"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 23 de setembro de 2012

LULA E O PT ESTÃO DESESPERADOS

 Leiam editorial do Estadão deste domingo:

Lula sente-se ameaçado. De fato, está. Seu governo corre o risco de receber diploma de improbidade com o julgamento da Ação Penal 470 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E seu partido pode levar uma surra histórica nas urnas de 7 de outubro – como mostra o último Datafolha.
São as razões do desespero que levou o ex-presidente a pedir socorro a alguns dos partidos da base do governo, constrangendo-os a subscrever uma nota dirigida “à sociedade brasileira” na qual se tenta colocar o chefão do PT a salvo das suspeitas a respeito de seu verdadeiro papel no escândalo do mensalão.
 
Como não pegaria bem atacar diretamente o STF injusto ou o eleitorado ingrato, a nota volta-se contra os partidos da oposição, que tiveram a ousadia de sugerir ampla investigação sobre quem esteve de fato por detrás da trama criminosa do mensalão, conforme informações atribuídas ao publicitário Marcos Valério pela revista Veja.
 
A propósito dessa suspeita natural que a oposição não teve interesse ou coragem de levantar em 2004, o comportamento do ex-presidente no episódio merece, de fato, algum “refresco de memória”.
 
Quando o escândalo estourou, Lula declarou que se sentia traído e que o PT devia pedir desculpas ao País; depois, em entrevista à televisão em Paris, garantiu, cinicamente, que seu partido havia feito apenas o que todos fazem – caixa 2; finalmente, já ungido pelas urnas, em 2006, lançou a tese que até hoje sustenta: tudo não passou de uma “farsa” urdida pelas “elites” para “barrar e reverter o processo de mudanças” por ele iniciado, como afirma a nota.
 
Por ordem do chefão essa manifestação de desagravo a si próprio foi apresentada pelo presidente do PT, o iracundo Rui Falcão, a um grupo selecionado de aliados. Da chamada base de apoio ficaram de fora o PP de Valdemar Costa Neto e o PTB de Roberto Jefferson, ambos sendo julgados pelo STF. O documento leva a assinatura dos presidentes do PT e de cinco outras legendas: PSB, PMDB, PC do B, PDT e PRB. Seus termos obedecem ao mais rigoroso figurino da hipocrisia política. Iniciam por repudiar a nota em que PSDB, DEM e PPS, “forças conservadoras”, “tentaram comprometer a honra e a dignidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”. E a classificam como “fruto do desespero diante das derrotas seguidamente infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro”.
 
Para PT e aliados, numa velada referência ao processo do mensalão, as oposições “tentam fazer política à margem do processo eleitoral, base e fundamento da democracia representativa, que não hesitam em golpear sempre que seus interesses são contrariados”. Nenhuma referência, é claro, ao fato de que, no momento, os interesses que estão sendo contrariados são exatamente os de Lula e do PT. Mas, em matéria de fazer o jogo de espelho, acusando os adversários exatamente daquilo que ele próprio faz, o lulopetismo superou-se em alusão explícita ao julgamento do mensalão: “Os partidos da oposição tentam apenas confundir a opinião pública. Quando pressionam o STF, estão preocupados em fazer da Ação Penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula”.
 
Nos últimos dias, os sintomas de desespero nas hostes lulopetistas traduziram-se em despautérios de importantes personalidades do partido. O presidente da Câmara dos Deputados acusou o ministro Joaquim Barbosa de ser falacioso ao denunciar a compra de apoio parlamentar pela quadrilha que, segundo a denúncia da Ação Penal 470, era chefiada por José Dirceu.
 
O senador Jorge Viana (PT-AC), ex-governador do Acre, ele próprio investigado pela suspeita de compra de votos, voltou ao tema do “golpe contra o PT”. E o deputado federal André Vargas (PT-PR), chefe da equipe nacional de Comunicação do partido, revelou sua peculiar concepção de transparência da vida pública ao condenar a transmissão ao vivo das sessões plenárias do STF como “uma ameaça à democracia”.
 
São esses os combatentes da “batalha do tamanho do Brasil” convocada pelo desespero de Lula&Cia. Convocação atendida também pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em esfuziante entrevista no jornal Valor de sexta-feira.
 
23 de setembro de 2012
Por Reinaldo Azevedo

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