O governador do Rio Grande do Sul, o peremptório Tarso Genro (PT), assinou na noite de terça-feira (17/7) o decreto que cria a Comissão Estadual da Verdade, em uma solenidade no auditório do Ministério Público.
O documento foi formalizado ao lado do juiz espanhol Baltasar Garzón, que foi colocado em disponibilidade de seu cargo pela Suprema Corte da Espanha, onde foi condenado por ordenar escutas telefônicas ilegais de advogados e seus clientes.
Ainda não há informações sobre como funcionará a Comissão do peremptório governador petista, nem quem fará parte dessa célula. Segundo o ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça, e presidente da Comissão da Verdade de Dilma Rousseff, presente ao evento, a ação do governo gaúcho reflete um movimento geral segundo o qual todos os Estados trabalharão localmente para contribuir com a apuração dos crimes cometidos durante a ditadura militar brasileira.
A solenidade estava cheia de jornalistas, o governo do peremptório petista Tarso Genro fez muita publicidade do ato, mas nenhum jornalista foi capaz de ver e registrar o momento em que a advogada gaúcha Aurea Altenhofen, ao final da solenidade, aproximou-se do ministro Gilson Dipp e, muito emocionada, pediu para falar com ele.
Kurt Kriegel com sua esposa, em 1969 |
Aurea Altenhofen é neta de Kurt Kriegel, que foi assassinado na noite de 22 de setembro de 1969 em um assalto promovido por três terroristas do grupo VAR Palmares, que pretendiam realizar uma "expropriação" em benefício da revolução comunista. Kurt Kriegel morreu em seu restaurante Rembrandt, muito conhecido em Porto Alegre, assassinado pelos sete tiros que os terroristas desferiram.
O ministro Gilson Dipp ouviu a breve narrativa emocionada de Áurea Altenhofen e recebeu dela o seu relato por escrito:
"Exmo. Sr. Dr. Ministro Gilson Langaro Dipp - Coordenador na Comissão Nacional da Verdade
Eu sou Áurea Altenhofen, brasileira de Porto Alegre, advogada e neta de vítima de assassinato que ocorreu no dia 22.09.1969, o comerciante Kurt Kriegel.
Meu avô consta como única vítima do terrorismo no Rio Grande do Sul. Na época dos fatos e alguns anos mais tarde, as investigações correram em dois inquéritos, um na Delegacia Especializada de Homicídios, outro no extinto DOPS. Na capa dos inquéritos policiais constaram os nomes de três pessoas como suspeitos, após a anistia estas capas foram subtraídas e nelas escrito “autoria não identificada”, assim como desapareceu do Palácio da Polícia uma prova material do crime que continha fios de cabelo de um dos assassinos em um emplasto poroso utilizado como máscara e que foi deixado na fuga caído na calçada em frente ao local do crime.
Há anos venho tentando enterrar o meu avô, esclarecer os fatos que envolveram o seu assassinato. De qualquer forma, ainda hoje, o meu avô figura em uma lista que foi divulgada pelo Comando do 3º Exército, em uma solenidade de aniversário da Revolução que foi realizada no parque da Redenção, junto ao Monumento ao Expedicionário, quando foram lidos os nomes das vítimas, o meu avô era o único “inocente”, por não ser de nenhuma organização política (exceto a maçonaria).
Consta, também, no livro “Brasil Sempre” (Giordani, Marco Polo, 1986) que na página 45 informa: “KURT KRIEGEL, comerciante. Assassinado por grupo terrorista quando assaltava o bar de sua propriedade”.
Depois disso buscamos esclarecimentos junto a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, o que tivemos de retorno ficamos cientes através da leitura do livro, que na página 448/9, informa: “KURT KRIEGEL (1908–1969) - Número do processo: 306/96 - Data e local de nascimento: 15/05/1908, Alemanha; Filiação: Maria Kriegel e Adolf Kriegel - Organização política ou atividade: não definida; Data e local da morte: 22/09/1969, Porto Alegre (RS) - Relator: Paulo Gustavo Gonet Branco; Indeferido em: 20/06/1996. Trata-se de pedido de indenização à CEMDP que foi apresentado pela antiga companheira de Kurt Kriegel, nascido na Alemanha e estabelecido em Porto Alegre, que teria sido morto durante um assalto ao seu restaurante.
Seu nome consta na lista do site de extrema-direita Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), como tendo sido "morto por um grupo da esquerda".
Com certeza para nós, familiares de Kurt Kriegel, a questão não se resume em indenização, buscamos o direito à verdade, o direito ao esclarecimento dos fatos que envolveram a morte do nosso patriarca. É uma dívida com ele, com a nossa consciência, com a história, trata-se de um direito de cidadãos que vivem em um país com Estado de Direito e segurança jurídica.
As pessoas envolvidas em questões afetas ao caso Kurt Kriegel, quer da administração pública, policiais e militares, ou mesmo os militantes políticos, muitos estão chegando à idade avançada, alguns contam com mais de 80 anos de vida, urge que de uma vez por todas tenhamos a coragem de descortinar o passado e trazer à luz a verdade histórica dos acontecimentos que, de fato, ocorreram e atingiram os brasileiros, neste caso de forma especial a mim, aos meus familiares e amigos.
Pelo exposto requeiro a inclusão nas investigações das circunstâncias fáticas e documentais que envolveram e resultaram no assassinato de Kurt Kriegel como um dos crimes a serem esclarecidos por nossa tão esperada e sonhada Comissão Nacional da Verdade.
Aurea Altenhofen-OAB/RS 12899".
O ministro Gilson Dipp recebeu o documento e assegurou a Aurea Altenhofen que serão tomadas as providências necessária. No evento também estava presente a ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, a deputada federal Maria do Rosário.
Fonte:VideVersus
e Políbio Braga
COMENTÁRIO: segundo o jornalista Políbio Braga, "Até hoje os nomes dos três assassinos não foram identificados pela mídia, que sabe de quem se trata. Um deles, uma mulher, já morreu."
Nenhum comentário:
Postar um comentário