A ciência descreve para analisar, analisa para prever e prevê para controlar. Conhecer numérica e quantitativamente a realidade política e social é uma maneira de fundamentar a formulação de previsões. O que é certo, mensurável, preciso, exato, é, em geral, considerado bom. Por isso, os jornais estão recheados de médias, projeções, estatísticas e dados quantitativos descrevendo toda sorte de fenômeno ou situação.
A própria democracia segue o principio quantitativo da vontade da maioria. É o voto da maioria que define quem é ou não eleito e o que é ou não feito. Mas é o principio do respeito à minoria que torna um sistema democrático.
Esta é uma lógica não somente ética, mas também de natureza prática. O voto da maioria não garante que as decisões vão obter os resultados desejados. A maioria não tem bola de cristal. A maioria não está sempre certa. A maioria não define o certo e o errado. O voto da maioria simplesmente indica a opção mais aceitável em um dado momento.
A opinião da maioria, entretanto, é mutável. Eventualmente, nasce o consenso pela necessidade de mudanças. Novas soluções e ideias se tornam necessárias. A possibilidade de evoluir, modificar, adaptar e adotar novos caminhos fortalece a democracia. Uma pré-condição para esta flexibilidade é a existência de opções.
É a preservação da minoria, das ideias diferentes, dissonantes e dissidentes que garante a possibilidade de escolhas acertadas no longo prazo. É a riqueza de ideias e conceitos trazida pelas minorias que faz com que seja possível à maioria ter a sua disposição opções para corrigir decisões passadas eventualmente equivocadas.
Democracia pressupõe a capacidade de adaptação das decisões ao ambiente. Pressupõe a diversidade de opiniões, opções, ideologias e conceitos convivendo pacificamente e em eterna competição pela preferência da maioria através do debate e da comparação entre as alternativas.
Democracia não garante que as decisões estejam todas certas. Ela garante a possibilidade de constante correção de rumos. Sempre buscando a melhor solução através da comparação e preservação de ideias e opiniões diversas. Mudar e adaptar são a natureza do sistema. Sem compromisso com erros. Na democracia, estar certo é mais importante do que ser coerente.
20 de agosto de 2012
Elton Simões mora no Canadá há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria).
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