"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CONTRATO DO GOVERNO DO DF COM CINGAPURA GANHA ARES DE ESCÂNDALO

Contrato do DF com Cingapura ganha ares de escândalo e bancada rompe com Agnelo (PT)


No mínimo estranho, Agnelo ir até o “paraíso fiscal” de Cingapura assinar contrato de consultoria com a Jurong
O contrato entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e a empresa de Cingapura Jurong Consultants, para pensar Brasília nos próximos 50 anos, está tomando a forma de escândalo diante da determinação do governador Agnelo Queiroz (PT) de não explicar a iniciativa.
Não explica, não mostra o contrato e chama de obscurantistas os parlamentares da bancada federal do DF que cobram transparência em relação ao assunto.
Essa postura já produziu a ruptura de oito parlamentares da bancada federal com o governador. Um duríssimo discurso do senador e ex-governador, Cristóvam Buarque (PDT), com endosso do senador Rodrigo Rollemberg (PSB), dá ao episódio tintas de crise e deixa o governador numa situação muito desconfortável.
“O governador do Distrito Federal, além de não ter mostrado a que veio, em dois anos, tem uma única obra, que herdou do governador Arruda e que está levando adiante quase dobrando o custo de construção e equipamentos”, acusou o habitualmente comedido Cristóvam.
Ele se refere ao estádio mané Garrincha. O senador diz ter ouvido do próprio Agnelo, quando em campanha, considerar o estádio “uma megalomania superfaturada pelo Arruda”.
O mais grave, porém, é a desfaçatez com que Agnelo negou acesso ao contrato, a ponto de Cristóvam e Rollemberg terem obtido uma cópia no Facebook, redigida em inglês. E mais: ele foi examinado e aprovado no tempo recorde de 24 horas, por diversas instâncias do governo, em…inglês.
Os senadores verificaram que a tradução juramentada do documento é de 23 de outubro, posterior à aprovação e assinatura do contrato. Pior: depois dessa informação, o documento reaparece com a data da tradução como sendo 20 de setembro.
O contrato, segundo Cristóvam, foi redigido pela empresa de Cingapura e, ao que tudo indica, a proposta também teve a sua iniciativa. Ou seja, o governo de Brasília sequer teria proposta e aceitou a que lhe foi feita. No contrato a empresa é desobrigada de compatibilizar o projeto que vier a apresentar com a legislação brasileira.
Qual o mistério que explica uma atitude tão defensiva de um governo em relação à sua própria bancada de apoio? Para Cristóvam, uma das hipóteses é a dificuldade em sustentar as obras do estádio Mané Garrincha. O contrato, por autorizar a venda de terrenos do GDF, produziria recursos que supririam o caixa do governo. O que explicaria a urgência oculta no documento que dispensou a licitação.
A irritação do senador é tanta que ele chegou a enaltecer as privatizações ocorridas no governo Fernando Henrique Cardoso, crítica preferida de seu partido, o PDT, e do PT.
“ O Partido dos Trabalhadores critica o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por privatizar as telecomunicações, mas elas deram um salto, ou seja foi um processo de ganho para a Nação brasileira. Aqui está se privatizando o propósito, o projeto, com desperdício de milhões de reais com a venda de terrenos em momento ruim para esse tipo de operação”, disse.
Positivo até aqui é a constatação de que o bancada federal do DF finalmente se cansou de assistir à paralisia da Câmara Distrital, cujo silêncio sobre o assunto é de uma eloquência cúmplice.

31 de outubro de 2012
João Bosco Rabello - O Estado de São Paulo


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