Que tal? Fica combinado assim: Lula foi o vencedor da eleição para prefeito da cidade de São Paulo. Lula, e não Fernando Haddad que nunca disputara eleição.
O PT? Não, gente - Lula. Porque o PT reagiu à arriscada proposta de Lula de ir à luta com um candidato jovem e desconhecido dos paulistanos. Lula foi obrigado a arquivar os bons modos: espancou a mesa e forçou o PT a se render à sua vontade.
Os paulistanos? Não. Lula. Por que o que teria sido deles se Lula, o esperto, não lhes tivesse proporcionado a oportunidade de votar em Haddad?
Fica combinado também que Lula nada tem a ver com as derrotas colhidas pelos candidatos que apoiou em outras cidades. Nem mesmo por aqueles que Lula se empenhou de fato em eleger - gravou mensagens para os programas de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, pontificou em comícios e passeatas, e repetiu a dose ao perceber que a primeira não fora suficiente.
Vocês imaginam o quê de Lula? Que ele é milagreiro para sair por aí acendendo todo tipo de poste?
Lula acreditou que Vanessa Grazziotin, candidata do PC do B a prefeita de Manaus, não era um poste. E não era.
Foi vereadora, deputada estadual e federal. E há dois anos se elegeu senadora derrotando Arthur Virgílio, na época o todo-poderoso líder do PSDB no Senado.
O governador do Estado apoiava Vanessa. Eduardo Braga (PMDB), líder do governo Dilma no Senado, também. Fora os principais grupos econômicos e de comunicação locais.
Lula deve ter pensado: por que não pegar carona numa vitória quase certa para assim poder humilhar Arthur?
Foi direto e franco. No bairro mais popular de Manaus, disse que estava ali menos por Vanessa e mais por Arthur. Acusou Arthur de um dia tê-lo ameaçado com uma surra. E pediu para que ninguém votasse nele. Pediu, não, cobrou, exigiu, ordenou. Os manauaras não gostaram. Não gostam de quem quer mandar neles.
A cidade havia dado a Arthur a maioria dos seus votos para reconduzi-lo ao Senado. Vanessa acabara eleita com os votos do interior.
Manaus emitia todos os sinais de que votaria de novo em Arthur. Por gostar dele. E como forma de reparação.
Lula despachou Dilma para lá há uma semana. Deu chabu. Vanessa subiu somente um pontinho nas pesquisas de intenção de voto. Arthur ganhou, ontem, com folga.
A pedido de Lula que fora a Salvador duas vezes, Dilma desembarcou por lá para barrar a eleição de ACM Neto (DEM). E atacou-o sem dó nem piedade.
Ao lado de Nelson Pelegrino, o candidato do PT em apuros, Dilma bateu da cintura para baixo:
- Aqui não pode ter um governinho.
E insistiu:
- Aqui não pode ter um governo pequenininho.
ACM Neto mede menos de 1m65cm.
Pesquisas para consumo interno da campanha do candidato do PT mostraram que os moradores de Salvador se irritaram com o que ouviram de Dilma.
Mexer com uma característica física do adversário? O que é isso, meu irmão? E se ACM Neto tivesse respondido: Precisamos em Brasília de um governo mais enxuto, mais leve, mais ágil...?
A maior lambança promovida pelo PT nesta eleição foi no Recife, cidade que governa há quase 12 anos.
Como o prefeito era mal avaliado, Lula indicou o senador Humberto Costa para concorrer à vaga dele. Esqueceu-se de combinar com Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB.
Na véspera de anunciar que a candidatura de Humberto teria seu patrocínio, Lula recebeu um telefonema de Eduardo:
- Presidente, estou ligando da sala onde meu avô, em 1964, recebeu dois militares, um deles armado com uma metralhadora, quando vieram depô-lo.
O avô de Eduardo, Miguel Arraes, era governador de Pernambuco. Acabou preso e exilado.
Eduardo continuou o que queria dizer a Lula.
- Naquela noite, havia nove crianças dormindo aqui no Palácio. Meu avô disse aos militares: "Vocês me prenderão e me levarão daqui. Mas eu não renunciarei ao mandato de governador de Pernambuco".
Lula entendeu o recado e ainda argumentou com Eduardo que o candidato poderia não ser Humberto. Mas Eduardo sabia que o PT reservara espaço no programa do radialista Geraldo Freire para Lula anunciar no dia seguinte a candidatura de Humberto.
O PSB de Eduardo lançou candidato a prefeito e o elegeu no primeiro turno.
Lula fez cara de paisagem. Eduardo fez cara de aspirante a candidato a presidente da República.
O desastre do PT no Recife, Salvador, Fortaleza, Diadema e Campinas, e a vitória do PSDB em Manaus não significam que Lula e Dilma estejam em baixa nas cidades onde apostaram o grosso de suas fichas.
Longe disso.
Significa apenas o que o marqueteiro mais iniciante já sabe de cor: eleição municipal é um fenômeno local, local, local.
As pessoas votam em quem possa governar bem o lugar onde elas vivem.
No caso de São Paulo, cansadas de Serra, elas o trocaram por Russomano.
Serra bateu o recorde da rejeição - 52%. Nem Maluf jamais foi tão rejeitado.
Mais tarde, decepcionadas com Russomano, aderiram a Haddad. Uma fatia enorme se absteve ou votou nulo e em branco.
Não foi por Lula que elegeram Haddad. Basicamente, foi por elas mesmas.
29 de outubro de 2012
ricardo noblat, Globo Online
O PT? Não, gente - Lula. Porque o PT reagiu à arriscada proposta de Lula de ir à luta com um candidato jovem e desconhecido dos paulistanos. Lula foi obrigado a arquivar os bons modos: espancou a mesa e forçou o PT a se render à sua vontade.
Os paulistanos? Não. Lula. Por que o que teria sido deles se Lula, o esperto, não lhes tivesse proporcionado a oportunidade de votar em Haddad?
Foto: Daniel Teixeira/AE
Fica combinado também que Lula nada tem a ver com as derrotas colhidas pelos candidatos que apoiou em outras cidades. Nem mesmo por aqueles que Lula se empenhou de fato em eleger - gravou mensagens para os programas de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, pontificou em comícios e passeatas, e repetiu a dose ao perceber que a primeira não fora suficiente.
Vocês imaginam o quê de Lula? Que ele é milagreiro para sair por aí acendendo todo tipo de poste?
Lula acreditou que Vanessa Grazziotin, candidata do PC do B a prefeita de Manaus, não era um poste. E não era.
Foi vereadora, deputada estadual e federal. E há dois anos se elegeu senadora derrotando Arthur Virgílio, na época o todo-poderoso líder do PSDB no Senado.
O governador do Estado apoiava Vanessa. Eduardo Braga (PMDB), líder do governo Dilma no Senado, também. Fora os principais grupos econômicos e de comunicação locais.
Lula deve ter pensado: por que não pegar carona numa vitória quase certa para assim poder humilhar Arthur?
Foi direto e franco. No bairro mais popular de Manaus, disse que estava ali menos por Vanessa e mais por Arthur. Acusou Arthur de um dia tê-lo ameaçado com uma surra. E pediu para que ninguém votasse nele. Pediu, não, cobrou, exigiu, ordenou. Os manauaras não gostaram. Não gostam de quem quer mandar neles.
A cidade havia dado a Arthur a maioria dos seus votos para reconduzi-lo ao Senado. Vanessa acabara eleita com os votos do interior.
Manaus emitia todos os sinais de que votaria de novo em Arthur. Por gostar dele. E como forma de reparação.
Lula despachou Dilma para lá há uma semana. Deu chabu. Vanessa subiu somente um pontinho nas pesquisas de intenção de voto. Arthur ganhou, ontem, com folga.
A pedido de Lula que fora a Salvador duas vezes, Dilma desembarcou por lá para barrar a eleição de ACM Neto (DEM). E atacou-o sem dó nem piedade.
Ao lado de Nelson Pelegrino, o candidato do PT em apuros, Dilma bateu da cintura para baixo:
- Aqui não pode ter um governinho.
E insistiu:
- Aqui não pode ter um governo pequenininho.
ACM Neto mede menos de 1m65cm.
Pesquisas para consumo interno da campanha do candidato do PT mostraram que os moradores de Salvador se irritaram com o que ouviram de Dilma.
Mexer com uma característica física do adversário? O que é isso, meu irmão? E se ACM Neto tivesse respondido: Precisamos em Brasília de um governo mais enxuto, mais leve, mais ágil...?
A maior lambança promovida pelo PT nesta eleição foi no Recife, cidade que governa há quase 12 anos.
Como o prefeito era mal avaliado, Lula indicou o senador Humberto Costa para concorrer à vaga dele. Esqueceu-se de combinar com Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB.
Na véspera de anunciar que a candidatura de Humberto teria seu patrocínio, Lula recebeu um telefonema de Eduardo:
- Presidente, estou ligando da sala onde meu avô, em 1964, recebeu dois militares, um deles armado com uma metralhadora, quando vieram depô-lo.
O avô de Eduardo, Miguel Arraes, era governador de Pernambuco. Acabou preso e exilado.
Eduardo continuou o que queria dizer a Lula.
- Naquela noite, havia nove crianças dormindo aqui no Palácio. Meu avô disse aos militares: "Vocês me prenderão e me levarão daqui. Mas eu não renunciarei ao mandato de governador de Pernambuco".
Lula entendeu o recado e ainda argumentou com Eduardo que o candidato poderia não ser Humberto. Mas Eduardo sabia que o PT reservara espaço no programa do radialista Geraldo Freire para Lula anunciar no dia seguinte a candidatura de Humberto.
O PSB de Eduardo lançou candidato a prefeito e o elegeu no primeiro turno.
Lula fez cara de paisagem. Eduardo fez cara de aspirante a candidato a presidente da República.
O desastre do PT no Recife, Salvador, Fortaleza, Diadema e Campinas, e a vitória do PSDB em Manaus não significam que Lula e Dilma estejam em baixa nas cidades onde apostaram o grosso de suas fichas.
Longe disso.
Significa apenas o que o marqueteiro mais iniciante já sabe de cor: eleição municipal é um fenômeno local, local, local.
As pessoas votam em quem possa governar bem o lugar onde elas vivem.
No caso de São Paulo, cansadas de Serra, elas o trocaram por Russomano.
Serra bateu o recorde da rejeição - 52%. Nem Maluf jamais foi tão rejeitado.
Mais tarde, decepcionadas com Russomano, aderiram a Haddad. Uma fatia enorme se absteve ou votou nulo e em branco.
Não foi por Lula que elegeram Haddad. Basicamente, foi por elas mesmas.
29 de outubro de 2012
ricardo noblat, Globo Online
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