Nas Entrelinhas
O PT já se deu conta de que não há meios de evitar
a "embolada" do julgamento do mensalão do PT com as eleições
municipais. Na avaliação do partido, assim que terminar as Olimpíadas, a
realidade baterá à porta sem clemência. No Planalto, há o temor de que os
petistas dificilmente terão sucesso absoluto nas grandes cidades, onde o
eleitor é mais suscetível ao noticiário. Por isso, estrategistas da legenda
consideram que caberá à presidente Dilma Rousseff fazer o que estiver ao seu
alcance para dar aos brasileiros a sensação de que o navio segue seu rumo
tranquilo, ainda que o julgamento passe a ideia de águas turvas.
A prorrogação dos contratos de concessão de energia
elétrica, embalada pela promessa de redução das tarifas ao consumidor final, é
uma das apostas deste momento. O anúncio, dentro do pacote de infraestrutura,
será feito em breve, numa hora crucial para dar ao eleitor uma ambientação de
que vai tudo bem no governo, apesar dos erros do passado expostos no Supremo
Tribunal Federal (STF) a partir de hoje. Não será surpresa, inclusive, se esse
lançamento do pacote de infraestrutura, que já vem sendo chamado de "PAC
do mensalão", vier a ser exibido no horário eleitoral gratuito nas grandes
cidades do país como uma forma de mostrar que o governo — e por tabela o PT —
não estão abalados.
O "PAC do mensalão", entretanto, não será
tão tranquilo como deseja a presidente Dilma. Se depender da Federação das
Indústrias de São Paulo (Fiesp), a prorrogação dos contratos de energia terá o
mesmo destino do mensalão: o crivo do STF. A Fiesp considera que o melhor seria
cumprir a legislação atual, que prevê novos leilões, dando uma aquecida no
mercado. O governo não pensa assim e tudo indica que caberá aos ministros do
Supremo dizer quem está certo. Essa história, no entanto, só termina depois das
eleições.
Por falar em eleições...
Antes de ter que se preparar para um embate com a
Fiesp dentro do Supremo, Dilma terá que resolver outros imbróglios, inclusive
eleitorais. Quatro deputados federais do PMDB, candidatos a prefeito de
municípios do Rio de Janeiro, foram informados de que Lula gravou participação
no horário eleitoral de seus adversários. Dos quatro a quem Lula declarou apoio
contra os peemedebistas, apenas a candidata de Angra dos Reis (RJ), Conceição
Radha, é do PT, ligada ao ex-ministro da Pesca Luiz Sérgio. Ela enfrentará
Fernando Jordão (PMDB).
Os outros três que receberam o aval de Lula são de
partidos tão aliados quanto o PMDB. Em Duque de Caxias, por exemplo, o deputado
Washington Reis se vangloria de ter feito o primeiro comício da então candidata
Dilma Rousseff no segundo turno de 2010. Lá, os petistas estão alinhados a
Alexandre Cardoso, do PSB. Em São Gonçalo, o PT apoia Adolfo Konder, do PDT,
contra a peemedebista Graça Matos, mulher do deputado Edson Ezequiel. Em Nova
Iguaçu, Nelson Bournier concorre contra a prefeita-candidata Sheila Gama, do
PDT, que também recebeu uma mensagem de apoio do ex-presidente. O caso de
Bournier não é tão grave, porque o deputado apoiou o tucano José Serra na
sucessão presidencial em 2010.
No PMDB, ninguém tem dúvidas de que essa situação
se repete por muitas cidades importantes Brasil afora. É certo que esses quatro
deputados — e outros peemedebistas que estiverem na mesma situação — vão
atribuir parte da culpa aos petistas, na hipótese de derrota. Se vitoriosos,
voltarão a Brasília com a sensação de não dever nada à presidente e seu
partido, nem mesmo uma gratidão. Ou seja, o estrago está feito antes do
primeiro debate na TV, hoje à noite. Caberá a Dilma consertar essa confusão
logo ali.
Por falar em logo ali...
O prefeito de
Jandaia do Sul (PR), José Borba, réu do mensalão acusado de participar do esquema
no tempo em que era líder do PMDB, passou a tarde nas salas da liderança do
partido em Brasília ontem. Ele me contou que seu advogado, Inocêncio Mártires
Coelho, não fará sustentação oral da defesa. Apenas apresentará um documento
por escrito, de forma a se manter longe dos holofotes. Bem, isso significa uma
hora a menos no desfile de justificativas que veremos a partir de agora. Vamos
acompanhar.
Correio Braziliense (DF) - 02/08/2012
Denise Rothenburg
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