A Dança dos Sete Lenços é uma boa imagem para simbolizar o que o PT fez com a CPI do Cachoeira — Ou: A Grande Vergonha
A CPI do Cachoeira vai chegando ao fim como começou: uma farsa! Nunca foi para valer. E é assim por vontade dos governistas. Lula e José Dirceu, a partir de informações fragmentadas e falsas, acreditavam que poderiam destruir a “mídia” — que é como eles chamam a imprensa independente — e a oposição. Num primeiro momento, a imprensa surfou também na onda (os arquivos não me deixam mentir) e simplesmente ignorava o óbvio: a empresa que estava no centro do escândalo chamava-se… DELTA! Demóstenes Torres, justamente punido, era apenas a personagem vistosa que desviava o escândalo do seu centro. Escrevi um post a respeito no dia 8 de abril de 2012. Reproduzo um trecho.
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A memória seletiva de certos setores da imprensa faz lembrar, às vezes, a seletividade dos que estão vazando informações sobre a Operação Monte Carlo. A construtora Delta, a empresa que mais toca obras do PAC, aparece, segundo relatório da Polícia Federal, atuando para o esquema de Carlinhos Cachoeira.
Delta, Delta, Delta… Esse nome não nos é estranho, certo?
Como lembrei aqui no dia 2 de dezembro do ano passado, o dono da empresa, Fernando Cavendish, é um homem que tem amigos poderosos. Dois dos mais destacados são Sérgio Cabral, governador do Rio, e José Dirceu, o “chefe de quadrilha” (segundo a PGR). No Rio, a Delta toca obras de R$ 600 milhões. Pelo menos R$ 164 milhões desse total foram contratados sem licitação. Naquele trágico fim de semana de junho, em que um acidente de helicóptero matou sete pessoas no litoral baiano, incluindo a nora de Cabral, o governador integrava o grupo que estava na Bahia para comemorar o aniversário de Cavendish. Cabral viajou àquele estado no avião particular de outro potentado do setor privado: Eike Batista (se quiser mais sobre o mundo cabralino, clique aqui). Adiante.
Cavendish cresceu muito durante o governo petista. Teve um “consultor” de peso: Dirceu. No começo de maio do ano passado, VEJA publicou uma reportagem sobre a meteórica ascensão de Cavendish.
(…)
Voltei
Pois é, caras e caros! Os mais de quatro milhões de acessos a este blog neste mês de outubro fazem sentido, né? Não dá pra negar que este bloguinho costuma ver com mais aguda vista, como diria Padre Vieira, a natureza do jogo. Quando escrevi o post acima, a Delta era tratada como uma personagem lateral do imbróglio. Afinal, o objetivo de Lula e Dirceu, que forçaram a mão para criar a CPI, era pegar a imprensa, a oposição e o então senador Demóstenes Torres — que foi justamente cassado à esteira da lambança.
Foi justamente cassado, mas que se reitere: era um homem de Cachoeira numa das atividades do contraventor: o jogo do bicho e seus derivados, que só às vezes se cruzavam com o imbróglio Delta. Esse era outro departamento. Cachoeira era o representante da empreiteira no Centro-Oeste. A empresa tinha outros braços, bem mais produtivos e ricos. Ficou, desde sempre, no ar a pergunta: quem era o Cachoeira de Cavendish no Rio de Janeiro, por exemplo?
Vejam lá o meu texto de 8 de abril. Ali eu já lembrava parte das folias de Cabral com Cavensih, e a dança dos Sete Lenços em Paris ainda não havia se tornado pública. Também havia certo esforço para ignorar o óbvio: Cavendish era, por excelência, o “homem do PAC”…
Com o apoio da Al Qaeda eletrônica, o PT fez o diabo para ignorar Cavendish. Queria era levar a imprensa para o banco dos réus. Não conseguiu. Mas os que se organizaram para investigar efetivamente o escândalo também não lograram sucesso.
Termina como farsa
O que começou como farsa como farsa termina. É espantoso que essa comissão chegue ao fim sem investigar a Delta e seu laranjal. Cavendish fez aparição relâmpago na CPI munido de habeas corpus para não se incriminar, é verdade, mas isso não impediria a comissão, se quisesse, de apurar a lambanças de sua empresa.
O problema é que ninguém queria investigar nada. Como ficou claro desde o início, o objetivo era jogar na fogueira a imprensa independente e a oposição. O alvo? Ora, deixemos que Rui Falcão, este notável pensador, o revele. Transcrevo trecho de sua fala num vídeo tornado público no dia 11 de abril:
“A bancada do PT na Câmara e no Senado defende uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão. É preciso que a sociedade organizada, movimentos populares, partidos políticos comprometidos com a luta contra a corrupção como é o PT, se mobilizem para impedir a operação abafa e para desvendar todo o esquema montado por esses criminosos, falsos moralistas que se diziam defensores da moral e dos bons costumes”.
Viram só? Ele deixava claro que o objetivo da CPI era, na verdade, criar uma onda que embaralhasse o julgamento do mensalão no Supremo. Não se esqueçam de o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, era outro dos alvos do petismo. E vejam ali a asquerosa convocação aos “movimentos populares” e à “sociedade organizada” para impedir o que ela chamava de “operação abafa”.
A CPI do Cachoeira sempre teve uma esmagadora maioria de governistas. Como poderia a minoria organizar a “operação abafa”?
A fala de Falcão era, obviamente, uma farsa. O PT e os partidos aliados comandam, agora, o enterro da CPI sem investigar Cavendish, sem investigar a Delta, sem investigar a atuação da empreiteira no Rio, sem investigar a atuação da empreiteira no próprio governo federal. De quebra, ainda assistimos, no meio do caminho, à frenética movimentação de setores do governo para tentar vender a empreiteira-problema ao grupo JBS — de que, ora, ora, é sócio o BNDES. O troço só não prosperou porque começou a beirar a pornografia. Não que eles repudiem esse estágio da degradação. É que tudo ficou muito na vista, e, como escreveu Camões, o dano poderia ser maior do que o perigo.
Eis aí… Cachoeira tem de pagar pelos seus crimes, é claro! Já está pagando. Mas ele, é evidente, era apenas um peixe de médio porte. Os petistas deram um jeito de acabar com a CPI para preservar os tubarões, a si mesmos e a seus aliados. É evidente que deveria ser oferecido ao bicheiro o benefício da delação premiada. Não sei se ele toparia. Ele tem motivos para ter medo. A turma não brinca em serviço.
31 de outubro de 2012
Reinaldo Azevedo, Veja online
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