COMENTÁRIOS DIVERSOS AO TEXTO "A MORTE DA EUROPA QUE AMO"
OUTRAS REAÇÕES
Imad Nasser escreve:
Senhor Janer:
Devo dizer que esperava mais qualidade argumentativa de um jornalista doutor pela Sorbonne.
E o que se lê no artigo publicado hoje na Folha é um discurso raivoso e obtuso. Qualquer leitor percebe que o senhor se refere indistintamente aos muçulmanos de maneira negativa. É estranho que alguém com sua experiência e formação julgue mais de 1 bilhão de pessoas espalhadas pelo mundo de modo tão ofensivo.
Eu não lhe escreveria se seu artigo não saísse no jornal mais lido do país. O texto, afinal, constitui subliteratura. Mas exerce, lamentavelmente, má influência e informa mal, porque informa com raiva e preconceito.
Atenciosamente,
Imad
Mensagem de Peter Renyi:
Prezado Janer,
Com grande surpresa e prazer li seu artigo na Folha, "A morte da Europa que amo". A primeira manifestação e aviso sobre o perigo que os muçulmanos fanáticos significam para o mundo. É lamentável que os últimos governos nossos (Lula e Dilma) não conseguiram ainda enxergar de que se trata.
Tenho mais experiência com regimes ditatoriais fanáticos, passei a segunda guerra mundial na Europa. Nasci na Hungria, sou judeu, perdi muitos parentes e amigos na mão dos nazistas alemães e húngaros. Eu mesmo escapei por pouco. Como você sabe, também a Hungria era aliada fiel da Alemanha nazista, formando o chamado "eixo" (Alemanha, Itália e Hungria). Conforme notícias recebidas da Hungria, o país continua fortemente racista. Nos últimos meses em cinco cemitérios judaicos os túmulos foram quebrados. Apareceram nas ruas de Budapest cartazes anti-semitas, um rabino e respeitado cientista foi hostilizado na rua.
Cheguei ao Brasil em setembro de 1946 e logo percebi que cheguei no paraíso, fui morar no Nordeste entre brasileiros, fiz muitas amizades, as quais cultivo até hoje. Não obstante o Brasil tenha lutado contra o nazismo, o governo Dutra parece que era leniente com imigrantes vindo da Europa, tendo entrado aqui boa quantidade de nazistas alemães, húngaros e de outras nacionalidades. Da Hungria, por exemplo, chegaram membros da "gendarmeria" húngara. Eles eram incumbidos junto com Eichmann e o Gestapo da deportação dos judeus.
A única diferença entre os nazistas e os muçulmanos é que os últimos não dispõem, ainda, de armas tão letais como os primeiros. Agradeço sua atenção e mando forte abraço
Peter Renyi
Mail de Gilvan:
Caro Janer,
Primeiro: espero que estejas bem, de saúde e tudo o mais, abraços!
Segundo: minhas congratulações pela coragem e pela coluna bem escrita, "A morte da Europa que amo".
Falaste pouco e disseste tudo.
Não sei onde esse pessoal encontra tolerância para um bando de malucos fanáticos, ainda mais em um ocidente que não é muçulmano (graças a allah, talvez?). Eu ainda diria que todo mundo tinha bastante tolerância com o nazismo também, se bem que penso que o nazismo era bem menos perigoso.
Abraços!
Gilvan
Mensagem do Flávio
Parabéns pelo lúcido e corajoso texto publicado em "Tendências e Debates" da Folha de São Paulo nesta quarta-feira.
Distribuí para inúmeros amigos que também o elogiaram especialmente pela importância implícita( ou explícita) de valorização do respeito às leis e ao "Estado de Direito". Não se pode permitir pequenas concessões que mais tarde vão transformar-se em grandes transgressões.
Ainda há dias assisti bestificado que em Foz do Iguaçu, alguns vereadores pressionados por líderes da expressiva comunidade iIslâmica local, desejam obter das autoridades estaduais e federais autorização para que as mulheres desta comunidade tirem fotos para documentos oficiais, com véus e com a cabeça coberta, como preceitua a sua religião, contrariando princípio básico de identificação sem adornos, aliás objetivo único de uma foto em um documento, de conseguir identificar o portador.
Por mais que pareça pouco relevante, são concessões desta natureza que estimulam essa gente a não adaptar-se a autoriddade de país nenhum para aonde emigram e onde são recebidos com cordialidade.
Parabéns mais uma vez, vou passar a acompanhar seus textos com atenção.
Flávio
São Paulo
De Samy Adghirni, correspondente da Folha de São Paulo no Irã, recebo via Facebook este lapidar comentário sobre meu artigo “A morte da Europa que amo”, publicado ontem no mesmo jornal:
“Islamofobia, ou o racismo moderno socialmente aceito”
Meu caro Samy:
Entendo as dificuldades de um correspondente internacional, sediado em um país cuja língua desconhece, com dificuldades de acesso à Internet e escrevendo sob a censura de uma ditadura.
OUTRAS REAÇÕES
Imad Nasser escreve:
Senhor Janer:
Devo dizer que esperava mais qualidade argumentativa de um jornalista doutor pela Sorbonne.
E o que se lê no artigo publicado hoje na Folha é um discurso raivoso e obtuso. Qualquer leitor percebe que o senhor se refere indistintamente aos muçulmanos de maneira negativa. É estranho que alguém com sua experiência e formação julgue mais de 1 bilhão de pessoas espalhadas pelo mundo de modo tão ofensivo.
Eu não lhe escreveria se seu artigo não saísse no jornal mais lido do país. O texto, afinal, constitui subliteratura. Mas exerce, lamentavelmente, má influência e informa mal, porque informa com raiva e preconceito.
Atenciosamente,
Imad
Mensagem de Peter Renyi:
Prezado Janer,
Com grande surpresa e prazer li seu artigo na Folha, "A morte da Europa que amo". A primeira manifestação e aviso sobre o perigo que os muçulmanos fanáticos significam para o mundo. É lamentável que os últimos governos nossos (Lula e Dilma) não conseguiram ainda enxergar de que se trata.
Tenho mais experiência com regimes ditatoriais fanáticos, passei a segunda guerra mundial na Europa. Nasci na Hungria, sou judeu, perdi muitos parentes e amigos na mão dos nazistas alemães e húngaros. Eu mesmo escapei por pouco. Como você sabe, também a Hungria era aliada fiel da Alemanha nazista, formando o chamado "eixo" (Alemanha, Itália e Hungria). Conforme notícias recebidas da Hungria, o país continua fortemente racista. Nos últimos meses em cinco cemitérios judaicos os túmulos foram quebrados. Apareceram nas ruas de Budapest cartazes anti-semitas, um rabino e respeitado cientista foi hostilizado na rua.
Cheguei ao Brasil em setembro de 1946 e logo percebi que cheguei no paraíso, fui morar no Nordeste entre brasileiros, fiz muitas amizades, as quais cultivo até hoje. Não obstante o Brasil tenha lutado contra o nazismo, o governo Dutra parece que era leniente com imigrantes vindo da Europa, tendo entrado aqui boa quantidade de nazistas alemães, húngaros e de outras nacionalidades. Da Hungria, por exemplo, chegaram membros da "gendarmeria" húngara. Eles eram incumbidos junto com Eichmann e o Gestapo da deportação dos judeus.
A única diferença entre os nazistas e os muçulmanos é que os últimos não dispõem, ainda, de armas tão letais como os primeiros. Agradeço sua atenção e mando forte abraço
Peter Renyi
Mail de Gilvan:
Caro Janer,
Primeiro: espero que estejas bem, de saúde e tudo o mais, abraços!
Segundo: minhas congratulações pela coragem e pela coluna bem escrita, "A morte da Europa que amo".
Falaste pouco e disseste tudo.
Não sei onde esse pessoal encontra tolerância para um bando de malucos fanáticos, ainda mais em um ocidente que não é muçulmano (graças a allah, talvez?). Eu ainda diria que todo mundo tinha bastante tolerância com o nazismo também, se bem que penso que o nazismo era bem menos perigoso.
Abraços!
Gilvan
Mensagem do Flávio
Parabéns pelo lúcido e corajoso texto publicado em "Tendências e Debates" da Folha de São Paulo nesta quarta-feira.
Distribuí para inúmeros amigos que também o elogiaram especialmente pela importância implícita( ou explícita) de valorização do respeito às leis e ao "Estado de Direito". Não se pode permitir pequenas concessões que mais tarde vão transformar-se em grandes transgressões.
Ainda há dias assisti bestificado que em Foz do Iguaçu, alguns vereadores pressionados por líderes da expressiva comunidade iIslâmica local, desejam obter das autoridades estaduais e federais autorização para que as mulheres desta comunidade tirem fotos para documentos oficiais, com véus e com a cabeça coberta, como preceitua a sua religião, contrariando princípio básico de identificação sem adornos, aliás objetivo único de uma foto em um documento, de conseguir identificar o portador.
Por mais que pareça pouco relevante, são concessões desta natureza que estimulam essa gente a não adaptar-se a autoriddade de país nenhum para aonde emigram e onde são recebidos com cordialidade.
Parabéns mais uma vez, vou passar a acompanhar seus textos com atenção.
Flávio
São Paulo
quinta-feira, setembro 27, 2012
AOS ADGHIRNI
De Samy Adghirni, correspondente da Folha de São Paulo no Irã, recebo via Facebook este lapidar comentário sobre meu artigo “A morte da Europa que amo”, publicado ontem no mesmo jornal:
“Islamofobia, ou o racismo moderno socialmente aceito”
Meu caro Samy:
Entendo as dificuldades de um correspondente internacional, sediado em um país cuja língua desconhece, com dificuldades de acesso à Internet e escrevendo sob a censura de uma ditadura.
É
inclusive o caso de se perguntar: se desconhece a língua do país que cobre e se
não tem liberdade de escrever o que bem entende, que está fazendo o
correspondente lá?
Enfim, as ditaduras são pródigas em press releases, e algo
sempre se pode escrever.
Islamofobia, como você sabe, é o mais recente insulto criado pelas esquerdas, para substituir os antigos palavrões ideológicos, hoje um tanto fora de época. Depois da queda do Muro, soa um tanto “demodé” chamar alguém de imperialista ou reacionário. Você deve ter idade suficiente – e se não tiver, pode fazer uma pesquisa – para ter percebido que após os anos 80 aumentaram as ocorrências da palavra racismo nos jornais. Luta de classses morta, luta racial posta. A dialética precisa continuar em pé.
Só não entendo que tem a ver islamofobia com racismo. Para começar, o neologismo, bolado pelo jeito pelos aiatolás, é mal construído. Fobia quer dizer medo. Não há propriamente medo do Islã no Ocidente. Mas nojo. Nojo de uma cultura que mutila sexualmente mulheres, que as destitui dos direitos mais básicos, como escolher marido, exercer a profissão que bem entende, viajar sem a permissão de macho algum. O que está em jogo não é o fator racial, mas a opressão religiosa, tanto que há muçulmanos de todas as raças, brancos, negros e amarelos.
Mas tudo bem. Nos anos 70, fui tachado de reacionário, direitista, imperialista. Mudam os tempos, mudam os termos. Hoje sou racista e islamófobo. Jornalista, tenho a pele dura. Receber insultos para mim é rotina. Devo confessar inclusive que gosto de recebê-los. Quando alguém apela ao insulto, é porque não tem mais argumentos.
Você não contesta nenhum dos fatos que relacionei no artigo. Nem pode contestá-los. Não pode negar que um padreco persa condenou à morte um escritor de nacionalidade européia, que vive na Europa e publicou um livro na Europa. Tampouco pode negar que, em nome do aiatolá Khomeini, foram assassinados um cineasta na Holanda, o tradutor ao japonês do livro de Rushdie, foi esfaqueado o tradutor ao italiano e o editor turco da obra foi baleado. Tampouco pode negar a recente recompensa de cem mil dólares, oferecida pelo ministro de Ferrovias do Paquistão, pela cabeça do autor do vídeo que hora assusta os meigos e sensíveis muçulmanos. Com a nonchalance de um deus, Ghulam Ahmed Bilour disse que pagará a recompensa de seu próprio bolso.
"Eu vou pagar US$ 100 mil a quem matar o realizador desse vídeo", disse o ministro. "Se alguém fizer outro material blasfemo parecido no futuro, eu também vou pagar US$ 100 mil para seus assassinos."
Certo, Paquistão não é sua área. Mas a primeira condenação à morte de um ocidental surgiu no Irã. Como pessoa interessada em questões islâmicas, sou seu assíduo leitor, e jamais o vi condenar essa arrogância muçulmana.
Seus leitores esperam mais que a reprodução de press releases, Samy. Há instituições interessantes na cultura do país onde você vive, praticamente desconhecidas entre nós. Poucos sabem, cá no Brasil, que uma mulher não pode andar na rua acompanhada de um homem que não seja seu parente. Se anda com um namorado, não faltará policial para pedir documentos aos dois. Poucos sabem que no Irã uma mulher não pode olhar um homem nos olhos. Você, jornalista que se criou em sociedade onde qualquer um anda com quem bem entende e olha nos olhos de quem quiser, você não nos contou nada disso, Samy.
Nem todos os leitores sabem que, no Irã, os homossexuais são condenados à morte. Jamais o vi condenar esse atentado ao direito de cada um exercer a sexualidade que bem entender. Em nosso atrasado continente, salvo alguma ilhota da América Central, homossexualismo há muito deixou de ser crime. Neste ano da graça, a punição com morte só ocorre no Irã e quatro países árabes. No país dos aiatolás, com uma curiosa peculiaridade. Se homossexualismo é proibido e punido com morte, trocar de sexo é inclusive incentivado pelo Estado. A medida foi avalizada pelo revolucionário aiatolá Khomeini.
Não ouse, no Irã contemporâneo, travestir-se. Macho é macho e fêmea é fêmea. Homem não pode usar chador, nem mulher pode usar vestes masculinas. Mas os sábios aiatolás lhes permitem trocar de sexo. Feita a cirurgia, o homem passa a usar chador. (Nada de vestir-se despudoradamente à ocidental, é claro). Mas atenção: não volte a usar vestes masculinas. Trate de renovar o guarda-roupa. Usar suas antigas roupas agora é crime. Em verdade, a mudança de sexo não é exatamente uma permissão. E sim uma imposição. Se você, homem, gosta de homem, trate logo de cortar o que o identifica como homem e transforme-se em mulher. Só então poderá ter relações com homens.
Ou vice-versa. Se você é mulher e gosta de mulher, trate de fechar essa fenda obscena e construa um pênis, ainda que discreto. Antes da cirurgia, não ouse desfilar pelas ruas sua futura condição. A menos que porte consigo um documento provando que a cirurgia foi permitida. No entanto, você, como correspondente, nos subtraiu esta curiosa característica da atual cultura persa.
Você nunca nos falou da fórmula genial que os aiatolás encontraram para resolver esse problema jamais resolvido pelo Ocidente. Por definição, não há prostituição no Irã. Se o Ocidente ainda debate a questão do sexo pago, coube ao islâmico Irã desatar o nó, apelando também à castidade. Há mais de dez anos, o jornal conservador Afarinesh noticiava que duas agências do governo haviam encontrado a fórmula para resolver o problema. Seriam criadas as chamadas "casas de castidade", onde o cidadão poderia exercitar sua luxúria em ambiente seguro e saudável. De acordo com o artigo, o plano envolvia o uso de forças de segurança, líderes religiosos e do judiciário para administrar as casas.
De acordo com os números oficiais da época, cerca de 300 mil profissionais trabalhavam nas ruas da capital, que tinha então 12 milhões de habitantes. Para o aiatolá Muhammad Moussavi Bojnourdi, as casas de castidade se justificam "pela urgência da situação em nossa sociedade. Se quisermos ser realistas e limparmos a cidade dessas mulheres, precisamos usar o caminho que o Islã nos oferece".
Este caminho é o sigheh, o matrimônio temporário permitido pelo ramo xiita do Islã, que pode durar alguns minutos ou 99 anos, especialmente recomendado para viúvas que precisam de suporte financeiro. Reza a tradição que o próprio Maomé o teria aconselhado para seus companheiros e soldados. O casamento é feito mediante a recitação de um versículo do Alcorão. O contrato oral não precisa ser registrado, e o versículo pode ser lido por qualquer um. As mulheres são pagas pelo contrato.
Esta prática foi aprovada após a "revolução" liderada pelo aiatolá Khomeiny, que derrubou o regime ocidentalizante do xá Reza Palhevi, como forma de canalizar o desejo dos jovens sob a segregação sexual estrita da república islâmica. Num passe de mágica, a prostituição deixa de existir. O que há são relações normais entre duas pessoas casadas. Não há mais bordéis. Mas casas de castidade. A cidade está limpa. Você, Samy, como correspondente em Teerã, subtraiu este importante dado a seus leitores.
Daqui de São Paulo, consigo melhor do que você a teocracia islâmica. Me corrijo: certamente você a vê melhor, já que está mergulhado nela. Ocorre que você é muçulmano e não consegue libertar-se de sua crença. Suponho que você aprecie um bom vinho, afinal crente nenhum é perfeito. Sem falar que você nasceu entre infiéis, em um país que corrompe seus cidadãos desde o berço. Nascido em sociedade livre, você adotou como pátria intelectual uma sociedade tirânica.
Não que eu queira pautá-lo, Samy. Mas tenho certeza de que seus leitores gostariam de ouvir estas informações. Você porta uma máscara de jornalista imbuído dos ideais do Ocidente. A máscara colou à pele e ninguém veria em você, à primeira vista, um defensor da barbárie. Confrontado com seus dogmas, você deixa cair a máscara. E passa a acusar de islamófobo e racista quem defende a tradição libertária do Ocidente.
Sinta-se à vontade para responder-me neste blog. Ofereço-lhe o mesmo espaço deste artigo. Não precisa fazer postagens curtinhas em páginas alheias do Facebook.
Allah u Akbar! Mas não muito.
-----------
Zélia Adghirny, professora de jornalismo da Universidade de Brasília, escreve:>
“Artigo ignóbil, incitação ao ódio e ao racismo”.
Salve, Zélia! Há quanto tempo! Pelo jeito, legaste ao Samy teu espírito de síntese. Como boa stalinista, só podias tomar a defesa dos cabeças-de-toalha.
Islamofobia, como você sabe, é o mais recente insulto criado pelas esquerdas, para substituir os antigos palavrões ideológicos, hoje um tanto fora de época. Depois da queda do Muro, soa um tanto “demodé” chamar alguém de imperialista ou reacionário. Você deve ter idade suficiente – e se não tiver, pode fazer uma pesquisa – para ter percebido que após os anos 80 aumentaram as ocorrências da palavra racismo nos jornais. Luta de classses morta, luta racial posta. A dialética precisa continuar em pé.
Só não entendo que tem a ver islamofobia com racismo. Para começar, o neologismo, bolado pelo jeito pelos aiatolás, é mal construído. Fobia quer dizer medo. Não há propriamente medo do Islã no Ocidente. Mas nojo. Nojo de uma cultura que mutila sexualmente mulheres, que as destitui dos direitos mais básicos, como escolher marido, exercer a profissão que bem entende, viajar sem a permissão de macho algum. O que está em jogo não é o fator racial, mas a opressão religiosa, tanto que há muçulmanos de todas as raças, brancos, negros e amarelos.
Mas tudo bem. Nos anos 70, fui tachado de reacionário, direitista, imperialista. Mudam os tempos, mudam os termos. Hoje sou racista e islamófobo. Jornalista, tenho a pele dura. Receber insultos para mim é rotina. Devo confessar inclusive que gosto de recebê-los. Quando alguém apela ao insulto, é porque não tem mais argumentos.
Você não contesta nenhum dos fatos que relacionei no artigo. Nem pode contestá-los. Não pode negar que um padreco persa condenou à morte um escritor de nacionalidade européia, que vive na Europa e publicou um livro na Europa. Tampouco pode negar que, em nome do aiatolá Khomeini, foram assassinados um cineasta na Holanda, o tradutor ao japonês do livro de Rushdie, foi esfaqueado o tradutor ao italiano e o editor turco da obra foi baleado. Tampouco pode negar a recente recompensa de cem mil dólares, oferecida pelo ministro de Ferrovias do Paquistão, pela cabeça do autor do vídeo que hora assusta os meigos e sensíveis muçulmanos. Com a nonchalance de um deus, Ghulam Ahmed Bilour disse que pagará a recompensa de seu próprio bolso.
"Eu vou pagar US$ 100 mil a quem matar o realizador desse vídeo", disse o ministro. "Se alguém fizer outro material blasfemo parecido no futuro, eu também vou pagar US$ 100 mil para seus assassinos."
Certo, Paquistão não é sua área. Mas a primeira condenação à morte de um ocidental surgiu no Irã. Como pessoa interessada em questões islâmicas, sou seu assíduo leitor, e jamais o vi condenar essa arrogância muçulmana.
Seus leitores esperam mais que a reprodução de press releases, Samy. Há instituições interessantes na cultura do país onde você vive, praticamente desconhecidas entre nós. Poucos sabem, cá no Brasil, que uma mulher não pode andar na rua acompanhada de um homem que não seja seu parente. Se anda com um namorado, não faltará policial para pedir documentos aos dois. Poucos sabem que no Irã uma mulher não pode olhar um homem nos olhos. Você, jornalista que se criou em sociedade onde qualquer um anda com quem bem entende e olha nos olhos de quem quiser, você não nos contou nada disso, Samy.
Nem todos os leitores sabem que, no Irã, os homossexuais são condenados à morte. Jamais o vi condenar esse atentado ao direito de cada um exercer a sexualidade que bem entender. Em nosso atrasado continente, salvo alguma ilhota da América Central, homossexualismo há muito deixou de ser crime. Neste ano da graça, a punição com morte só ocorre no Irã e quatro países árabes. No país dos aiatolás, com uma curiosa peculiaridade. Se homossexualismo é proibido e punido com morte, trocar de sexo é inclusive incentivado pelo Estado. A medida foi avalizada pelo revolucionário aiatolá Khomeini.
Não ouse, no Irã contemporâneo, travestir-se. Macho é macho e fêmea é fêmea. Homem não pode usar chador, nem mulher pode usar vestes masculinas. Mas os sábios aiatolás lhes permitem trocar de sexo. Feita a cirurgia, o homem passa a usar chador. (Nada de vestir-se despudoradamente à ocidental, é claro). Mas atenção: não volte a usar vestes masculinas. Trate de renovar o guarda-roupa. Usar suas antigas roupas agora é crime. Em verdade, a mudança de sexo não é exatamente uma permissão. E sim uma imposição. Se você, homem, gosta de homem, trate logo de cortar o que o identifica como homem e transforme-se em mulher. Só então poderá ter relações com homens.
Ou vice-versa. Se você é mulher e gosta de mulher, trate de fechar essa fenda obscena e construa um pênis, ainda que discreto. Antes da cirurgia, não ouse desfilar pelas ruas sua futura condição. A menos que porte consigo um documento provando que a cirurgia foi permitida. No entanto, você, como correspondente, nos subtraiu esta curiosa característica da atual cultura persa.
Você nunca nos falou da fórmula genial que os aiatolás encontraram para resolver esse problema jamais resolvido pelo Ocidente. Por definição, não há prostituição no Irã. Se o Ocidente ainda debate a questão do sexo pago, coube ao islâmico Irã desatar o nó, apelando também à castidade. Há mais de dez anos, o jornal conservador Afarinesh noticiava que duas agências do governo haviam encontrado a fórmula para resolver o problema. Seriam criadas as chamadas "casas de castidade", onde o cidadão poderia exercitar sua luxúria em ambiente seguro e saudável. De acordo com o artigo, o plano envolvia o uso de forças de segurança, líderes religiosos e do judiciário para administrar as casas.
De acordo com os números oficiais da época, cerca de 300 mil profissionais trabalhavam nas ruas da capital, que tinha então 12 milhões de habitantes. Para o aiatolá Muhammad Moussavi Bojnourdi, as casas de castidade se justificam "pela urgência da situação em nossa sociedade. Se quisermos ser realistas e limparmos a cidade dessas mulheres, precisamos usar o caminho que o Islã nos oferece".
Este caminho é o sigheh, o matrimônio temporário permitido pelo ramo xiita do Islã, que pode durar alguns minutos ou 99 anos, especialmente recomendado para viúvas que precisam de suporte financeiro. Reza a tradição que o próprio Maomé o teria aconselhado para seus companheiros e soldados. O casamento é feito mediante a recitação de um versículo do Alcorão. O contrato oral não precisa ser registrado, e o versículo pode ser lido por qualquer um. As mulheres são pagas pelo contrato.
Esta prática foi aprovada após a "revolução" liderada pelo aiatolá Khomeiny, que derrubou o regime ocidentalizante do xá Reza Palhevi, como forma de canalizar o desejo dos jovens sob a segregação sexual estrita da república islâmica. Num passe de mágica, a prostituição deixa de existir. O que há são relações normais entre duas pessoas casadas. Não há mais bordéis. Mas casas de castidade. A cidade está limpa. Você, Samy, como correspondente em Teerã, subtraiu este importante dado a seus leitores.
Daqui de São Paulo, consigo melhor do que você a teocracia islâmica. Me corrijo: certamente você a vê melhor, já que está mergulhado nela. Ocorre que você é muçulmano e não consegue libertar-se de sua crença. Suponho que você aprecie um bom vinho, afinal crente nenhum é perfeito. Sem falar que você nasceu entre infiéis, em um país que corrompe seus cidadãos desde o berço. Nascido em sociedade livre, você adotou como pátria intelectual uma sociedade tirânica.
Não que eu queira pautá-lo, Samy. Mas tenho certeza de que seus leitores gostariam de ouvir estas informações. Você porta uma máscara de jornalista imbuído dos ideais do Ocidente. A máscara colou à pele e ninguém veria em você, à primeira vista, um defensor da barbárie. Confrontado com seus dogmas, você deixa cair a máscara. E passa a acusar de islamófobo e racista quem defende a tradição libertária do Ocidente.
Sinta-se à vontade para responder-me neste blog. Ofereço-lhe o mesmo espaço deste artigo. Não precisa fazer postagens curtinhas em páginas alheias do Facebook.
Allah u Akbar! Mas não muito.
-----------
Zélia Adghirny, professora de jornalismo da Universidade de Brasília, escreve:>
“Artigo ignóbil, incitação ao ódio e ao racismo”.
Salve, Zélia! Há quanto tempo! Pelo jeito, legaste ao Samy teu espírito de síntese. Como boa stalinista, só podias tomar a defesa dos cabeças-de-toalha.
Depois da queda do Muro, o marxismo
reduziu-se a um anti-americanismo infantil. O inimigo de meu inimigo é meu
amigo, não é isso? Mas tens colegas ilustres nessa tua defesa do Islã. Entre
eles, por exemplo, o libertário – e muito querido nas universidades – Michel
Foucault. Que não hesitou em fazer a defesa da “revolução” dos
aiatolás.
Ou, mais perto no tempo, o ilustre prêmio Nobel Günther Grass. Ex-membro da Waffen-SS é verdade, mas ninguém é perfeito. Ainda há pouco, Grass se solidarizava com Ahmadnejad, em suas pretensões de varrer Israel do mapa.
Vocês, comunistas, não conseguiram conquistar a Europa com o marxismo e querem destruí-la agora com o islamismo. Suponho que votas no PT, não? Petistas é que gostam - na falta de argumentos - de atribuir ódio e racismo aos que atacam suas bandeiras.
És jornalista e acadêmica, tiveste educação na França e viveste em um país árabe. Bem que poderias nos noticiar sobre a condição feminina no Islã, sobre a ablação do clitóris e infibulação da vagina, sobre o sigheh e a condenação à morte dos homossexuais no Irã. Teu depoimento, como mulher independente, seria uma bela contribuição ao debate.
Somos todos ouvidos, Zélia, eu e meus leitores. Também podes publicar neste blog, em espaço confortável, em vez de postar mensagens telegráficas em páginas alheias.
Ou, mais perto no tempo, o ilustre prêmio Nobel Günther Grass. Ex-membro da Waffen-SS é verdade, mas ninguém é perfeito. Ainda há pouco, Grass se solidarizava com Ahmadnejad, em suas pretensões de varrer Israel do mapa.
Vocês, comunistas, não conseguiram conquistar a Europa com o marxismo e querem destruí-la agora com o islamismo. Suponho que votas no PT, não? Petistas é que gostam - na falta de argumentos - de atribuir ódio e racismo aos que atacam suas bandeiras.
És jornalista e acadêmica, tiveste educação na França e viveste em um país árabe. Bem que poderias nos noticiar sobre a condição feminina no Islã, sobre a ablação do clitóris e infibulação da vagina, sobre o sigheh e a condenação à morte dos homossexuais no Irã. Teu depoimento, como mulher independente, seria uma bela contribuição ao debate.
Somos todos ouvidos, Zélia, eu e meus leitores. Também podes publicar neste blog, em espaço confortável, em vez de postar mensagens telegráficas em páginas alheias.
28 de setembro de 2012
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