Há 55 universidades federais em greve, boa parte delas funcionando em condições precárias. Em muitas, faltam laboratórios.
Em algumas, não há nem esgoto nem água encanada. Mas Madame Mim quer é acabar com o “projeto neoliberal” da USP!!! Os petistas não descansam enquanto não reduzirem São Paulo ao tamanho de sua utopia.

A polícia está na USP, com o apoio da esmagadora maioria dos estudantes, para protegê-los. Esta Górgona do esquerdismo chulé tripudia sobre o corpo do estudante de ciências atuariais Felipe Ramos de Paiva, morto em maio do ano passado no campus, durante um assalto. Felipe era um rapaz de família pobre, morador de Pirituba.
Dona Chaui não deve saber onde fica porque o público para o qual prega socialismo se concentra no Alto de Pinheiros, nos Jardins, na Vila Nova Conceição e em Higienópolis. Há mais comunistas nestes metros quadrados entre os mais caros do mundo do que em Pequim ou em Havana.

Felipe tinha origem pobre, sim, mas já havia coseguido um excelente emprego, trabalhava numa empresa de gestão de fundo de investimentos e era considerado pelos colegas um workaholic — talvez um “neoliberal”, diria a Górgona. Felipe, em suma, jamais seria um deles: afinal, o rapaz era um… TRABALHADOR! Por que a USP deveria dar bola a gente como ele? Tem é de mimar os maconheiros!
Eis aí: no mundo de Lopes, a Cracolândia vira uma academia. No mundo de Marilena, a USP vira uma Cracolândia.
14 de junho de 2012
Por Reinaldo Azevedo

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