"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 8 de setembro de 2012

POLÍTICA MONETÁRIA VERSUS POLÍTICA FISCAL

 

Uma queixa recorrente das pessoas que comentam no meu blog é que elas não entendem minha posição no tocante à política monetária versus a política fiscal como resposta a uma economia profundamente deprimida.
Às vezes, dizem eles, afirmo que a política monetária é ineficaz quando a taxa de juro está beirando o zero; outras vezes, reprovo Ben Bernanke por não fazer mais. E então?



Não é uma contradição. O mais recente estudo de Mike Woodford, especialmente se analisado em conjunto com sua análise apresentada no ano passado na conferência de Cambridge Keynes, na verdade explica tudo isso.

O que Mike demonstra é que aquelas pessoas apreensivas com a armadilha da liquidez estão preocupadas há muito tempo – na verdade, desde meu estudo de 1998. A atual política monetária é um problema em dois estágios.

Primeiro você precisa convencer o próprio banco central de que é uma boa ideia ele sinalizar que não haverá um retorno à política normal (digamos a regra de Taylor) tão breve à medida que a economia se libera da armadilha da liquidez; depois é preciso convencer o setor privado de que o banco central não mudará, realmente, seu comportamento quando a crise passar.

Minha opinião, manifestada no final de 2008, início de 2009, era de que levaria um longo tempo até atravessarmos as duas etapas; de fato, como a análise de Mike deixa claro, quatro anos na Lesser Depression (um período prolongado de alto patamar de desemprego que começou com a Grande Recessão de 2007-2009 e continua até hoje), e o Fed ainda está avançando devagar na direção da primeira. Enquanto isso, a depressão já estava presente na economia.

E quanto à política fiscal? Como Mike sublinhou em seu estudo anterior, o estímulo fiscal numa armadilha de liquidez não exige que você convença o mercado de que vai se comportar diferentemente uma vez passada a crise.

Isto não depende absolutamente das expectativas; o governo simplesmente trata de criar empregos. De modo que faz muito sentido argumentar que o estímulo é a principal resposta imediata à depressão da economia.

Mas não é também difícil de vender politicamente o estímulo fiscal? Sim, de fato, embora a verdade é que tivemos algum estímulo, que provavelmente teve um grande impacto para amenizar o desastre econômico. E conseguiríamos mais não fosse a oposição escorchante dos republicanos, o que não é um problema de análise econômica.

Então, o que os economistas bem-intencionados devem fazer com a política fiscal e a monetária que não estão cumprindo seu objetivo?
A resposta é fazer uma campanha em ambas as frentes, para tentar convencer as pessoas envolvidas no assunto e com influência de que a austeridade é um erro e que o Fed precisa começar a sinalizar sua disposição no sentido de mais inflação antes de elevar as taxas.
E essa é a posição que eu adoto.

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