Notícias Faltantes - Foro de São Paulo
Uribe questionou o papel que estaria desempenhando nas manobras de negociação, ou fazia uma negociação secreta com as FARC, o próprio irmão do Presidente, o jornalista Enrique Santos Calderón.
O chamado “Marco para a Paz” é outro indício que reforça a hipótese da negociação secreta em Cuba, ou em qualquer outro país.
Em que pese os desmentidos do ministro da Defesa, as dúvidas persistem sobre as misteriosas negociações secretas entre as FARC e o governo do presidente Juan Manuel Santos. Pois os desmentidos oficiais são ambíguos.
O ministro Juan Carlos Pinzón, por exemplo, diz que ele não autorizou essas negociações. Claro que não. Ele não as autorizou. Mas ninguém reprova esse ministro. Quem poderia havê-las autorizado é o chefe do executivo, o presidente da República em pessoa, e nenhum de seus subalternos.
Temos, pois, uma resposta de Pinzón que não se centra sobre as afirmações do ex-presidente Uribe. Este não acusa o ministro da Defesa. Ele afirma que Santos foi quem empreendeu ou está buscando essas negociações em Cuba.
Nesta controvérsia há que ser exatos. Pois alguns porta-vozes do oficialismo estão dando respostas inadequadas, e estão recriminando o ex-presidente Uribe por afirmações que ele não fez. Em sua entrevista de 20 de agosto com Diana Calderón, da Radio Caracol, Álvaro Uribe criticou o governo de Santos por “dar sinais de preferir uma negociação com as FARC a ter uma política de segurança”. Uribe não aceita, com razão, que Santos pretenda “negociar sem exigir das FARC uma cessação de suas ações criminosas”. O ex-presidente estima que “por buscar o diálogo [Santos] debilitou a política de segurança”.
Por outro lado, Uribe não acusa generais da ativa de estar metidos na aventura secreta em Cuba. O ex-presidente repetiu seis vezes a palavra “ex-generais” (generais aposentados) em sua conversação com Diana Calderón. Entretanto, alguns meios de comunicação disseram que Uribe estava acusando “militares da ativa” de estar nisso. Sob tal pressão, o ministro Pinzón respondeu que “não existem generais da ativa desenvolvendo algum processo como o que se mencionou”, e que ele ordenará “a exclusão das Forças de quem pretenda fazê-lo”.
Do que não se fala é do mais importante: Uribe questionou de frente, nessa entrevista, o papel que estaria desempenhando nas manobras de negociação, ou fazia uma negociação secreta com as FARC, o próprio irmão do Presidente, o jornalista Enrique Santos Calderón. Também acusou do mesmo ao assessor de segurança do chefe de Estado colombiano, Sergio Jaramillo.
Diante desse ponto o silêncio dos meios de comunicação, e dos interessados, é total. Por que? Cada dia que passa sem que esses dois personagens respondam francamente à revelação feita pelo ex-presidente Uribe, consolida a hipótese de negociações secretas com as FARC em alguma parte do globo.
Eu faço parte dos que acreditamos que Álvaro Uribe está atuando de maneira patriótica e plenamente justificada neste debate. Pois os elementos que não deixam pressentir a existência de um diálogo secreto, incipiente ou não, com as FARC, estão sobre a mesa, embora alguns não queiram vê-los. A maior prova de que há algo em curso é, por um lado, a mesma desenfreada ofensiva terrorista atual das FARC e, de outro, a estratégia das Forças Militares de responder a elas golpe por golpe sem recuperar a iniciativa e desenvolver um plano ofensivo e integral.
Os colombianos sabemos que o bando narcoterrorista desata seus mais ferozes e demenciais ataques quando o Governo entra em diálogo com ela ou quando envia sinais de que quer negociar e ceder ante elas. A negociação (que elas e seus interlocutores apresentam como “de paz”) está sempre acompanhada de ações sistemáticas de guerra, de brutais atentados e de um excesso de propaganda. É uma lei que todos os extremistas do mundo aplicam, quando o adversário estatal aceita negociar. Para eles, toda negociação é um meio para obter o que não conseguiram na guerra: a derrota do Estado. As FARC não são uma exceção. Elas aplicaram essa linha durante mais de 50 anos.
Aos atuais golpes das FARC soma-se a atividade aberta dos agentes políticos delas, a escravização de amplos setores indígenas do sul-ocidente colombiano, o uso dos índios nasa (o páez) para tratar de desalojar o Exército do norte do Cauca, e a tentativa aberta de estender esse modelo ao Tolima e ao Huila. E algo muito curioso: segundo o analista Jhon Marulanda, tudo isso parece dirigido “desde a fronteira com o Equador”.
Ninguém esqueceu que durante a farsa das negociações no Caguán, e enquanto tudo transcorria entre sorrisos e abraços com o presidente Andrés Pastrana, as FARC montaram uma operação destinada a tomar Bogotá pelas armas. No começo de julho de 1999, seis meses depois de iniciados os “diálogos”, uma coluna de 500 homens saiu da zona desmilitarizada e avançou para a capital. As Forças Armadas os pararam uma semana depois em Gutiérrez (Cundinamarca) mas os combates com fragmentos dessa coluna duraram uma semana mais. O balanço desse episódio foi terrível. Cerca de 300 guerrilheiros (entre eles muitos menores) pereceram e 40 soldados e 31 policiais ofereceram suas vidas para salvar o país. A tais desgraças se vê exposta a Colômbia quando governos irresponsáveis caem hipnotizados ante as FARC e suas promessas de “saída negociada do conflito”.
Em janeiro de 2002, ao final dos diálogos do Caguán, Raúl Reyes ordenou uma série de explosões em Bogotá e a destruição da represa de Golillas. Seus homens fracassaram porém arruinaram com dinamite uma parte da grande válvula. Reyes queria inundar Bogotá e, de passagem a Villavicencio, para forçar Pastrana a concessões ainda mais extremas. Quem pode esquecer que após o fracasso do Caguán as FARC continuaram exigindo a desmilitarização de dois estados, Caquetá y Putumayo (uma região maior que Portugal), onde tinham os maiores cultivos de droga?
O chamado “Marco para a Paz” é outro indício que reforça a hipótese da negociação secreta em Cuba, ou em qualquer outro país. Essa nefasta reforma constitucional, imposta com todo rigor por Santos com a ajuda do senador Roy Barreras, parece saída da cabeça de Minerva. Santos jamais prometeu algo parecido em sua campanha eleitoral. De onde vem esse texto? Como o mistério é total, não restam senão duas possibilidades: ou é o resultado de uma negociação, ou é uma isca para abrir essa negociação.
Se for uma isca, é uma isca poderosa. Essa reforma garante não só a possibilidade de que esses exímios criminosos possam se apresentar em eleições e se converter, mediante o voto popular, em parlamentares, governadores, prefeitos e presidentes, senão que lhes garante a todos eles, sobretudo aos chefes, a impunidade de seus crimes, incluindo os crimes de lesa-humanidade. E isso por uma razão: a Justiça Transicional, a inspiradora do “Marco para a Paz”, é uma justiça absurda. O postulado central da Justiça Transicional, e do chamado “Marco para a Paz”, é fazer prevalecer a noção de “reconciliação” por sobre tudo, das noções de direito, como sanção, justiça, reparação e do mesmo direito humanitário internacional.
É uma “justiça” que favorece os violentos, pois a paz é a primeira e a última das noções vulneradas. Os países africanos e centro-americanos que adotaram essa estranha “doutrina”, repudiada pelas grandes democracias, não alcançaram nenhum dos objetivos procurados: após acolher essa “solução”, esses países caíram em novos ciclos de violência e insegurança. E jamais houve reconciliação entre os terroristas e suas vítimas.
A responsabilidade do presidente Santos é imensa! O temor de que se esteja negociando em Cuba o destino da Colômbia não foi criado artificialmente. O retrocesso no ritmo e orientação da luta anti-subversiva, o desmonte do esquema uribista que havia reduzido as FARC a uma casca de ovo sem substância, favoreceu o ressurgimento destas e das Bacrim, e o aumento brutal de suas ações anticolombianas dentro do país e na América Latina.
O reajuste ministerial que Santos anuncia no pior momento da crise de segurança do país, servirá para sair do impasse se esse reajuste não for o resultado de um reconhecimento sincero de que se cometeram erros estratégicos que a força pública, as instituições, a economia, a infraestrutura e a sociedade em geral estão pagando muito caro?
“Se o governo diz que não é assim, eu seria o primeiro a retificar”, declarou nesses dias o ex-presidente Uribe. Por que o presidente Santos não esclarece tudo a respeito de uma vez? Que desmentido Santos deu à afirmação alucinada de um de seus ministros, no sentido de que as ações das FARC não afetam a economia do país?
A investigação do atentado em Bogotá contra o ex-ministro e jornalista Fernando Londoño Hoyos, no qual morreram duas de suas escoltas e mais de 40 pessoas ficaram feridas em 15 de maio de 2012 não avançou nem gerou uma só captura. Isso não é um sinal adicional de debilidade ante as FARC? Quem poderia negar?
Se as FARC não acolheram ainda o “Marco para a Paz” é porque querem isso e muito mais. Suas ações armadas desenham uma zona enorme que esperam que Bogotá ordene despejar: os estados de Nariño, Cauca, Putumayo e Caquetá, onde eles teriam plena autonomia para fazer seus tráficos. Impensável? Não. Isso é o que Alfonso Cano queria em seus momentos de maior euforia. Timochenko não está pedindo menos. Para ele, tudo é negociável.
Nota da tradutora: Este artigo foi publicado pelo autor em 23 de agosto. No dia seguinte, o canal de televisão governamental, Canal Capital, divulgou em edição de “Última Hora”, aquilo que vinha precisamente negando, ou seja, que estava em negociação com as FARC.
Como o autor do artigo não podia tê-lo assistido antes de escrever, acrescento à brilhante análise para que se possa ver como no governo de Juan Manuel Santos as coisas mais graves acontecem por baixo dos panos, e é negado à população exatamente o que está fazendo à revelia dos que o elegeram, que queriam a continuidade ao plano de Segurança Democrática estabelecido pelo ex-presidente Uribe, que não incluía “acordos” com as FARC, e sim a destruição total delas.
28 Agosto 2012
Tradução: Graça Salgueiro
Tradução: Graça Salgueiro
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