"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

REPRESSÃO TERIA TORTURADO CERCA DE 100 PRESOS EM PETRÓPOLIS

Ex-agente conta à Comissão da Verdade detalhes sobre a “Casa da Morte”  


Imóvel onde ficava a casa da morte em Petrópolis
Foto: O Globo - 22/06/2012 / Custódio Coimbra
Imóvel onde ficava a casa da morte em PetrópolisO Globo - 22/06/2012 / Custódio Coimbra

RIO - Em depoimento de oito horas à Comissão da Verdade, o sargento reformado Marival Dias Chaves do Canto, de 65 anos, ex-agente dos órgãos de informação do regime militar, disse nesta terça-feira que cerca de 100 presos políticos teriam passado pelo aparelho clandestino mantido pelo Centro de Informações do Exército (CIE) em Petrópolis, chamado na literatura dos anos de chumbo de "Casa da Morte". Marival confirmou a versão de que os presos, levados de diversas regiões do Brasil, eram assassinados depois de prestar depoimentos sob tortura.


Entre as vítimas da casa, Marival citou os nomes dos universitários Fernando Santa Cruz e Eduardo Collier, que desapareceram em 1974, no Rio, quando militavam na Ação Popular Marxista Leninista (APML). No dia 23 de fevereiro, Fernando saiu da casa do seu irmão Marcelo para um encontro com os amigos e nunca mais foi visto. Ele teria sido capturado no apartamento de Eduardo. No depoimento, Marival disse que os estudantes foram presos por uma equipe do CIE liderada pelo então major Freddie Perdigão Pereira e, posteriormente, mortos em Petrópolis.
 
Marival, que deverá prestar novos depoimentos à comissão, abordando temas específicos, já é considerado um dos mais importantes testemunhos da guerra suja travada nos porões do regime. Ele serviu, como analista de informações, no Destacamento de Operações de Informações de São Paulo (DOI-SP), chefiado pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, e no CIE. Em entrevista à revista VEJA, há 20 anos, contou que ouviu de outros agentes, que estiveram na casa de Petrópolis, que os cadáveres eram esquartejados.
 
O sargento não confirmou as revelações feitas pelo ex-delegado capixaba Cláudio Guerra, de que alguns corpos foram incinerados na usina de cana Carahyba, em Campos dos Goytacazes. Admitiu, porém, a ligação de Guerra com Freddie Perdigão, considerado um dos mais frios e ativos torturadores do regime.
 
O depoimento também fez referências à morte de três dirigentes do PCdoB em 16 de dezembro de 1976, em São Paulo, no episódio que ficou conhecido como o Massacre da Lapa, em alusão ao bairro onde ocorreu. Agentes da repressão atacaram a casa onde o comitê central do partido fazia uma reunião secreta, matando os dirigentes João Baptista Franco Drummond, Ângelo Arroyo e Pedro Pomar. Marival disse que a ação não foi um ato isolado, mas uma política de Estado para eliminar o PCdoB do mapa.
 
O ex-agente confirmou, ainda, a existência de outra casa clandestina do CIE em Itapevi, São Paulo, e forneceu detalhes da chamada Operação Medianeira, uma emboscada comandada pelo CIE em Medianeira, cidade no sudoeste do Paraná, para atrair, no dia 11 de julho de 1974, um grupo argentino de militantes de esquerda e guerrilheiros, com a morte de sete deles.

31 de outubro de 2012
 Chico Otavio, O Globo

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