Para melhorar o fim de semana dos amigos da coluna, nada melhor que um texto de Celso Arnaldo sobre o inverossímil Eduardo Suplicy. Confira. (AN)
TINHA UM SUPLICY NO MEIO DO CAMINHO
Em 2004, a revista Rolling Stones fez uma lista dos 100 maiores nomes da música pop em todos os tempos, à qual deu o nome de “Os Imortais”. Em primeiro lugar, The Beatles. Em segundo, Bob Dylan.
Mas tinha um Suplicy no meio do caminho. Foi um crime gratuito, despropositado, a troco de nada, com a inconfundível marca da inimputabilidade de seu intérprete: a tortura de sua versão para Blowin´ in the Wind, assassinada à capela no púlpito do Senado pouco depois da divulgação da lista da Rolling Stones, instantaneamente arranhou a imortalidade de Bob Dylan.
Que nunca mais foi o mesmo depois que um amigo brasileiro enviou-lhe a versão-suplício desse que era até então um dos hinos universais da música pop e um momento sublime do sacro movimento da contracultura.
Quem assistiu a um dos shows de Dylan no Brasil no ano passado deve ter notado seu alheamento, seu aparente desligamento das coisas deste mundo – sobretudo cantando Blowin´ in the Wind, ele se esforça muito para não parecer Bob Dylan e para Blowin´ in the Wind não soar como Blowin´ in the wind.
Dizem que Dylan, nascido Robert Zimmerman, até pensou em sumir no vento e assumir de vez sua identidade judaica — שבתאי זיסאל בן אברהם, ou Shabtai Zisel ben Avraham – para se livrar sabaticamente do trauma.
O fato é que, desde aquele dia infame, Blowin´ in the Wind está morta – é hoje um fantasma constrangedor, que ainda vaga (veja vídeo) na voz do serial killer que já trucidou Cat Stevens, Geraldo Vandré e até os Racionais Mc´s.
Aliás, muitos senadores prefeririam dar de cara com um atirador de elite disparando a esmo um fuzil automático de verdade do que ouvir de novo o assustador “pá-pá-pá” de Suplicy quando interpretou Homem na Estrada, na tribuna. Foi um dos últimos momentos de ACM (veja o vídeo).
Bem, ninguém deteve Suplicy. E esta semana ele matou de novo, na Casa do Espanto. Supliciou até a morte outro legítimo imortal. Havia um Suplicy no meio do caminho dos 110 anos de nosso maior poeta, Carlos Drummond de Andrade. A propósito de homenagear a efeméride, atacou-o pelas costas, massacrando seus versos mais conhecidos. Na voz soluçante e trepidante de Suplicy, a antologia drummoniana ressoa como se tivesse sido escrita por José Sarney.
Para ouvir isso, quisera o poeta nunca ter saído de Itabira do Mato Dentro e nunca ter cometido um único verso — neste vasto, vasto mundo em que uma pessoa com a sem-noção de Eduardo Suplicy tem a profissão de senador vitalício da República.
Vale a hipótese: Suplicy talvez seja eleito, sucessivamente, para cumprir a cota de honestidade do Senado, hoje resumida a dois, três cases de marketing. Mas é um retrato trágico, não fosse cômico, do destino que a história reservou ao PT.
O único nome do partido não envolvido em negociatas e maracutaias é um anjo torto, que foi ser bobo na vida.
TINHA UM SUPLICY NO MEIO DO CAMINHO
Em 2004, a revista Rolling Stones fez uma lista dos 100 maiores nomes da música pop em todos os tempos, à qual deu o nome de “Os Imortais”. Em primeiro lugar, The Beatles. Em segundo, Bob Dylan.
Mas tinha um Suplicy no meio do caminho. Foi um crime gratuito, despropositado, a troco de nada, com a inconfundível marca da inimputabilidade de seu intérprete: a tortura de sua versão para Blowin´ in the Wind, assassinada à capela no púlpito do Senado pouco depois da divulgação da lista da Rolling Stones, instantaneamente arranhou a imortalidade de Bob Dylan.
Que nunca mais foi o mesmo depois que um amigo brasileiro enviou-lhe a versão-suplício desse que era até então um dos hinos universais da música pop e um momento sublime do sacro movimento da contracultura.
Quem assistiu a um dos shows de Dylan no Brasil no ano passado deve ter notado seu alheamento, seu aparente desligamento das coisas deste mundo – sobretudo cantando Blowin´ in the Wind, ele se esforça muito para não parecer Bob Dylan e para Blowin´ in the Wind não soar como Blowin´ in the wind.
Dizem que Dylan, nascido Robert Zimmerman, até pensou em sumir no vento e assumir de vez sua identidade judaica — שבתאי זיסאל בן אברהם, ou Shabtai Zisel ben Avraham – para se livrar sabaticamente do trauma.
O fato é que, desde aquele dia infame, Blowin´ in the Wind está morta – é hoje um fantasma constrangedor, que ainda vaga (veja vídeo) na voz do serial killer que já trucidou Cat Stevens, Geraldo Vandré e até os Racionais Mc´s.
Aliás, muitos senadores prefeririam dar de cara com um atirador de elite disparando a esmo um fuzil automático de verdade do que ouvir de novo o assustador “pá-pá-pá” de Suplicy quando interpretou Homem na Estrada, na tribuna. Foi um dos últimos momentos de ACM (veja o vídeo).
Bem, ninguém deteve Suplicy. E esta semana ele matou de novo, na Casa do Espanto. Supliciou até a morte outro legítimo imortal. Havia um Suplicy no meio do caminho dos 110 anos de nosso maior poeta, Carlos Drummond de Andrade. A propósito de homenagear a efeméride, atacou-o pelas costas, massacrando seus versos mais conhecidos. Na voz soluçante e trepidante de Suplicy, a antologia drummoniana ressoa como se tivesse sido escrita por José Sarney.
Para ouvir isso, quisera o poeta nunca ter saído de Itabira do Mato Dentro e nunca ter cometido um único verso — neste vasto, vasto mundo em que uma pessoa com a sem-noção de Eduardo Suplicy tem a profissão de senador vitalício da República.
Vale a hipótese: Suplicy talvez seja eleito, sucessivamente, para cumprir a cota de honestidade do Senado, hoje resumida a dois, três cases de marketing. Mas é um retrato trágico, não fosse cômico, do destino que a história reservou ao PT.
O único nome do partido não envolvido em negociatas e maracutaias é um anjo torto, que foi ser bobo na vida.
Celso Arnaldo Araújo
21 de julho de 2012
governo invisível
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