A ex-ministra ex-petista Marina Silva causou rebuliços ao participar da abertura das Olimpíadas de Londres (ou para os “Jogos Olímpicos”, como diz o jornalismo maior de idade). A surpresa geral da nação foi ainda maior visto que, desta feita, todos estão sabendo do que acontece nas Olimpíadas pela outra.
Além de segurar a bandeira olímpica, Marina Silva foi homenageada ao lado de sumidades como o ex-boxeador Muhamad Ali e a liberiana Leymah Gbawee (não se preocupe por não conhecer: a vencedora do Nobel da Paz em 2011 também não é conhecida por nenhum grande humanista destas bandas), mesmo sendo chamada apenas por “a brasileira Marina Silva” na narração da Record.
A homenagem, feita também a outras sete personalidades, foi guardada a sete chaves pelos organizadores. Mesmo a presidente Dilma Rousseff (talvez a principal responsável por Marina abandonar o barco petista) não ficou sabendo. A própria Marina Silva só foi avisada com quatro dias de antecedência.
Usualmente são atletas que carregam a bandeira do Comitê Olímpico. Mas não foram os heróicos atletas brasileiros que tiveram um faniquito invejoso da ex-ministra. Foi o ministro dos Esportes (seja lá o que for isso) Aldo Rebelo. O comunista ironizou a participação de Marina Silva esta manhã, como informa Fabio Campana.
Segundo Aldo, não é o governo quem escolhe a pessoa que vai levar a bandeira olímpica e sim a Casa Real. “Não podemos determinar quem a Casa Real vai convidar, fazer o quê?”, ironizou. “A Marina Silva sempre teve boas relações com a aristocracia europeia”, justificou.
É mesmo preciso ser do velho partidão para acreditar tão fortemente em uma “aristocracia” européia, mormente uma composta pelo Comitê Olímpico Internacional (que inclui não só monarquias européias mas, ora, até mesmo democracias não-européias).
É claro que o COI iria preferir chamar uma personalidade internacional (um nome conhecido da ONU) como Marina Silva e não um “ministro do Esporte” como Aldo, mais conhecido pelo projeto de lei que dispõe sobre a obrigatoriedade de adição de farinha de mandioca, de raspas de mandioca ou de fácula de mandioca à farinha de trigo (contra o imperialismo do pão francês!), pelo projeto de lei que proibiria em 90 dias o uso de palavras ou expressões estrangeiras, obrigando-as a serem substituídas por equivalentes da língua portuguesa (en passant, devemos lembrar que a palavra “comuna”, que dá origem ao nome de seu partido, não possui equivalente semântico em língua portuguesa, por não designarem a mesma coisa, mas está lá, como raiz do adjetivo de seu próprio partido), ou ainda por tentar tungar em R$32.200,00 o escritor Millôr Fernandes, que, ao comentar esta última contribuição aldorebelista à república, afirmou que Aldo proferira muita “idioletice” (idioleto é a variação lingüística em nível individual, ou seja, o que qualquer pessoa imprime personalisticamente à língua), e Aldo aquilatou que sua honra fora atingida neste montante de dezenas de milhares de coroas por isso.
Por óbvio que não foi apenas o nosso Aldo que reagiu como um agente da KGB descobrindo que o filho gosta de Coca-Cola. Informa a Exame:
O presidente da Câmara, Marco Maia, disse que a primeira reação foi de surpresa. Para ele, o COI deveria ter feito um melhor trabalho de comunicação com o governo brasileiro. “É óbvio que seria mais adequado por parte do COI e da organização do evento que houvesse um diálogo de forma mais concreta com o governo brasileiro para a escolha das pessoas”, disse, sem deixar de reconhecer a importância do trabalho ambiental de Marina.Para outro membro da delegação, que pediu para não ser identificado, o que o COI fez foi o equivalente a convidar um membro da oposição britânica para um evento no Brasil que tenha o governo de Londres como convidado especial. (…)
Ontem, Dilma foi mostrada pelas câmeras oficiais por menos de cinco segundos, enquanto a entrada de Marina foi amplamente comentada, como representante da luta ambiental no mundo. O ministro do Turismo, Gastão Vieira, só ficou sabendo da presença de Marina já no Estádio Olímpico. “Foi surpresa”, disse o ministro da Ciência, Marco Antonio Raupp.
Ou seja, o governo brasileiro é que deve dizer quem pode e quem não pode. Ou, mais exatamente, o partido que cuida atualmente do governo brasileiro. Uma vez Partidão, sempre Partidão.
Como se Aldo não já tivesse proferido sentença infeliz o suficiente, Dilma também aproveitou para dizer que “Nós vamos fazer muito melhor, vamos levar uma escola de samba e abafar”.
Mas por que Marina Silva deveria ser atacada por supostas “boas relações com a aristocracia européia”? É mais bonito ser mal-criado e comer com os cotovelos em cima da mesa? É mais interessante manter uma política de nojinho e ataques gratuitos – quod erat demonstrandum?
Ademais, as companhias de Aldo, quando expostas a público, revelam justamente a principal razão oculta (ou Hintergedanken, pra sacanear) de sua inveja.
Aldo Rebelo anda bem acompanhado da bancada ruralista mais caricata no Congresso – justamente pelo vezo de acreditar em uma “industrialização” coletivista nos moldes da política stalinista da kholkhoz (dá pra traduzir isso?), que se diferencia do coronelismo brega dos rincões rurais do Brasil pela quantidade de mortos de fome (o modelo comunista ganha com algumass centenas de milhões de cadáveres de vantagem, antes do coronelismo chegar ao primeiro milhão).
Marina Silva é homenageada pelo Comitê Olímpico Internacional justamente por sua luta pela preservação da floresta amazônica (por métodos discutíveis que o sejam) e pela luta contra os pistoleiros assassinos que ganharam fama internacional após o assassinato de Chico Mendes.
Será que Aldo Rebelo acha mais elegante manter boas relações com este tipo de aristocracia?
28 de julho de 2012
implicante
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