Relação tende a se complicar também com PMDB, que prevê eleger menos 10% de prefeitos
BRASÍLIA Depois do mensalão e do resultado das eleições nas capitais, até agora aquém das expectativas, o PT e a presidente Dilma Rousseff terão que administrar uma conturbada relação com sua base aliada. Após a crise com o PSB causada pelos rachas em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, o PT deve chegar ao fim do primeiro turno enfrentando uma convivência complicada também com seu maior aliado no Congresso, o PMDB. A dificuldade nos grandes centros levou Dilma e o ex-presidente Lula a gravarem na TV para candidatos petistas e aliados em cidades-chave.
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Alguns exemplos são Salvador e Mossoró, segunda maior cidade do Rio Grande do Norte e terra do líder do PMDB na Câmara e candidato à presidência da Casa, Henrique Eduardo Alves. Lá, a candidata do PSB, com apoio do PT, começou a veicular na TV um depoimento de apoio da presidente. O líder do partido ficou irritadíssimo.
Na última terça-feira, um grupo de caciques peemedebistas jantou em Brasília. Entre eles, estavam o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), o presidente do partido, Valdir Raupp (RO), o ministro Moreira Franco, os irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima (BA), o ex-ministro Eliseu Padilha e o senador Vital do Rêgo (PB).
A reunião foi marcada pelas reclamações devido à ação do PT nas eleições. A avaliação geral entre peemedebistas é que, dificilmente, o partido conseguirá chegar a um número próximo ao de 2008, quando elegeu cerca de 1.200 prefeitos. A expectativa é que haja uma redução de cerca de 10%. Nada que tire do partido o posto de sigla com mais prefeitos do país, mas, ainda assim, uma redução sensível.
Isso representaria uma redução automática das bases eleitorais dos deputados da legenda. Afinal, como os prefeitos e vereadores são os grandes cabos eleitorais dos deputados nas eleições gerais, a perda de apoio nas bases significa que eles precisarão buscar votos de outra forma — valendo-se, por exemplo, de emendas parlamentares e ocupação de cargos públicos.
— A política não segue o calendário gregoriano. Para todo mundo, depois de 2012, vem 2013. Na política, depois de 2012, vem 2014. Aquela preocupação de que as eleições poderiam contaminar a relação está ocorrendo, especialmente pela entrada de Dilma, porque ela chefia um governo de coalizão.
É diferente do Lula, que hoje é só um militante partidário. E o pior é que estão fazendo chantagem com o povo. Ela entra na TV dizendo que, se querem creche, têm que votar no candidato da Dilma — afirmou um parlamentar peemedebista que participou do jantar na terça-feira e pediu para não ser identificado.
Os peemedebistas dizem reservadamente que a tendência é que a relação com Dilma fique mais tensa. Uma frase de Renan definiu as intenções pós-eleitorais dos peemedebistas.
— A gente tem que ser como a PragMarta: saber apoiar o governo, mas ter resultado com esse apoio
— afirmou o senador, referindo-se à nova ministra da Cultura, Marta Suplicy.
Trata-se de uma versão mais objetiva do discurso que vem sendo adotado pelo PSB. Os socialistas vêm afirmando que a perspectiva de expansão do número de prefeitos, especialmente nas capitais, obrigará o governo a rever o tratamento dado ao partido.
Os integrantes do PSB esperam que o governo passe a considerá-los o principal aliado. O PMDB, que hoje ocupa essa posição, também acha que tem muito pouco e espera expandir seus espaços. O líder do PT, Jilmar Tatto, minimiza a possibilidade de crise:
— Não vão ficar sequelas. Diferentemente de uma avaliação anterior, as relações estão boas. O PT atrai em função da sua força popular e social — diz Tatto, que acredita que a relação seguirá firme enquanto o governo estiver bem avaliado.
23 de setembro de 2012
Paulo Celso Pereira
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