Não há dúvidas de que a capacidade de promover engajamento e mobilização da Igreja Universal é enorme. Mas não pode ser tão maior que o poder de “padrinho” Lula, o ex-presidente-operário com maior exposição na mídia que o país já viu, e seus altíssimos níveis de aprovação.
Da mesma forma, o poder de popularização de um programa diário na TV é imenso. Mas não tão maior que o recall proporcionado por duas campanhas presidenciais como as que José Serra traz na bagagem.
O que explica o sucesso de Celso Russomanno é menos
simples, embora constrangedoramente óbvio.
Passa menos pelo poder de
capilaridade dos obreiros da igreja e mais, bem mais, por uma construção
discursiva que apela ao senso comum. E o
faz com tamanha competência que dificilmente poderá haver alguma mudança
drástica no quadro eleitoral de São Paulo.
Ao contrário: no segundo turno, com mais tempo de TV, é bem provável que
o sucesso deste discurso se consolide de forma irreversível já na primeira
semana.
Não é difícil perceber como as coisas chegaram a este
ponto. Basta se despir da arrogância que costuma pairar sobre os QGs de campanha
e lembrar que não há focus melhor do
que o ibope da TV aberta. Basta se
desfazer dos muitos vícios adquiridos por quem é ou foi governo – os vícios
advindos do profundo conhecimento da máquina e seus entraves – e reaprender a
arte de fazer promessas.
O sucesso de Russomanno pode, sim, ser um pouco
humilhante para os experts de
plantão. Mas nada tem de misterioso.
O que temos no primeiro ato? Russomanno na televisão, em
defesa do consumidor. Ali, desde a época do SBT, ele construiu um capital
simbólico poderoso porque palatável ao senso comum: o do homem simples que, uma
vez que tem em mãos o poder de denúncia de uma câmera de TV, aponta injustiças e
erros clamando por solução.
As vítimas pertencem, é claro, a camadas populares
da população. As soluções são simples:
Russomanno não faz nada diferente do que qualquer um de seus telespectadores
faria se estivesse em seu lugar. Bate pé, diz que o problema precisa ser
resolvido de uma vez por todas e, se preciso, chama a polícia.
No segundo ato, temos Russomanno candidato a prefeito,
diante de uma câmera de TV, apontando problemas e apresentando soluções. O
modelo é o mesmo do ato um. O que Celso
Russomanno faz como candidato é exatamente o mesmo que fazia como jornalista.
Não houve a necessidade, e nem o risco, de que sua audiência tivesse que se
adaptar a um novo Celso Russomanno, investido do papel de prefeito.
Neste papel,
ele segue fazendo o que qualquer um de seus telespectadores faria se estivesse
em seu lugar: apresenta soluções simples, de fácil entendimento, ainda que de
execução duvidosa.
Enquanto seus adversários se enroscam em explicações
complicadas para resolver os muitos problemas de São Paulo – e ficam parecendo,
aos olhos do povo, criaturas de má vontade -, Russomanno diz ao homem comum: “eu
sou você no poder”.
O exemplo mais acabado desta estratégia discursiva é a
promessa de aumentar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana para 20 mil homens.
Enquanto seus adversários fazem contas
para provar a inviabilidade da coisa, o homem comum se regozija com Russomanno
porque, finalmente, alguém está prometendo fazer o que ele faria se fosse
prefeito: colocar mais polícia na rua.
É simples, direto e palatável - como, ao fim e ao cabo, são
todas as coisas nascidas do senso comum. É impossível? Pode ser. Mas ganha eleição.
23 de setembro de 2012
nariz gelado
Nenhum comentário:
Postar um comentário