Se já atropelaram a “cláusula democrática” do Mercosul, aliados do caudilho no bloco podem ficar em posição mais delicada a depender da reação dele às eleições
Num país em que a violência se tornou a principal preocupação da população, Hugo Chávez, que, pela primeira vez, enfrentará um rival com chances reais de vitória nas eleições de 7 de outubro, recorre ao discurso do medo para transmitir ao eleitorado a ideia de que será ele ou o caos. “Talvez não aconteça uma guerra civil, mas o país mergulhará numa crise política, econômica e social”, disse. A violência chegou à campanha: em Zulia, seis partidários da oposição foram baleados por aliados do chavismo durante uma votação simulada.
A situação é nova em alguns aspectos, nem tanto em outros. As oposições se uniram e lançaram candidato único, Henrique Capriles Radonski, governador do estado de Miranda, que promete uma Venezuela moderna, livre de apagões. E Chávez vem de uma batalha terrível contra o câncer, que o obrigou a longas internações para tratamento em Cuba e do qual se diz curado, embora haja ampla especulação sobre sua saúde. De qualquer forma, salvo problemas de última hora, ele concorrerá mais uma vez.
A abandonada infraestrutura venezuelana começou a conspirar contra Chávez. Houve uma tragédia na refinaria de Amuay, onde um incêndio matou 48 pessoas. Relatório da petroleira estatal PDVSA admitiu que sete das nove paradas de manutenção de 2011 foram adiadas. Em Miranda, a queda de uma ponte de 78 anos de idade isolou 24 mil pessoas. É um atestado de incompetência do governo, que prefere usar o dinheiro do Estado em proselitismo político, no país e no exterior.
Chávez está à frente em quase todas as pesquisas de intenção de voto. O grosso de seu eleitorado se encontra nas camadas populares, que teme perder as benesses de inúmeros programas de assistência criados por seu governo, que transformou entes estatais, como a PDVSA, em caixa forte do assistencialismo. Houve redução da pobreza, mas a um alto preço econômico.
A grande incógnita é se Chávez, derrotado, entregará o poder. Sua trajetória nesses últimos 13 anos não ajuda. Eleito em 1998, ao tomar posse baniu os partidos políticos e fez uma reforma que transformou o Legislativo em câmara única, sob seu domínio, e interveio no Judiciário, nomeando juízes que garantissem maioria chavista nas decisões. Passou a governar por referendos, valendo-se da ausência de oposição, reprimida, e do enfraquecimento da imprensa independente, perseguida.
O Brasil é o principal fiador do ingresso da Venezuela no Mercosul. O impeachment de Lugo, do Paraguai, foi considerado um “golpe” e o país, suspenso, por força da “cláusula democrática”. Como o Paraguai era o único membro que se opunha à entrada da Venezuela, aproveitou-se, espertamente, para admiti-la. A democracia tutelada de Chávez não foi obstáculo à sua entrada no bloco. Mas, se o caudilho reagir com violência a uma derrota nas urnas, colocará de vez em xeque Brasil, Argentina e Uruguai.
08 de setembro de 2012
Editorial O Globo
A situação é nova em alguns aspectos, nem tanto em outros. As oposições se uniram e lançaram candidato único, Henrique Capriles Radonski, governador do estado de Miranda, que promete uma Venezuela moderna, livre de apagões. E Chávez vem de uma batalha terrível contra o câncer, que o obrigou a longas internações para tratamento em Cuba e do qual se diz curado, embora haja ampla especulação sobre sua saúde. De qualquer forma, salvo problemas de última hora, ele concorrerá mais uma vez.
A abandonada infraestrutura venezuelana começou a conspirar contra Chávez. Houve uma tragédia na refinaria de Amuay, onde um incêndio matou 48 pessoas. Relatório da petroleira estatal PDVSA admitiu que sete das nove paradas de manutenção de 2011 foram adiadas. Em Miranda, a queda de uma ponte de 78 anos de idade isolou 24 mil pessoas. É um atestado de incompetência do governo, que prefere usar o dinheiro do Estado em proselitismo político, no país e no exterior.
Chávez está à frente em quase todas as pesquisas de intenção de voto. O grosso de seu eleitorado se encontra nas camadas populares, que teme perder as benesses de inúmeros programas de assistência criados por seu governo, que transformou entes estatais, como a PDVSA, em caixa forte do assistencialismo. Houve redução da pobreza, mas a um alto preço econômico.
A grande incógnita é se Chávez, derrotado, entregará o poder. Sua trajetória nesses últimos 13 anos não ajuda. Eleito em 1998, ao tomar posse baniu os partidos políticos e fez uma reforma que transformou o Legislativo em câmara única, sob seu domínio, e interveio no Judiciário, nomeando juízes que garantissem maioria chavista nas decisões. Passou a governar por referendos, valendo-se da ausência de oposição, reprimida, e do enfraquecimento da imprensa independente, perseguida.
O Brasil é o principal fiador do ingresso da Venezuela no Mercosul. O impeachment de Lugo, do Paraguai, foi considerado um “golpe” e o país, suspenso, por força da “cláusula democrática”. Como o Paraguai era o único membro que se opunha à entrada da Venezuela, aproveitou-se, espertamente, para admiti-la. A democracia tutelada de Chávez não foi obstáculo à sua entrada no bloco. Mas, se o caudilho reagir com violência a uma derrota nas urnas, colocará de vez em xeque Brasil, Argentina e Uruguai.
08 de setembro de 2012
Editorial O Globo
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