Ator fala de filmes, Siegel, Leone e seu apoio a Mitt Romney em entrevista ao 'Estado'
Para se encontrar com Clint Eastwood, o repórter transpõe os portões da Warner. O estúdio localiza-se em Culver City e a primeira surpresa é que, lá fora, com exceção de um pôster gigantesco do up coming Man of Steel (Superman), todas as imagens nas paredes são de séries de TV. A entrevista não se realiza no bangalô da Malpaso, a empresa produtora de Eastwood, abrigada na Warner. O encontro ocorre num estúdio no qual foram montadas duas mesas. Cada uma delas reunirá cinco jornalista vindos de diferentes partes do mundo - e o entrevistado.
Clint chega. Alto, magro e rijo. Elegante. Fala manso. Responde sobre tudo - o novo filme, no qual é só ator (Curvas da Vida estreia dia 23 de novembro), o apoio a Mitt Romney (ele ainda não fez encenação sobre a cadeira vazia de Barack Obama) e também Sergio Leone e Don Siegel.
AP
'Tento ser coerente e defender minhas ideias', diz
O senhor havia anunciado que iria se concentrar na direção e não atuaria mais. O que o fez aceitar Curvas da Vida?
Robert Lorenz tem trabalhado comigo nos últimos anos como produtor associado. Há tempos ele sonhava com sua estreia na direção. Surgiu essa história sobre o velho olheiro de um time de beisebol. Ajudei-o a formatar o projeto, acompanhei a escritura do roteiro. O personagem ficou muito próximo de mim. Robert passou a vê-lo como uma extensão de mim e eu próprio me sentia confortável nos seus tênis. Foi assim que voltei a atuar.
É um longo caminho desde que o senhor começou, aqui mesmo na Warner, nos anos 1950. Dois diretores foram decisivos na sua evolução, Don Siegel e Sergio Leone. Foram seus mestres?
Seu personagem em Curvas da Vida está ficando surdo e tem problemas com as filha. Ele fica na contracorrente das invenções tecnológicas. Não é um ataque à juventude?
Você quer me dizer que o filme é reacionário? Fale com Robert (Lorenz). Embora o jovem disponha hoje de mais ferramentas, isso não significa que saiba mais, conheça mais nem que esteja mais preparado para a vida. O conflito de Curvas da Vida é entre pai e filha, mas também é entre esse homem que está ficando surdo e necessita de ajuda para ‘ouvir’ o som da jogada. É o som que lhe diz quem é o grande jogador. O jovem, com seu computador, não tem tempo para o ouvido. Não sou contra a técnica, seria absurdo, só acho que ela não é soberana. Acima da técnica existem inteligência, sensibilidade, humanidade. Não foi a técnica que fez a grandeza de Sergio (Leone) e Don (Siegel), mas o uso que eles fizeram dela.
Existe um culto ao senhor, mas na França surgiu um livro (Clint Fucking Eastwood) que contesta o mito. Diz que só os filmes não explicam sua fama. Critica o machismo. O que pensa disso?
Não li o livro e, nesta quadra da minha vida, nem tenho tempo para isso. O que sei é que ninguém chega à posição em que estou mantendo minha independência na indústria e sendo uma unanimidade. Você é uma unanimidade? Com esses cabelos brancos, eu diria, mesmo sem conhecê-lo, que não. Quando se tenta agradar a todo mundo, não se agrada a ninguém, muito menos a nós mesmos. Provavelmente vão contestar muitas de minhas escolhas. Nunca quis ser uma unanimidade. Houve uma época em que as feministas adoravam me odiar. Nunca mudei para agradá-las. O que tento é ser coerente e defender minhas ideias sobre o cinema e o mundo. Acredite, é bem difícil.
O senhor tem apoiado a candidatura de Mitt Romney à Presidência dos EUA. Por quê?
Não quero ser ofensivo com (Barack) Obama, mas com ele a América e o mundo andam à deriva. Gostem ou não as pessoas no exterior, a América representa o poderio militar e econômico. Não pode se vergar. As políticas de Obama são sociais. Muita intervenção do Estado para o meu gosto. Sou contra o intervencionismo. Detesto quando o estúdio vem me dizer o que tenho de fazer. Venho de uma família que passou dificuldades, até fome, na depressão dos anos 1930. Meu pai nunca esperou que o governo viesse nos salvar. Ele deu duro e nos ensinou a nunca depender dos outros. Um país é como uma casa. Precisamos de uma boa limpeza e quem pode fazê-la é Romney.
31 de outubro de 2012
Luiz Carlos Merten / LOS ANGELES
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