Não restará na noite uma só estrela.
Não restará a noite.Morrerei e comigo irá a soma
Do intolerável universo.Apagarei medalhas e pirâmides,
Os continentes e os rostos.
Apagarei a acumulação do passado.
Farei da história pó, do pó o pó.
Estou a olhar o último poente.
Oiço o último pássaro.
Lego o nada a ninguém.
Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"
Calma pessoal,
nenhum petista se matou (ainda). Qualquer insinuação maliciosa como esta deve
ser evitada. Afinal, não devemos querer o pior para nenhum semelhante nosso.
Essa é a regra. Só depois dela vem as exceções, como aquela que João Paulo Cunha
poderia estar pensando em “apagar todas as luzes” conforme a epígrafe de Jorge
Luis Borges.
Para início de
conversa, de todos os defeitos que têm João Paulo, aquele que foi o 3º homem na
sucessão presidencial por ter sido Presidente da Câmara dos Deputados, nenhum
deles indica nele uma tendência anticristã, ou anti-católica de ser um suicida
em potencial. Essa frase, confesso, está cheia de problemas, mas como o João
Paulo não foi visto em nenhuma igreja, e tampouco alguém viu um padre a lhe
visitar nos últimos dias, podemos retirar a conotação de potencial pecado
cristão em relação a esse corrupto e ladrão do erário. Ele claramente não indica
que vá se suicidar depois da condenação por goleada no STF. Não é do seu feitio.
Lembro-me de que em um 24 de agosto, lá em 2005, pensei que o Lula, apanhado
como chefe da quadrilha, poderia pensar em se matar. Superestimei demais o Lula
– ele é incapaz de ato como esse. Morre roubando, mas não se mata. Ainda tinha a
opção da Itália para onde sua mulher, Marisa Letícia, a inútil, pensava
em se mandar.
Voltando ao João Paulo, ademais, ainda nem está claro
para que tipo de prisão ele irá. Talvez ele esteja ainda cogitando uma prisão
especial, afinal ele é um líder petista. Dependendo do confronto com a realidade
prisional brasileira ele até poderia tentar o suicídio. Morto politicamente ele
já está, salvo grande engano.
Na foto acima é
mostrada uma cela de prisão de segurança máxima e de conforto e humanidade
mínimos do Rio Grande do Sul. Zero Hora, talvez apiedada dos seus antigos heróis
petistas, mostra em reportagem o inferno que é a prisão de Charqueadas no Rio
Grande do Sul, a qual bem poderia ser a imagem das prisões brasileiras. Tento
ver João Paulo em uma delas e não consigo. Aliás, os políticos nunca deram
grande atenção para as prisões em que um dia eles poderiam ir parar, não é
mesmo? Talvez por isso essa problemática tenha sido varrida do seu pensamento.
Por outro lado, sabemos como é o Brasil e qual é a probabilidade de um político,
em especial um campeão da ética, como um político petista, vir a cumprir sua
longa pena de reclusão em regime fechado. Os petistas suavizaram as penas de
seus colegas sempre que puderam. Chegaram até a fazer uma lei para livrar os
mensaleiros como João Paulo Cunha.
Mas o tema do
suicídio de políticos não deixa de ser interessante. Tivemos o caso célebre de
Getúlio Vargas, cometido em um 24 de agosto de 1954. Faz tempo. No Japão, às
vezes, temos notícia que um político por não poder agüentar a desonra se matou.
Mas no nosso caso brasileiro moderno, pelo menos, isso é algo impensável. Você
consegue imaginar o João Paulo Cunha se matando? Eu não consigo – o homem ainda
quer continuar deputado apesar de Art. do Regimento da Câmara dizer que
perderá o mandato deputado condenado em sentença transitada em julgado
– o caso da sentença do STF. Essa sentença aguarda apenas sua publicação e
promulgação. João Paulo tem tempo de repensar tudo isso.
Mas e os outros
João Paulos? Já imaginaram o Delúbio e o José Dirceu com aquele pijama com que
foram brindados em reportagem do Le Monde Diplomatique (quem diria?)? Suicídio
para essa gente nem pensar; são arrogantes demais, pensam ter poder demais.
É
claro que no caso deles é cedo ainda. Mas já dá para eles irem pensando no
serviço do Hotel das Grades, 5 estrelas. Acostumados que ainda estão com o do
bom e do melhor, reclamarão muito da comida, do sol quadrado, das companhias de
ladrões de galinhas, dos traficantes e tarados de todos os títulos, e daquela
sensação desagradável de não haver por perto outros políticos, de preferência de
outros partidos, e nenhum jornalista amigão.
Na lista abaixo
estão alguns suicidas célebres. Alguns se mataram por amor; outros pela causa
que abraçaram; outros ainda em vista da derrota política e militar. Ressalto o
caso do casal Stefan Zweig, que se mataram em Petrópolis, Rio de Janeiro, longe
de sua Áustria querida invadida por Adolph Hitler. Na lista não estão os samurai
que praticaram o harakiri, nem consta o político que se deu um tiro na
boca à vista de todos ao vivo na TV.
Getúlio Vargas,
Kurt Cobain, Ernest Hemingway, Ana C. Cesar, Reinaldo Arenas, Jacqueline Kennedy
Onassis, Aristóteles, Roland Barthes, Jean Michel Basquiat, Walter Benjamin,
Cleópatra, Florbela Espanca, Patrícia Galvão, Pagu, Gogol, Adolf Hitler, Akira
Kurosawa, Virgínia Woolf, Stefan Sweig, Anna Karenina e Romeu e Julieta
(personagens), David Foster Wallace, Pedro Nava.
Do último, o
escritor Pedro Nava, eu me lembro bem como foi: "cansei de viver",
disse ele em sua carta suicida.
Por falar nisso,
Lula se veria em apuros para redigir uma carta suicida. Precisaria de um
suicide ghost-writer, nada comparável à Carta Testamento de Getúlio,
hoje repousando em pedra na Praça da Alfândega em Porto Alegre.
Já pensaram os
petistas escrevendo "Saímos da vida para entrar na História? Não. Ficaria melhor
assim:
"Entramos na
História para cair na vida"!
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