O candidato é honesto, domina a dinâmica de funcionamento
da máquina administrativa e é comprometido com a ética na política. Seu partido
não se envolve com fraudes e é composto de pessoas bem intencionadas.
Vitorioso, ele fará uma boa gestão e sairá dela sem os arranhões morais que caracterizam quase 100% dos candidatos a qualquer coisa.
Mas, nem isso tudo garante que o Estado descentralizará renda e poder, nem que a participação da maioria oriente os rumos gerais do governo.
Em outras palavras: ser honesto é ótimo, mas insuficiente.
Mesmo que algum herói mitológico consiga fazer tudo isso, ainda estará a anos-luz de distância de administrar um Estado independente de corporações e imune às pressões que o poder econômico costuma usar para garantir que seus interesses se sobrepunham aos da maioria.
O problema não está, enfim, nas pessoas. Localiza-se no enquadramento institucional que isola a política da economia e transformar os sucessivos processos eleitorais em mera formalidade útil à manutenção de um modelo econômico que prescinde da participação popular como método de governo.
Nenhum partido do escopo eleitoral brasileiro escapa dessa lógica viciada. Uns são mais simpáticos, angariam muitos apoiadores e até mobilizam a juventude que, diz-se, é alienada. Mas, nenhum coloca como objetivo central a reforma de um Estado feito para se articular com diferentes frações do poder econômico para sua própria perpetuação.
Nestas próximas eleições municipais, poucos ainda se lembrarão daquele PT do início dos anos 1980, quando a participação da base no processo decisório era contínua, naquilo que alguns politicólogos classificavam de “partido-movimento”, ou, em sua versão mais, digamos, “progressista”, de “partido em movimento”.
Ainda que aquele PT carregasse uma espécie de gene do esquecimento de lutas sociais anteriores a ele, como se a história popular brasileira tivesse começado somente em 1979 no ABCD paulista, e que carregasse um certo nojo de tudo que dissesse respeito ao Estado, o Partido dos Trabalhadores tinha a coragem de propor o novo.
Agora, há um vazio de novidades democráticas que compromete todo o processo eleitoral, em um País que continua a exercer diversos pequenos autoritarismos como profissão de fé. A rigor, no frigir dos ovos, devemos ter em mente que as próximas eleições são apenas isso: apenas outro capítulo da mesma velha novela.
14 de agosto de 2012
Carlos Tautz, jornalista, é coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e Controle Cidadão de Governos e Empresas
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